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“Fuck the patriarchy!” Kendall Roy está em alta. Nas nuvens. Nenhuma substância ilícita alguma vez o havia levado tão alto – e ele bem foi procurando caminho, linha a linha. “Fuck the patriarchy!”, diz ele, um homem branco de meia-idade no topo da pirâmide social. Não há ironia. Não há sentido do ridículo. Sobra o egotismo. Kendall pensa que está somente a atacar Logan, patriarca da família Roy e rosto do escândalo que ele, o filho, fez rebentar no final da segunda temporada de Succession: o império de media, entretenimento e lazer Waystar Royco encobriu durante anos abusos sexuais e violações dos direitos humanos, entre outros crimes. Logan é “uma presença maligna, um fanfarrão e um mentiroso”, atirou Kendall em conferência de imprensa, garantindo estar na posse de provas cabais e que as iria entregar às autoridades judiciais. Kendall julga-se livre. Kendall julga-se do lado certo. Kendall julga-se woke. “Fuck the patriarchy!”, diz ele. Kendall julga que já ganhou. É de rir.
Succession regressa na segunda-feira, 18 de Outubro, para a muito antecipada terceira temporada, cuja estreia se atrasou um ano devido à pandemia. Nove episódios que nos vão acompanhar semanalmente na HBO até meados de Dezembro, e prometem resolver um dos mais palpitantes cliffhangers do streaming. Kendall apanhou o pai desprevenido, isso é certo, mas desse modo deu o tiro de partida para uma guerra civil familiar e empresarial, em público, relegando para segundo plano golpes palacianos, esquemas de bastidores, tricas. É uma jogada de alto risco que, num primeiro momento, obriga Logan e respectiva entourage a reagir, a porem-se num avião privado rumo a destinos sem acordo de extradição com os EUA e com acomodações de luxo para os receber. Mas só durante algum tempo, o suficiente para que Logan consiga medir a temperatura, sopesar exposição e influência, gritar com toda a gente, impor lealdades e definir uma estratégia. Logan não é homem para se esconder nem para fugir. Vai enfrentar este touro de frente.
A equipa do criador Jesse Armstrong continua inspirada nesta terceira temporada – talvez como em nenhuma das outras. O jogo de poder está ainda mais no fio da navalha. O resultado, ainda mais incerto. E, visto que as personagens já foram apresentadas em toda a sua nuance, calculismo e perversidade, o que agora sobe ao ecrã são os diálogos, ricos em imagens, graças e trocadilhos; as congeminações, as extorsões morais, a soberba, as hesitações e as negociações no osso. É tudo texto. Quase nada acontece. A cena mais comum é a que ilustra esta página: um conjunto de pessoas a conferenciar.
Kendall (Jeremy Strong) não precisa do pai para nada: é ele mesmo a sua némesis. Alienado, enredado, perdido, solitário na dança da vitória. Convencido de que vai conquistar aliados e a gestão da empresa. Pobre diabo. Os irmãos – Shiv (Sarah Snook, cada vez mais alinhada), Roman (Kieran Culkin, cada vez mais pérfido) e Connor (Alan Ruck, cada vez mais alheado, a querer impor-se como candidato à Casa Branca) – têm planos e aspirações próprias, além de resistirem à ideia de mandar o pai para a prisão. Logan (Brian Cox, cada vez mais imperial e impaciente) sente-se inatingível. O alvo é ele, mas ele trata sempre de pôr o ónus nos outros. É um maquinador e um instigador, e nesta terceira temporada vamos vê-lo em toda a sua esplendorosa capacidade de manipulação.
Gerri (J. Smith-Cameron), Karl (David Rasche) e Frank (Peter Friedman), os fiéis escudeiros da Waystar, mantêm-se no círculo próximo de Logan – mas são empurrados para a margem pela crescente presença de Shiv e Roman, apesar de formalmente manterem os mais altos cargos. E há três novas personagens, que são participações especiais: o investidor Josh Aaronson, que vai obrigar Logan e Kendall a encontrarem-se pela primeira vez após a denúncia pública (Adrien Brody); Lisa Arthur (Sanaa Lathan), como uma advogada estrela que tanto o pai como o filho querem contratar; e o antissocial Lukas Matsson, um guru da tecnologia (Alexander Skarsgård). No entanto, é com Tom Wambsgans (Matthew Macfadyen) e o primo Greg (Nicholas Braun) que nos voltaremos a identificar nesta comédia dramática, os frágeis outsiders que mal sabem onde haverão de se enfiar.
HBO. Seg (Estreia T3)
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