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As Kumbia Queers, grupo argentino de tropi-punk, estão a subverter a heteronormatividade da cumbia na América Latina. Em Lisboa, estreiam-se esta quarta com um concerto no Musicbox. Falámos com elas.
Em 2007, começaram por tocar versões cumbia de Madonna e de bandas como Black Sabbath, The Cure ou Ramones – o resultado está no disco de estreia, Cumbia Nena. Hoje, tornaram-se um símbolo de resistência LGBT+ e feminista na Argentina, a mostrar que a cumbia também pode – e deve – ser queer.
As Kumbia Queers, banda de Juana Chang, Pilar Arrese, Inés Laurenceana, Patricia Petrafesa e Rocktavia, conheceram-se em 2006 num festival em Buenos Aires, na Argentina, onde tocaram com outros projectos, a solo e em grupo. Juntaram-se com vontade de fazer “coisas lindas”, respondem Juana e Pilar por e-mail, e há 12 anos que são inseparáveis.
Em Maio, lançaram por uma editora independente La Obscuridade Bailable, o quinto disco de originais, e o pretexto para esta digressão pela Europa, com perto de 50 concertos em vários países e uma paragem estratégica esta quarta no Musicbox – uma estreia em Lisboa e no país. “Há muito tempo que queremos conhecer Portugal”, escrevem.
A vontade vai traduzir-se num concerto “enérgico”, prometem, ao estilo do novo álbum. “Venham com roupas leves e vontade de se divertir.” Com dez canções, La Obscuridade Bailable é o disco mais “dançável” até agora do grupo. “É um som novo, estamos muito orgulhosas”, confessam. “A ideia [do disco] é resistir através da dança. As letras das canções são mais directas e, se quiseres, mais românticas do que nos álbuns anteriores.”
“Ella No Quiere Hablar Comigo”, por exemplo, é sobre uma namorada que deixou de responder. “Ellos Dicen Mierda” – “Ellos dicen mierda y nosotras ámen” – é talvez a canção mais política do disco, uma carapuça que serve na perfeição para uma Argentina em que o aborto continua a ser proibido por lei.
“Tentamos defender aquilo em que acreditamos e uma forma de vida diferente, cooperativa. Defendemos coisas básicas, como o nosso direito a decidir sobre a nossa sexualidade, sobre a nossa barriga, sobre as nossas vidas.”
A resistência surge de uma maneira divertida, debaixo desta camada de tropi-punk, um género inventado pela banda. “É uma definição que inventámos porque não queríamos em nenhum momento apoderar-nos da cumbia”, explicam. “Queríamos fazer ritmos um pouco tropicais e misturá-los com o punk-rock que gostamos e tocamos.”
As letras falam sobre “um pouco de tudo”. “O bom que acontece, o mal que acontece, as lésbicas…” Por serem um grupo de cinco mulheres lésbicas têm enfrentado preconceitos desde o início. “Na Argentina e no resto do mundo”, contam. “Mas continuamos a enfrentá-los e a desafiá-los.”
Quarta, 22h30, no Musicbox. Rua Nova do Carvalho, 24 (Cais do Sodré). 8€.