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Cumpriu-se a tradição. O calendário de desfiles da 62.ª da Modalisboa – mais uma a decorrer no Pátio da Galé – arrancou esta sexta-feira com o concurso Sangue Novo, que desde 1996 impulsiona novos talentos na área do design de moda. Numa apresentação colectiva, com seis finalistas a apresentarem micro colecções, Isza, assinatura criativa de Ana Luísa Marinho, sagrou-se vencedora. Entrou na passerelle com um guarda-roupa de inspiração distópica, saiu com um prémio de 4000€ e com um mestrado em Florença, no valor de 24.000€.
A dúvida perante o desconhecido voltou a revelar-se um bom ponto de partida para uma jovem em busca de inspiração. Na incerteza em relação ao rumo da indústria – mas também do próprio génio criativo – encontrou um terreno fértil para criar seis coordenados. As malhas moldáveis impressas em 3D foram as estrelas, num jogo entre rigidez e fluidez, que contou ainda com assimetrias e peças cropped com capuz.
"Estive dois meses sem saber que caminho deveria seguir. Comecei a reflectir sobre o que sou, o que quero enquanto marca, o que quero fazer diferente. E a verdade é que o meu foco está nesta exploração da impressão 3D para a moda. Diria que 80% da colecção foi feita numa impressora e essa é uma parte de investigação que gosto muito na moda, mais tecnológica e de inovação", explicou a jovem designer à Time Out. A técnica permite, nomeadamente, produzir vestuário sem utilização de água, enquanto o aumento do consumo energético pode ser compensado com o recurso a fontes renováveis.
A curiosidade em torno da relação entre moda e tecnologia valeu a Ana Luísa – de 23 anos, natural de Braga e licenciada pelo Modatex, no Porto – o principal prémio da competição. Próxima paragem? Florença, mais propriamente o Istituto Europeo di Design, onde fará um mestrado no valor de 24.000€. A este prémio, junta-se uma bolsa de 4000€ e a mentoria da ModaLisboa.
Bárbara Atanásio: a neo-nostálgica ficou com o segundo lugar
Isza não foi a única vencedora do concurso. Bárbara Atanásio, de 26 anos, conquistou o segundo prémio mais importante da tarde – uma bolsa de 1750€ e um estágio de três meses na RDD Textiles, um gigante têxtil com sede em Barcelos. A remistura voltou defini-la enquanto designer. O impulso nostálgico fê-la criar uma linguagem com referências grunge, de streetwear, com materiais de alfaiataria e repleta de camadas.
"A sustentabilidade é muito importante para mim, o styling é muito importante para mim, a colaboração com outros designers é muito importante para mim. Há coisas que sei que quero mesmo fazer. E nesta colecção, quis ter peças de qualidade, que durem e não sejam para deitar fora daqui a uma semana. E trabalhar tecidos que já existem também é muito importante para mim", resume Atanásio.
Bárbara pode não ter bilhete para Florença, mas no currículo já regista passagens pelos estúdios de Marques'Almeida e de Valentim Quaresma. Num futuro próximo, quer explorar possibilidades de colaboração com outros criativos. "Acho que a moda tem futuro, mas acho que precisamos de peças mais sustentáveis, de ir buscar peças antigas, de reutilizar, readaptar, não desperdiçar, reiventar as nossas próprias coisas", conclui.
O concurso Sangue Novo marcou o arranque de mais uma edição da ModaLisboa, esta sexta-feira. No mesmo dia, desfilam os criadores Luís Carvalho e o veterano Dino Alves, no Terreiro do Paço. Durante o fim-de-semana, são esperados nomes como Carlos Gil, Buzina, Gonçalo Peixoto, Luís Buchinho, Béhen e Valentim Quaresma.
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