[title]
"Mares desconhecidos, aqui vamos nós!", diz um dos navegadores da peça A Grande Viagem de Magalhães, que estreia esta semana no Museu Nacional de Arqueologia. Embarcámos nesta aventura 500 anos depois da viagem de Circum-Navegação e voltámos do outro lado do mundo para contar.
“Parece que Deus se esqueceu de colocar terra neste mar sem fim...”, desabafa desesperado Fernão de Magalhães ao fim de três meses à deriva num oceano “tão azul, tão calmo” que baptiza de Pacífico. A tripulação vai cedendo ao escorbuto e as baixas somam-se. “Precisamos de avistar terra, senão estamos perdidos”, acrescenta um navegador já paranóico, que julga ver ilhas onde não estão mais do que rochas. Neste ponto, a peça para famílias A Grande Viagem de Magalhães está prestes a chegar às Filipinas, onde o herói morre na praia depois de uma batalha, numa cena dramática com um poema de Fernando Pessoa como música de fundo.
O novo espectáculo da companhia Foco Lunar, que estreia esta quinta, 24 de Outubro, para escolas, e que pode ser visto todos os domingos até Maio de 2020 no Museu Nacional de Arqueologia, acompanha esta aventura desde o início – a descida da costa africana, a chegada ao Brasil, a conquista da Terra do Fogo e a difícil travessia do estreito que ganhou o nome do navegador. Para sermos mais rigorosos, começa antes mesmo de Fernão de Magalhães partir de Sevilha em 1519: na primeira cena, ele tenta convencer o rei D. Manuel I a fazer esta grande viagem. O português recusa, Magalhães recorre a Espanha.
“Esta é a maior odisseia da história da humanidade. Dizem que só é comparável com a chegada do Homem à Lua, mas para mim só será comparável com a chegada do Homem a Marte”, diz o encenador e director artístico Vasco Letria, que ficou fascinado com esta figura da história portuguesa, que na época foi considerado um traidor. “Fernão de Magalhães foi o primeiro homem da globalização. E quem vê o espectáculo fica a gostar mais de ser português. A Grande Viagem de Magalhães fomenta um certo orgulho. A nossa história é muito bonita.”
A expedição marítima de três anos, neste espectáculo resume-se a uma hora – e a viagem que contou com centenas de navegadores divididos por cinco naus (Victoria, Santiago, San Antonio, Concepción e Trinidad, a única que regressou) tem na peça integrada nas comemorações oficiais do V centenário da Circum-Navegação apenas dois representantes, que vão interagindo com Fernão de Magalhães, interpretado por Rafael Diaz Costa. “É aquela coisa muito comum no teatro da parelha de dois actores, género Bucha e Estica. Aqui, um é a favor do capitão e o outro é contra, um será português e o outro espanhol”, explica Vasco Letria. No início e no final da peça, um deles transforma-se em Antonio Pigafetta, o escrivão que registou toda a viagem num diário e um dos únicos 18 sobreviventes. E durante o espectáculo, ambos vão encarnando outras figuras da viagem, como o gigante de cabelos compridos patagão ou o nativo das Filipinas com uma máscara tribal verde. Em cena, estará ainda outra figura que promete ser a favorita dos mais novos: o pinguim Magalhães, o primeiro da espécie a ser visto por um europeu.
Museu Nacional de Arqueologia, Mosteiro dos Jerónimos. Dom 16.00. 8€