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Bernardo Sassetti abandonou-nos prematuramente em 2012, mas continua a ser impossível falar do piano jazz em Portugal sem mencionar o compositor e pianista português. As celebrações do seu 50.º aniversário estavam previstas para acontecer em 2020, mas a pandemia forçou a Casa Bernardo Sassetti a adiar a programação para este ano. Entre as várias iniciativas agendadas, destaca-se o lançamento do novo álbum Menina do Mar (14,99€), que conta com texto de Sophia de Mello Breyner Andresen, narração de Beatriz Batarda e música original de Bernardo Sassetti.
“Quando se formou a associação Casa Bernardo Sassetti, em 2012, fizemos um primeiro apanhado de todo o espólio e percebeu-se que havia nove ou dez discos de inéditos que poderíamos ainda vir a editar, porque o Bernardo sempre foi um compositor prolífico. Compunha, tocava e gravava mais do que o mercado suportava. Além desse material, chegou-se à conclusão que algumas das prestações ao vivo também faziam sentido vir a ser editadas”, partilha a actriz Beatriz Batarda, co-fundadora da Casa Bernardo Sassetti.
Entre 2007 e 2011, a actriz e o músico criaram três espectáculos a partir de contos de Sophia de Mello Breyner Andresen, inclusive A Menina do Mar, que estreou no Verão de 2010, no Festival das Artes, em Coimbra. Seguiu-se uma digressão nacional, que passou pelo Teatro São Luiz, onde foi feito o registo ao vivo que a Casa Bernardo Sassetti edita agora, com ilustrações da artista Maria Sassetti. “Para quem não sabe, éramos um casal e tínhamos à época duas filhas pequenas. A Fada Oriana e A Menina do Mar eram dois contos que visitávamos frequentemente. O Bernardo tocava e eu contava a história”, recorda Beatriz, que ainda se lembra da primeira vez que ouviu falar do encontro inesperado entre um rapaz que vive na terra e uma menina que vive no mar. “Foi a minha mãe a ler-me.”
Publicado pela primeira vez em 1958, A Menina do Mar foi o primeiro conto de Sophia para a infância e o mais celebrado e revisitado da poetisa pelas últimas três gerações de portugueses. Tendo a praia como cenário, convida-nos a fazer parte da amizade entre um rapaz e uma menina que vive no fundo do mar e é bailarina da Grande Raia, que sobre ela mantém vigilância.
No álbum homónimo, editado pela Casa Bernardo Sassetti, a história está dividida por faixas, para facilitar a navegação, mas o objectivo é ouvir-se tudo de uma assentada, sem interrupções. Quem o diz é Beatriz, que assegura já ter visto crianças a ouvir o disco, com auscultadores, do princípio ao fim. “É muito bonito vê-las a reagir, a divertirem-se e a rirem. Às vezes percebe-se pelo olhar como estão só a sonhar, a perceber outras coisas que não estão na linguagem das palavras.”
Com o mundo virtual a dificultar a relação tanto com a leitura como com a escuta, ameaçadas pela falta de tempo e a explosão feérica de imagens a que somos sujeitos a todos os minutos, este álbum poderá ser, sugere a actriz, uma forma de despertar o interesse dos mais novos para a literatura, a música e até a filosofia. “Esta ideia de viagem intelectual, sensorial e emocional deve cultivar-se desde cedo. Mas penso que o álbum não é só para as crianças. Haverá quem goste de viver essa experiência de escuta, porque a composição do Bernardo é absolutamente sublime”, promete. “E este conto permite-nos, é isso que o torna tão intemporal, visitar um imaginário secreto e estabelecer um diálogo interior profundo, em qualquer idade.” Faz mais, avisa. Ensina-nos a espantar-nos. “A capacidade de espanto não é só intuitiva, é uma construção, que ganhamos em estimular.”
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