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Fundada há precisamente 90 anos por Ole Kirk Kristiansen, a LEGO continua a ser uma aposta segura para os tempos livres, não só de crianças mas de muitos adultos com especial poder de encaixe. Prova disso é a LEGO Ideas, uma plataforma online que permite a qualquer pessoa submeter ideias para potenciais produtos da marca. Através de um processo de votação online, as ideias que atingirem os 10 mil apoiantes passam a uma segunda fase, na qual os especialistas da casa analisam a proposta. E é nesse ponto que se encontra a de Ezequiel Alabaça, um eléctrico de Lisboa feito ao pormenor por este engenheiro de software que nos contou tudo sobre o processo. Mas, entretanto, Ezequiel submeteu outra ideia, que também precisa de apoiantes: um marco do correio português.
Ezequiel criou um perfil na LEGO Ideas há dois anos para apoiar uma proposta que considerou merecer o seu voto. Na altura, não planeava submeter um projecto, mas não demorou muito tempo a mudar de ideias, o que acabou por acontecer em Fevereiro deste ano. “Para apresentar um projecto, é necessário ter em conta muitos factores, e para conseguir os votos necessários tem de ser realmente algo que se destaque e que tenha alguma possibilidade de ser vendido no mundo inteiro. Nunca fiz nenhuma construção a pensar na participação ao LEGO Ideas e nem sequer imaginava como poderia conseguir tantos votos não sendo um membro activo destas plataformas, fóruns, comunidades e exposições. O que fazia era mesmo para ficar em casa e somente para nos divertirmos”, começa por explicar à Time Out.
A ideia para o eléctrico surgiu numa animação stop motion em LEGO que fez para um concurso (sim, é um autodidacta dos sete ofícios, incluindo stop motion e piano). Nesse trabalho, uma personagem tinha de se deslocar para os treinos de futebol e Ezequiel – juntamente com as suas “miúdas”, que ajudam nas construções e animações – decidiu que a viagem poderia ser feita de eléctrico, numa tentativa de divulgar o meio de transporte internacionalmente. O projecto não chegou ao pódio do concurso, mas não só decidiram manter o eléctrico montado como lhe fizeram umas melhorias. Até que chegou o dia da decisão. “Num jantar de família, um pouco por brincadeira, lancei o desafio de submetermos o projecto [à LEGO Ideas] e trabalharmos na divulgação. Seria necessário planear uma estratégia de marketing e divulgação com folhetos, cartazes, redes sociais, etc. Como li há pouco tempo, 1% do esforço é para a criação do projecto, e os outros 99% para a divulgação. Sendo eu um membro recente da plataforma, não seria uma tarefa fácil conseguir os apoios/votos necessários”, recorda.
Moedas em vez de cartas
A verdade é que a tarefa foi superada, mas há outra ideia que Ezequiel submeteu e que ainda precisa de apoio, o tal mealheiro em LEGO, na forma de marco do correio português. Ezequiel explica: “O marco do correio surgiu porque queria que os miúdos tivessem um mealheiro original e aprendessem também a poupar. Um dia, ao passar por um marco de correio real pensei que seria o ideal, trocando as cartas por dinheiro. O desafio seria criar uma réplica em LEGO com as formas redondas que os caracterizam. Fiz algumas experiências, trabalhei os detalhes e fiquei satisfeito com o resultado final, com quase 25 cm de altura, que permite guardar moedas suficientes para comprar um conjunto de LEGO, espero eu [risos].” No site da LEGO Ideas, a contagem decrescente para o prazo final de apoio a este projecto é de 270 dias, mas apesar de termos tempo (cerca de nove meses) para voltar a apoiar Ezequiel, mas mais vale cedo do que tarde, para não esquecer.
E entretanto, será que Ezequiel vai submeter mais ideias? “Eu estou sempre a pensar em mais, mas criar um projecto diferenciador dá muito trabalho e estou envolvido em tantas actividades que não me deixam muito tempo livre. Também estou na expectativa em relação à decisão final da LEGO sobre o eléctrico de Lisboa, e estou a trabalhar numa estratégia de divulgação do mealheiro em formato de marco de correio, que ainda não atingiu os votos necessários e existe um prazo limite para o fazer.”
Como é que isto se faz?
A submissão de projectos no LEGO Ideas pode ser feita com peças reais ou com um software reconhecido pela LEGO. No caso de Ezequiel, é um bocadinho das duas coisas. Primeiro faz as suas construções com peças reais e depois recria-as no software, uma forma de evitar acumulação de pó nas suas criações, além de pequenas imperfeições, e também para ajustar as cores correctas, uma vez que nem sempre tem todas as peças necessárias. “No final, quando estou satisfeito com o resultado, adquiro as peças em falta e mantenho o modelo real igual ao virtual”, explica. O que lhe permite angariar a ajuda de um especialista que tem lá por casa. “Com as peças reais também tenho a possibilidade de deixar o meu miúdo de cinco anos brincar com as construções e testar a estabilidade e segurança dos projectos, até porque isso é um factor de avaliação na plataforma LEGO Ideas. Para além de ter de os reconstruir várias vezes, permite-me fazer alterações para melhorar a construção.”
Agora resta esperar. Como nos explica Ezequiel, “o processo de avaliação efectuado pela LEGO acontece três vezes por ano, em Janeiro, Maio e Setembro”, ou seja, como o eléctrico atingiu os 10 mil votos após a avaliação de Maio, só entra no processo de Setembro. Uma avaliação que “pode demorar alguns meses” até ser conhecida, sendo que não há qualquer compromisso de datas por parte da LEGO. “Para além disso, os projectos que são aceites demoram mais uns meses até que sejam vendidos e colocados à disposição das pessoas. Não consigo prever… julgo que só saberemos durante o próximo ano.”
Pára, arranca
Sabia que Ezequiel já apareceu na televisão? Bom, não foi bem Ezequiel, mas sim animações em stop motion da sua autoria que foram parar ao programa Fé dos Homens, da RTP. Foi durante o confinamento que começou a fazer umas brincadeiras em stop motion para ocupar as suas três crianças. “No início usávamos a mesa da sala, um candeeiro de cabeceira, uma folha branca e uma máquina fotográfica SLR antiga. Sem experiência na área, a animação não era nada de especial. Os cenários mexiam-se, os bonecos arrastavam-se [risos], a luz não era constante… uma série de problemas, mas era divertido”, recorda.
Foi aperfeiçoando a técnica com a ajuda do YouTube, a mesma rede social onde acabou por divulgar estes trabalhos. “Como estou envolvido com trabalho com crianças numa comunidade religiosa, acabei por fazer algumas histórias da Bíblia numa vertente mais pós-moderna, com alguns apontamentos humorísticos que divulgava no meu canal do YouTube. Através das redes sociais, essas animações chegaram ao conhecimento da produtora do programa A Fé dos Homens – Luz das Nações, que sugeriu que fosse divulgado nas rubricas para crianças. E aconteceu… fiz as adaptações necessárias ao tempo disponível e acabei por ver as minhas animações serem utilizadas no Natal, na Páscoa e noutros períodos de Verão”, conta. A 25 de Julho, o site da Aliança Evangélica vai passar uma animação de sua autoria sobre “O Filho Pródigo”, também produzida em casa.
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