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A partir desta sexta-feira, a brincadeira transforma-se em dança no LU.CA. Aproveitámos uma pausa entre ensaios para falar com Bruno Alexandre, criador de A Caminhada.
Bruno Alexandre é filho único. Quer isto dizer que, como tantos outros meninos que não têm irmãos, brincou muitas vezes sozinho no quarto – no quarto que deixava de ser quarto para se transformar noutra coisa qualquer, que a imaginação, na hora da brincadeira, não tem limites nem se importa com paredes. Agora, o bailarino, coreógrafo e professor de dança estreia-se num espectáculo infanto-juvenil que pode não ter sido inspirado na sua própria infância, mas que tem certamente algumas das suas memórias lá dentro. Chama-se A Caminhada e chega ao LU.CA - Teatro Luís de Camões já esta sexta-feira.
“Começou tudo com a ideia de silêncio. O que é o silêncio para as crianças?”, questiona Bruno entre ensaios. “Do silêncio passou para outra coisa. Passou para o pensamento – e daí para o imaginário, e daí para a brincadeira”, descreve.
Em palco, ao longo de cerca de meia hora, os bailarinos Francisco Rolo e Ana Jezabel brincam ao som da música e sonoplastia de Miguel Lucas Mendes, que de vez em quando o público poderá reconhecer de desenhos animados ou jogos tradicionais. Francisco e Ana brincam, ora sozinhos, ora um com o outro. Mas nunca como se fossem crianças. “Não nos interessa infantilizar o corpo, mas sim mostrar o corpo lúdico.” Os protagonistas fazem então uma dança puzzle, uma dança telecomandada, uma dança telepática ou uma dança pedra-papel-ou-tesoura. Brincadeiras transformadas em dança, que serão entendidas pelo público de diferentes formas, consoante a experiência de cada um. “Para quem é esta peça? Para miúdos? E onde andarão os pais ou os adultos que vão ver com os mais novos? A Caminhada também fala para eles”, garante o coreógrafo.
A peça que percorre os jogos, sons e imagens da infância, arranca com uma tempestade, afinal a brincadeira “é o lugar mais insubmisso, por isso é que acaba quase sempre com os pais a dizer que no fim é preciso arrumar tudo”, explica Bruno Alexandre. O nome do espectáculo que pode ser visto até ao dia 2 de Fevereiro, vem precisamente da ideia de que há um percurso nisto de brincar. “A cada passo estamos mais perto de algo que desconhecemos. Há sempre uma transgressão, não há regras na brincadeira. Distorce-se o tempo e o espaço.”
Vamos então pôr-nos a caminho. Sem saber onde acabará.
LU.CA - Teatro Luís de Camões. Calçada da Ajuda, 80 (Belém). Sáb e Dom 16.30 (repete a 1 e 2 de Fev). 3€-7€.