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Este artigo foi originalmente publicado na revista Time Out Lisboa, edição 671 — Outono 2024.
Há escritores que concebem os seus livros já com a ideia de serem adaptados ao cinema. E há escritores que morreram antes de o cinema ser inventado e cujos livros parecem ter sido escritos para serem filmados. Um desses escritores é Alexandre Dumas, e basta mencionarmos duas das suas obras mais conhecidas, mais lidas e intemporais, Os Três Mosqueteiros e O Conde de Monte Cristo. Ambas foram já levadas ao cinema e à televisão dezenas de vezes (incluindo as versões em animação), isto sem contar com os pastiches, as paródias e as produções que se foram inspirar nas histórias destes dois clássicos da literatura.
Um dos filmes mais vistos deste ano em França, que vai a caminho dos nove milhões de espectadores é, precisamente, a mais recente adaptação de O Conde de Monte Cristo, realizada por Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellière (já responsáveis pela mais recente versão de Os Três Mosqueteiros, dividida em dois filmes), e que é também a adaptação ao cinema de maior sucesso de sempre deste livro; bem como o filme francês mais caro de 2024, com um orçamento de 43 milhões de euros. Quase 40 anos depois da morte de Alexandre Dumas, em 1908, foram rodadas as três primeiras versões cinematográficas da obra, nos EUA, em França e em Itália. E a partir daí, foi um nunca mais parar. A primeira versão para televisão apareceu em 1956, feita não pela BBC mas pela privada ITC.
Entre os muitos actores que já personificaram, no grande e no pequeno ecrã, Edmond Dantès, o herói de O Conde de Monte Cristo, protagonista de uma das maiores, mais rocambolescas e mais emocionantes intrigas de vingança da história da literatura, contam-se nomes como Robert Donat, Arturo de Córdova, Pierre Brasseur, Jean Marais, Louis Jourdan, Jim Caviezel, Richard Chamberlain, Jacques Veber, Gérard Depardieu ou Sam Claflin. Portugal acolheu, em 1979, a rodagem da minissérie com Jacques Veber no papel de Dantès, tendo nela participado actores nacionais como Diogo Dória, Isabel de Castro, Artur Semedo, Paulo Renato, Curado Ribeiro ou Baptista Fernandes, e até mesmo, num pequeno papel, o cantor Vitorino. Em 1980, O Conde de Monte Cristo foi transportado para a rádio em França, na estação pública France Culture, em formato de folhetim radiofónico tradicional; e em 2007, parodiado num episódio de Os Simpsons, com o título O Conde de Monte Cristo.
Na nova versão de O Conde de Monte Cristo, que se estreia em Portugal no dia 31 de Outubro e teve antestreia na Festa do Cinema Francês, cabe a Pierre Niney interpretar o papel principal. O actor teve não só teve que praticar esgrima como também treinar com o campeão do mundo de mergulho em apneia, Stéphane Mifsud. Isto para poder fazer, sem “duplo”, a espectacular sequência em que Edmond Dantès se evade do Castelo de If após ter lá estado injustamente encarcerado durante 14 anos, e em que é atirado ao mar do alto das muralhas daquele dentro de um saco, no qual se substituiu ao morto que lá estava dentro. No elenco do filme encontramos ainda nomes como Bastien Bouillon, Anaïs Demoustier, Pierfrancesco Favino, Laurent Laffite ou Anamaria Vartolomei.
Os realizadores Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellière, também argumentistas da fita, escreveram-na com Pierre Niney em mente para o papel principal, e só depois de este ter acedido a interpretá-lo. Os produtores deste novo O Conde de Monte Cristo são os mesmos do citado Os Três Mosqueteiros, e uma boa parte da equipa técnica também. A rodagem decorreu não só em França como na Bélgica, em Malta e em Chipre. Segundo Delaporte e de La Patellière, o livro de Alexandre Dumas é ideal para ser filmado, porque “é um verdadeiro mito que permite que atravessemos vários géneros cinematográficos: a aventura, o thriller, tendo como pano de fundo uma grande história de amor”.
Resta dizer, e por curiosidade, que as acima citadas três primeiras fitas baseadas em O Conde de Monte Cristo e rodadas em 1908, todas somadas, duravam pouco mais de meia hora. Esta nova adaptação assinada por Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellière, que teve a sua estreia mundial no Festival de Cannes, fora de competição, tem 178 minutos.
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