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Sete meses depois, a Bica volta a ter uma das suas casas mais emblemáticas. No novo Bicaense Butchers, bar e pratos combinam-se sem atropelos, fazendo da carne a grande temática e descobrindo no passado o melhor dos futuros.
Da porta para dentro não há sardinhas fluorescentes ou néones. Não há ardósias nas paredes, não há decoração compatível com a avidez de instagram. “O espaço de baixo estava todo tapado com pladur e eu retirei-o porque sabia que por trás estava o mármore antigo”, começa por contar Eduardo Viegas, um dos nomes responsáveis pela nova vida do Bicaense. A ligação do empresário à casa leva uma década e meia; amor, noites a não perder da memória, filhos, os capítulos foram cabendo sempre nas quatro paredes do Bicaense, e esse foi o ponto de partida. “Quando soube que ia fechar sem um projecto em mente, fiquei com pena. Principalmente por causa da zona, que estava a cair, e achei que havia hipótese de pegar no espaço como era antigamente e fazê-lo voltar às raízes.”
Para esta nova vida do Bicaense contou com o parceiro de outros negócios, Nuno Costa, o grupo Butchers, Diana Mateus (responsável pelo bar) e Ivo Oliveira, o chef portuense que passou pelo Sea Me e pelo Prego da Peixaria. Entramos. A primeira sala é o pouso em que o bar e restaurante se encontram de imediato. Há candeeiros antigos, bancos recuperados do cabaret Maxime, banda sonora a pender para o jazz, easy listening, e um balcão de pedra aumentado para que se pudessem servir pratos. “Mantive a traça antiga com as alterações obrigatórias”, explica Eduardo, que procurou regressar à ideia original. “O espaço abriu em 1959 e era ponto de paragem para muita gente – artistas, políticos, jornalistas. Houve muitas ideias que aqui foram discutidas à volta da mesa, é isso que faz sentido para nós, voltar a trazer a comida como forma de juntar as pessoas.”
A aposta forte é a carne, nomeadamente a maturada, de 35 dias. Um conceito pelo qual o Butchers já era conhecido. Bife à casa (15,50€/ 220 g), maminha Black Angus (12,50€) e a picanha premium Black Angus (13,50€) abrem a porta. Mas há espaço para outras criações: o magret de pato (12,90€), os secretos de porco preto bolota (12,50€) e o peito de frango do campo grelhado (9,90€), sempre acompanhados de salada bicaense e batata doce frita.
Do mar chega o bacalhau com broa (11,90€), à Brás (10,90€) ou o polvo à casa (13€). E os vegetarianos também não foram esquecidos: o Beyond Burger (10,50€) e o risoto de cogumelos (9,90€) estão fixos na carta. “Não fazia sentido não haver opções vegetarianas. Claro que o nosso foco é a carne e os petiscos, mas é importante haver mais opções.” Outra preocupação foi o preço. “Tivemos cuidado com os preços. É certo que são carnes maturadas, e isso é mais caro, mas na nossa ementa o prato mais caro é o bife à casa. Um bife que está facilmente equiparado em qualidade a outros espaços com carne maturada. Queremos que os portugueses sejam nossos clientes, queremos os locais, as pessoas do bairro, não é só pensado para turistas.”
Por agora o plano é passar por um funcionamento a três tempos. Ao meio dia abrem-se as portas, servem-se as refeições, tanto na sala de entrada como na secundária, logo ao lado. E já é possível pedir um menu de almoço (9,90€) com maminha e picanha à descrição. Das 15.00 para a frente a atracção principal é a sala de cima, ainda que se possa optar. “Se quiserem ficar pela sala de baixo, podem ficar. Há imensa gente que prefere. É mais sossegado, não há tanta banda sonora do elevador”, brinca. Os jantares começam às 18.30 e estendem-se até às 23.00, altura em que fecha a cozinha e o espaço começa a sua vida nocturna.
Ao balcão, Diana Mateus avança com um Moscow Mule (5,50€), o cocktail que Eduardo diz ser “o par perfeito” para a carne. “Estamos a tentar que seja uma combinação permanente”, adianta, antes de seguir para a Margarita (7€). As tardes serão preenchidas com petiscos, numa vasta seleção de sugestões que vão dos ovos mexidos (7,90€) ao carpaccio de salmão (9,90€), passando pelo taco bicaense (8,75€) com lombo e guacamole com molho picante, ou pela salada de salmão curado (10,25€).
A fechar, nas sobremesas, além da mousse de chocolate (3,90€), de O Tal (4,50€), uma criação com petit gatêau de caramelo, sorvete de frutos vermelhos em cama de bolacha, e do gelado artesanal (2€), há também mão caseira. “O cheesecake de pêssego (4,50€) é uma receita da minha mãe que acabei por trazer para cá e acho que resulta muito bem.”
“No fundo é isto, fomos buscar um bocadinho de muitos passados para manter o espaço vivo sem ser preciso meter aqui sardinhas com néones”, atira. “É esse o caminho. E, aos poucos, a Bica está a melhorar. Começas a ter uma esquina com pessoal cool, como já foi”, termina.
Rua da Bica de Duarte Belo, 42 (Bica). 21 1397424. Seg-Dom 12.00-00.00.