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A dançar com a luz, Lua Carreira simula uma explosão atómica de emoções

Com João Pedro Fonseca e Carincur, a bailarina apresenta uma peça em que a luz é controlada por sensores de movimentos. Para ver esta sexta-feira e sábado, no Mono Lisboa.

Beatriz Magalhães
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Beatriz Magalhães
Jornalista
Black Sun
João BicoBlack Sun
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Não estamos numa grande sala de espectáculos, nem nada que se pareça. À nossa frente, está um palco pequeno, redondo e preto, fragmentado e desnivelado. Quando a música começa a soar, três pessoas sobem ao palco. Nas suas mãos, carregam telemóveis e sensores que controlam as luzes. E à medida que movimentam, lentamente, as pernas, os braços e as mãos, o fumo branco começa a encher a sala e o jogo de luzes capta a nossa atenção. Numa performance que carrega em si um lado, em partes, cinematográfico, Lua Carreira quer mostrar-nos como funciona uma explosão atómica. Mas não uma explosão atómica a sério, antes uma que assenta nas emoções e nas relações interpessoais, bem como na relação entre as pessoas e a tecnologia.

Esta sexta-feira e sábado, 24 e 25 de Janeiro, Black Sun ocupa o espaço do Mono Lisboa. A criação do espectáculo é assinada pela bailarina Lua Carreira, que estudou na Escola de Dança do Conservatório Nacional de Portugal, tendo já integrado o Ballet Junior de Genéve, na Suíça, e a companhia italiana EgriBianco Danza. Nos últimos anos, tem vindo a apresentar outras performances e, desta vez, deixou que o seu fascínio pela tecnologia tomasse conta. 

“[A peça] surgiu com os sensores e paralelamente com o meu entusiasmo de perceber como é que funciona uma explosão atómica. Daí, partiu uma pesquisa para perceber o que é que os sensores de movimento podiam trazer para um projecto artístico. Ao mesmo tempo, veio uma investigação mais filosófica e teórica que partiu de uma questão da física e de filosofias ligadas à tecnologia, até que cheguei ao ponto de perceber onde é que isto se conectava”, diz-nos Lua Carreira, depois de um ensaio.

Black Sun
João BicoBlack Sun

Ao longo do processo, que durou cerca de um ano e meio, foram surgindo outras questões, que acabaram por se tornar centrais. “Levou-me a um lugar para falar de relações humanas e biotecnológicas, porque somos três performers em palco, em contacto com ferramentas tecnológicas, que comunicam tanto da parte da máquina como entre os corpos, através da emoção”, continua. É desta maneira que a bailarina espera, em palco, chegar a um ponto de “transcendência” e de colapso, mas não do ponto de vista da auto-destruição, mas sim da auto-superação. 

Lua já tinha trabalhado num outro projecto que envolvia a utilização de sensores de movimentos, só que sozinha. Agora, decidiu juntar-se a João Pedro Fonseca, que fez o desenho de luz, e Carincur, encarregue da composição musical, os dois directores do ZABRA – Centro de Pesquisa Pós-Humana, onde, desde 2023, a bailarina tem estado a fazer uma residência artística. Os três trabalharam então em conjunto para chegar à peça final – “Foi um processo bastante irregular, porque eu tinha a necessidade de querer ver como é que as coisas funcionavam. De como é que a luz estava a reagir ao som e à música e como é que a luz estava a reagir aos sensores, e a música aos sensores.” Por outro lado, “houve um período muito grande que passou por conversar, debater e discutir sobre o que é que era, de facto, o tema da peça. E acho que isso foi 70%, 80% do processo, muito mais do que propriamente a parte técnica e de pôr as mãos na massa”, explica.

Black Sun
João BicoBlack Sun

Para Carincur, a parte da coreografia foi importante para construir a música. “Houve todo um trabalho de composição prévio e depois houve, com a Lua, um trabalho sobre perceber como tocar aquela música com os sensores. E também houve descoberta, mas o movimento foi muito importante. E todo aquele tempo a conversar também foi importante, mais do que a parte teórica, porque para mim o mais difícil era perceber a questão da bomba atómica e foi muito mais fácil construir o som quando percebi que, no fundo, estávamos a falar sobre relações, sejam humanas ou mais que humanas, e ciclos emocionais, que são transversais a toda a gente.”

No que toca ao desenho de luz, João Pedro Fonseca acredita que aqui o que é mais interessante é o facto de não se desvincular a criação artística daquilo que é a identidade de cada um dos três performers. “A luz vai percorrer todos os estados emocionais e sensoriais. E também há uma componente que vive tanto do movimento como das várias marcações muito significativas ao longo da peça, que já estão destinadas a acontecer. Porque é exactamente como na vida – há certos destinos que não dá para evitar. E esta peça tem destinos inevitáveis.” 

Black Sun
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Com Black Sun, Lua Carreira espera que o público também mergulhe nesta atmosfera que os três criam em palco. “É uma das coisas que tenho interesse em explorar. Ao cruzar as várias áreas, perceber como é que uma experiência que pode ser mais interior, que vem de uma zona mais imaterial, pode atrair e absorver o público para que ela seja tão física, imersiva e sensorial como é para mim”, remata. 

Depois de estrearem no Mono Lisboa, Lua, João Pedro e Carincur voltam a apresentar a performance a 11 e 12 de Abril no ZABRA, que costuma acolher vários tipos de projectos artísticos ao longo do ano. 

Mono Lisboa (Anjos). 24-25 Jan. Sex-Sáb 20.00. 10,70€

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