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Foi há dois anos que assistimos à inauguração de um museu na Bobadela em honra da Manela. Isto a propósito da estreia de Não há duas sem três, o monólogo todo-o-terreno de Catarina Requeijo, que fecha a sua mais popular trilogia para a infância. Mas tudo começou muito antes, em 2012, com A Grande Corrida, um espectáculo encomendado e produzido pela Fundação Calouste Gulbenkian, na sequência de um concurso de histórias lançado às escolas – o título da peça é, aliás, ideia dos então alunos da Escola Básica de São João de Deus. Agora, a encenadora e actriz pede às famílias que rumem até ao LU.CA e, entre 2 e 24 de Março, fiquem a par de todas as peripécias da grande automobilista e da sua família insólita, 25 minutos de cada vez.
“Não era para ser uma trilogia. Era para ser um espectáculo único. Foi um convite da Gulbenkian, através da Maria de Assis, para encenar algumas das histórias vencedoras do Pequeno Grande C, um concurso lançado às escolas para escreverem um álbum ilustrado”, recorda Catarina Requeijo, que tem dedicado grande parte da sua vida a criar para os mais novos. “Eu, a Inês Barahona [que co-assina o texto] e a Maria João Castelo [que assina a concepção plástica] partimos d’A Grande Corrida. Mantivemos a estrutura, mas demos uma grande volta no texto e na evolução da história, que não acabava como acaba, e fomos buscar a personagem da Manela a uma outra que também tinha sido premiada.”
A protagonista e os seus feitos ao volante têm feito furor desde o primeiro espectáculo, que por ser portátil e exigir poucos recursos técnicos, tal como os que se seguiram, nunca parou de rodar pelo país. Para Catarina, tem sido uma aventura muito gratificante: a encenadora e actriz é assumidamente fã de levar objectos artísticos a locais onde, normalmente, eles não chegam, como adros de igrejas, conventos, praças, bibliotecas e jardins, por exemplo. “Depois da estreia d’A Grande Corrida, fizemos uma série de apresentações, que correram relativamente bem, e a Susana Menezes [actual directora artística do LU.CA, que na altura dirigia o serviço educativo do Teatro Maria Matos] convidou-me para criar um produto parecido, que fosse também portátil, curtinho, e desse para toda a família.”
Se n’A Grande Corrida, ficamos a conhecer a Manela, na segunda peça da trilogia dedicada à família Querido temos oportunidade de ver tudo a acontecer pela perspectiva da tia Odete e do tio Alfredo, que ouviram a sua sobrinha ganhar o Grande Prémio da Batalha através da rádio, na sequência de não um mas vários acidentes. E foi tal o sucesso de Muita Tralha, Pouca Tralha que Susana Menezes, já no LU.CA, voltou a convidar a encenadora para fazer das suas. “Mas foi tudo passo a passo. Quando surgiu o terceiro convite, pensámos primeiro no título, Não há duas sem três”, partilha Requeijo, que admite não saber se de facto as aventuras da família Querido chegaram ao fim, ou se ainda há qualquer coisa para contar. “São personagens que, entretanto, foram fazendo parte da minha vida, e às vezes estou na rua em situações insólitas e começo a imaginá-los.”
Queridos são os Querido
É fácil perceber por que é que a família Querido é tão querida por grandes e pequenos. Entre uma corredora de automóveis cheia de garra, uma tia orgulhosa e um tio rezingão, não há falta de peripécias nem de rimas divertidas. E, claro, é preciso muita graça e agilidade para interpretar tantas personagens como Catarina Requeijo se propõe a fazer. Bem nos lembramos de a ver fazer uso de uma estante e de toda a tralha lá acumulada, dos rolos de cabelo às fotografias a sépia, para evocar os incidentes e imprevistos de um dia na feira popular. À laia de magia, sem darmos por ela, transforma uma roda de bicicleta numa montanha-russa, num carrossel e até numa mesa de piquenique.
“Todos os espectáculos têm um refrão. O do primeiro é “Desistir nem pensar, com a Manela é sempre a andar”. Estreou há 12 anos e para aí há três fui fazê-lo à Margem Sul, acho que no Seixal. No final disseram-me que havia uma família que queria falar comigo. Era uma família com dois filhos: a mais velha tinha visto o espectáculo pela primeira vez quando era pequena e eles tinham adoptado o lema da Manela como lema da família. Entretanto tinham tido outro filho, que nasceu a ouvir o refrão constantemente e a achar que a Manela era uma invenção da família, então decidiram mostrar ao mais pequeno que a Manela existia”, conta Catarina, com orgulho na voz. “Esta história ficou-me assim guardada, porque é comovente.”
No regresso ao LU.CA, onde terá oportunidade de apresentar as três criações de seguida, com sessões para escolas durante a semana e para famílias ao fim-de-semana, Catarina Requeijo não só espera encontrar caras conhecidas, com ligação afectiva às personagens, como chegar a novas famílias. “Não temos previstas conversas, porque os espectáculos são relativamente simples. Não deixam grandes enigmas”, avança a encenadora e actriz, que se inspirou em histórias para crianças, como O Macaco do Rabo Cortado e A Formiga e a Neve, que repetem muitas vezes a mesma coisa e vão acrescentando sempre mais. “As histórias que perduram no tempo têm muitas vezes uma estrutura de repetição e acumulação. Foi o que tentámos fazer, incluindo o refrão, que os espectadores vão decorando e repetindo. Neste caso, o objectivo é simples: que seja agradável para o público. E acho que os espectáculos são, mesmo, de divertimento puro.”
LU.CA – Teatro Luís de Camões. ‘A Grande Corrida’: 2-10 Mar, Sáb 16.30, Dom 11.30/ 16.30. ‘Muita Tralha, Pouca Tralha’: 16-17 Mar, Sáb 16.30, Dom 11.30/ 16.30. ‘Não há duas sem três’: 23-24 Mar, Sáb 16.30, Dom 11.30/ 16.30. 3€-7€
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