[title]
Em 1994, estreou a primeira adaptação aos ecrãs de um livro de Anne Rice (1941-2021), escritora-norte americana de estilo gótico – e também erótico – autora da série de romances The Vampire Chronicles. Falamos de Entrevista com o Vampiro, o primeiro livro da saga, que originou a popular longa-metragem com o mesmo nome, que juntou Brad Pitt e Tom Cruise nos papéis principais, como os vampiros Louis e Lestat. A seu lado, tinham Antonio Banderas, Christian Slater e uma muito jovem Kirsten Dunst.
Também na década de 1990, séries e filmes estrangeiros demoravam uns tempos a estrear em Portugal e é mais ou menos isso que acontece com a série Interview with the Vampire, que chega a Portugal através do canal AMC (com o título em inglês) cerca de ano e meio após a estreia nos EUA, já com uma segunda temporada confirmada (prevista para Outubro no mercado norte-americano). Mas quem são as versões vampirescas de Brad Pitt e Tom Cruise, em 2024?
Os personagens interpretados pelos dois actores que em 1994 viviam pontos altos das suas carreiras (na verdade, ainda hoje se mantêm no topo) têm novas nuances. Para o papel de Louis – Brad Pitt – foi escolhido Jacob Anderson, de quem muitos se lembram no papel de Grey Worm da série A Guerra dos Tronos; enquanto que Tom Cruise foi “substituído” no papel de Lestat pelo australiano Sam Reid, menos popular por cá, mas que participou, por exemplo, no filme Os Crimes de Limehouse (2016), disponível em Portugal no catálogo da Filmin. E o enredo, apesar de manter o essencial da história original, afasta-se no tempo e na forma criada por Rice. No livro – e no filme, que lhe é mais fiel e que tem argumento adaptado pela própria escritora – Louis e Lestat conhecem-se na Nova Orleães do ano de 1791; na série, esse encontro acontece em 1910, na mesma geografia.
Voltando um pouco atrás, no livro e no filme, Louis de Pointe du Lac é dono de uma plantação a sul de Nova Orleães e proprietário de escravos, mas aos 24 anos vive um luto profundo na sequência da morte da filha. Ao mesmo tempo, um vampiro com 200 anos, Lestat, que procura companhia, morde um quase inanimado Louis, convertendo-o em vampiro e oferecendo-lhe uma vida eterna nas sombras. Já nesta série, Louis é também um homem de sucesso, só que aqui tudo muda: não tem escravos, até porque a escravatura já tinha sido abolida nos Estados Unidos, mas é um homem negro que gere a herança do pai, numa sociedade muito marcada pelo racismo. Por outro lado, na série, a entrevista com o vampiro que dá o nome à história decorre no Dubai e não em São Francisco. É aí que, 110 anos depois, Louis conta a sua história ao jornalista Molloy, interpretado por Eric Bogosian (Succession), um personagem mais velho do que na história original, que no filme dos anos 90 era um jovem jornalista (Christian Slater) em busca de histórias pessoais. Aqui é um jornalista de investigação, vencedor de dois Pulitzer, mas em declínio, embora com uma personalidade bastante mais sagaz. No filme, foi inesquecível a prestação de Kristen Dunst, que com apenas 11 anos vestiu o papel da vampira Claudia (que tem apenas cinco anos no livro). A rapariga compõe este trio familiar de sugadores de sangue e é agora interpretada por Bailey Bass (Avatar: O Caminho da Água), que na vida real tem 20 anos e na série é uma adolescente. O papel do vampiro Armand, que coube a António Banderas no filme, foi parar às mãos do actor britânico Assad Zaman (Hotel Portofino).
E se actualmente temos universos infindáveis na ficção audiovisual (da Marvel, da DC, Star Wars…), a AMC acrescenta mais um: o Universo Imortal, o selo das adaptações que a AMC Networks está a desenvolver, adaptando romances da saga The Vampire Chronicles (composta por 13 livros) e também da trilogia Lives of the Mayfair Witches. Como há crossovers entre as duas séries de romances, trata-se efectivamente do mesmo universo. A série Mayfair Witches estreou em Janeiro passado e o lançamento em Portugal está marcado para 27 de Maio. De resto, a AMC revelou que as duas produções foram as mais bem sucedidas de sempre no canal de subscrição AMC+, o que é um feito já que é esta a casa mãe de The Walking Dead.
Recuando novamente à adaptação do livro para a longa-metragem, o filme foi realizado por Neil Jordan, cineasta que pouco tempo antes tinha ganhado o Óscar pelo argumento do filme Jogo de Lágrimas (1992). Mas as nomeações aos Óscares que a produção arrecadou foram pela direcção de arte e também pela banda sonora, composta por Elliot Goldenthal, o homem que mais tarde leva a estatueta nessa categoria por Frida (2002). Puxando para a frente, a série Interview with the Vampire também tem uma ficha técnica com créditos firmados na indústria. O criador é Rolin Jones, produtor de séries como Erva, O Exorcista ou Perry Mason e os primeiros dois episódios (que serão emitidos numa sessão dupla no dia de estreia na AMC) são realizados por Alan Taylor, que já esteve atrás da câmara em séries como A Guerra dos Tronos, Mad Men, Os Sopranos ou O Sexo e a Cidade. A banda sonora é assinada por Daniel Hart, compositor das bandas sonoras dos filmes Lenda do Cavaleiro Verde ou Peter Pan & Wendy (2023).
A série, cuja primeira temporada tem sete episódios, é acompanhada pelo podcast oficial The AMC+ Interview with the Vampire Podcast, onde Naomi Ekperigin, comediante e entusiasta de vampiros, conduz entrevistas à equipa desta produção, que partilha histórias dos bastidores, e também a especialistas em terror e na obra de Anne Rice.
AMC. Estreia a 22 de Abril às 22.10 (T1)
Siga o novo canal da Time Out Lisboa no Whatsapp
+ Ainda não vimos tudo de António-Pedro Vasconcelos: vem aí uma série póstuma