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A dias de fechar, directora do Museu Berardo é mantida às escuras. “Não tenho conhecimento de nada”

Em 2023, o CCB volta a assumir o controlo do centro de exposições do Museu Berardo, mas, a duas semanas do fim do ano, ainda não há programação. Esta semana, editam um catálogo científico, sem polémicas.

Joana Moreira
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Joana Moreira
Jornalista
Museu Berardo
©DR
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"O que faria sentido agora era que houvesse uma apresentação das colecções de uma maneira diferente, se for [para abrir] um novo museu, e é provável que esteja alguém a pensar nisso, mas eu não tenho conhecimento de nada", diz a directora do Museu Colecção Berardo, Rita Lougares, à Time Out. O espaço onde se encontra este importante acervo internacional dedicado à história da arte do século XX regressa, a 1 de Janeiro de 2023, às mãos da administração da Fundação Centro Cultural de Belém (CCB).

A 11 dias de terminar o ano ainda não há programação anunciada para o espaço, conhecido como módulo 3, e são parcas as informações sobre o que ali acontecerá. A transição da colecção para o novo museu (cujo nome deverá ser Museu de Arte Contemporânea de Belém) "até pode ser que esteja [a ser feita]", admite Rita Lougares. "Mas eu não tenho conhecimento." A responsável está "sem saber o que vai acontecer em Janeiro". "Sabemos que é o CCB que vai tomar conta do espaço, mas ainda não sabemos, ainda não tivemos reuniões com ninguém para ver como é que vai ser o futuro. Não sei muito bem o que é que vai acontecer. A única coisa que espero que aconteça é que, dada a importância desta colecção, que ela possa continuar a ser vista e exibida, e a ter fruição pública. Isso é a minha maior expectativa e é o meu maior desejo é que isso continue assim", sublinha. 

A partir do início do próximo ano, cessa a vigência do protocolo denunciado a 26 de Maio – um acordo que remonta a 2006, data em que o Estado negociou com o empresário José Berardo a instalação da sua colecção de arte moderna e contemporânea em Belém, bem como a abertura do Museu Colecção Berardo, onde esta se tem mantido nos últimos 15 anos. A intenção do Governo é criar no CCB um novo museu de arte contemporânea que junte, além da Colecção Berardo, a Colecção Ellipse e parte da Colecção de Arte Contemporânea do Estado.

A directora do Museu Berardo nota que "há uma intenção do CCB em que ficarão com toda a equipa. É a única expectativa que as pessoas têm, é que mantenham os seus postos de trabalho". O Museu Berardo tem uma equipa de mais de 20 funcionários. "No meu caso é um bocadinho diferente, sou directora artística, não sei qual é a intenção do CCB nesse sentido", revela sobre a sua continuidade.

Para já, é uma incógnita como estará o museu no início do novo ano, se aberto ao público e em que moldes. Uma coisa é certa: estender as actuais exposições temporárias não é possível. "As exposições temporárias vão acabar no dia 31 e vamos começar a desmanchá-las no dia 3 de Janeiro", alerta Lougares. "São exposições que já estendi mais do que deveriam estar", aludindo ao facto de as mostras "Debaixo da Pele", do pintor Miguel Telles da Gama, e "Abstracto, Branco, Tóxico e Volátil", antologia da obra de Julião Sarmento, terem sido alargadas para seis meses, ao invés dos habituais quatro. 

Já sobre as exposições que estavam a ser preparadas para o Berardo há vários meses, ainda antes de o Governo decidir extinguir a Fundação José Berardo e o museu como o conhecemos, Rita Lougares admite à Time Out a possibilidade de "as fazer posteriormente" no futuro museu. 

Um catálogo científico, sem polémicas

Esta terça-feira, é publicado Coleção Berardo 1909–2019, um catálogo comemorativo dos 15 anos do museu. O livro inclui 523 imagens de obras, e ensaios de Pedro Lapa (editor do catálogo e ex-director do museu), Giulia Lamoni, Jean François Chougnet (também ex-director do museu) e Rita Lougares, bem como uma entrevista ao coleccionador José Berardo. A directora do Museu Berardo adverte que este era um catálogo há muito desejado e que, pese embora a data em que é publicado, "não é para fechar um ciclo, é para mostrar o real valor da colecção".

Catálogo Coleção Berardo
DRCatálogo "Coleção Berardo 1909-2019"

Acontecimentos recentes, como a denúncia do protocolo com o Estado ou a intenção do Governo em extinguir a Fundação Berardo não estão refletidos nas 800 páginas do catálogo. Rita Lougares justifica-o: "o catálogo é um catálogo técnico, científico, é quase como um compêndio de história de arte do séc. XX. Deixámos essa questão um bocadinho de lado, que é uma questão muito mais jurídica do que propriamente científica." 

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