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A era dos revivalismos na TV: “A saudade é um factor emocional fortíssimo”

São muitas as produções que recuperam velhos enredos que ficaram para a história da televisão. Em Portugal, chegou mais uma ronda de ‘Morangos com Açúcar’, mas ‘Frasier’ também renasceu das cinzas.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Morangos com Açúcar
©Ana António BentoMadalena Aragão, na rodagem de 'Morangos com Açúcar'
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Há um velho ditado que nos alerta para nunca regressarmos ao sítio onde já fomos felizes. Mas há quem arrisque fintar o destino e são cada vez mais as produções para televisão que resgatam velhas histórias do passado, numa tentativa de continuar a monetizar sucessos de outrora. E, pelo caminho, satisfazer aquele sentimento que os portugueses tomam como seu. Em Portugal, o destaque vai para Morangos com Açúcar, produção juvenil emitida entre 2003 e 2012 e que a TVI decidiu trazer de volta aos ecrãs, em parceria com a Prime Video, desta vez num formato mais aproximado da série do que da telenovela. Outro dos regressos mais aguardados é o de Frasier, série emitida entre 1993 e 2004 pela NBC – e em Portugal pela TVI e pela SIC Mulher – cuja continuação chegou ao catálogo da SkyShowtime em Novembro.

A verdade é que vivemos numa era de revivalismos, desenhados em vários moldes. Por um lado, temos os chamados reboots (baseados numa história original) ou remakes (mais fiéis ao original) de séries ou filmes, do qual podem ser exemplos séries como McGuyver ou Charmed. Por outro temos spin-offs como Gen V, recentemente saído de The Boys, ou como os títulos até agora extraídos do universo The Walking Dead; e temos também os chamados revivals, ou seja, continuações de enredos que tinham ficado para trás. Um dos casos de maior sucesso nos últimos anos foi a série Cobra Kai, que continua a história da franquia Momento da Verdade (Karate Kid). O mesmo aconteceu com o filme American Gigolo (1980), que ganhou uma série com o mesmo nome, estreada no ano passado na SkyShowtime, e com uma acção que arranca 15 anos após o final da longa-metragem de Paul Schrader; e com Ou Tudo ou Nada (1997), comédia britânica que agora continua em formato série na Disney+, um quarto de século depois. Fora do cinema, também temos revivalismos de séries icónicas, como é o caso de And Just Like That (HBO Max), que dá sequência a O Sexo e a Cidade; de Quantum Leap (SYFY), a continuação da série homónima com Scott Bakula; ou de That 90’s Show (Netflix), sitcom que avançou para o Verão de 1995, após o sucesso da que a precedeu, That 70’s Show.

Morangos com Açúcar
©DRTiago Castro, em Morangos com Açúcar (2023)

Morangos 2.0

Passou mais de uma década desde que foi emitido o último episódio de Morangos com Açúcar, a mais popular série juvenil da televisão portuguesa. Goste-se ou não, marcou uma geração de adolescentes e chegaram novas turmas ao Colégio da Barra, o estabelecimento de ensino por onde passaram nove temporadas de morangada. A estreia da nova temporada aconteceu a 23 de Outubro, num formato mais aproximado das séries, em particular no número de episódios. Em vez de 200 e muitos, a temporada tem apenas dez. E estão confirmadas as temporadas dois e três, que serão lançadas, respectivamente, em Janeiro e antes do Verão de 2024.

Mas qual será a principal razão para a aposta em revivalismos no audiovisual? À Time Out, o director-geral da produtora Plural Entertainment, Piet-Hein Bakker, responde com algo que nos é particularmente familiar: “A saudade é um factor emocional fortíssimo.” Sobre a importância que este regresso dos Morangos com Açúcar tem para os actores e também telespectadores, defende que a série atingiu “o status de fenómeno”, numa altura em que “os miúdos tinham de ver tudo para acompanhar as conversas do dia seguinte na escola”. Hoje, e como a série foi também para o streaming da Prime Video – uma parceria que permitiu um maior investimento nos meios de produção –, já não é preciso ir a correr para a frente do televisor. Mas Bakker oferece alguns exemplos do que acredita poder gerar interesse em acompanhar a nova série, ligados ao tal factor saudade: “Como evoluíram os personagens antigos dos Morangos? O Crómio [Tiago Castro] como director do colégio; o Simão [Pedro Teixeira], médico e pai; a Soraia [Rita Pereira], mãe e presidente da Associação dos Pais; e a Diana [Sara Barradas], inspectora da PJ? Como estará o mítico Colégio da Barra? E o mais importante: quem e como são os alunos da turma de 2023, e qual o enredo da história?”. Há também uma nova geração para conquistar e o director-geral da Plural Entertainment sublinha que “a densidade necessária de storytelling para cativar a atenção dos mais novos actualmente é muito diferente do que há 20 anos”, numa altura em que “é tudo mais rápido, consequência das redes sociais e do binge watching”.

O actor Tiago Castro, que está de regresso no papel de Valter Matoso, mais conhecido pela alcunha “Crómio”, é agora um dos actores da velha guarda e à Time Out também fala em saudade. “É inequívoco que existe um saudosismo dos tempos em que a vida não passava por um ecrã de telemóvel. Em que as famílias se juntavam para ver programas em conjunto e as crianças ainda brincavam na rua. Não é por acaso que as polaroids, os vinis e as máquinas de fotos instantâneas regressaram em força. O real e o virtual deixaram de se conseguir distinguir um do outro e estas referências do audiovisual remetem-nos para esse tempo que tantas saudades nos traz”, diz. Para o actor, “num tempo em que a oferta de conteúdos parece infinita, é preciso algo com uma identidade tão forte como os Morangos para prender a atenção das pessoas”. “Como actor sinto-me privilegiado por poder redescobrir um personagem vinte anos mais velho. Mais ainda por poder fazê-lo numa produção que se equipara, no meu entender, às melhores no mundo dentro do seu estilo”, defende Tiago Castro, destacando a nova linguagem dos Morangos, “diferente e actual”. O actor mostra-se convicto de que “será um sucesso nacional e internacional”. Os fãs que quiserem recordar as temporadas passadas podem ver todas na plataforma TVI Player na Prime Video.

Saladas e ovos mexidos

Kelsey Grammer
©Pamela Littky/Paramount+TM & CBS Studios Inc.Kelsey Grammer em Frasier (2023).

Por falar nos melhores do mundo... Frasier Crane (Kelsey Grammer), personagem principal da série que era, ela própria, um spin-off de Cheers – Aquele Bar (1982-1993), está de volta com novos episódios. Frasier não é um regresso qualquer. É uma das séries mais premiadas de sempre e, se só contarmos os Emmys, segue em terceiro lugar com 37 galardões, apenas atrás do programa Saturday Night Live (com 82) e A Guerra dos Tronos (59). O tema que marca o final de cada episódio também está de regresso: “Tossed Salads and Scrambled Eggs” (saladas temperadas e ovos mexidos), composto por Bruce Miller, com letra de Darryl Phinnessee e interpretado pelo próprio Grammer. São dez os novos episódios de Frasier, onde o psiquiatra troca Seattle (onde vivia e era anfitrião de um programa de rádio) por Boston, a cidade de Cheers, onde tudo começou. Infelizmente, o elenco não contará com David Hyde Pierce, que não se mostrou interessado em regressar ao papel de Niles Crane, o irmão mais novo do protagonista. Deixará algumas saudades.

Artigo publicado originalmente na edição de Outono de 2023 da Time Out Lisboa e adaptado para publicação online.

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