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Reconhecer poder à cor e à palavra é condição para aceitar embarcar na viagem proposta pelo Halfstudio. "A Journey", exposição inaugurada na última sexta-feira, marca o regresso da dupla formada por Mariana Branco e Emanuel Barreira à galeria de Alexandre Farto (a.k.a. Vhils). Através daquela que é já a sua linguagem corrente – o lettering –, desenharam um percurso dentro do próprio espaço. Ao longo dessa linha condutora, seguem o rasto ao processo inerente a qualquer mudança, interior ou exterior ao ser humano. Pelo caminho, exploraram novos suportes e materiais.
"Tínhamos esse desafio do espaço ser maior e isso ia requerer peças diferentes das que expusemos na primeira vez", refere Emanuel, em conversa com a Time Out. Com 22 peças – mais do dobro das que expuseram no espaço Cápsula da mesma galeria em Abril de 2021 –, a dupla inovou na escala, mas também na materialidade.
"Mantemos a pintura a pincel, que acaba por ser a base do desenvolvimento do nosso trabalho. Mas incluímos peças diferentes – com luz LED, por exemplo. E esculturas, uma coisa que queríamos experimentar há algum tempo. É um passo natural, sobretudo porque a nossa pintura acaba por ser, ela própria, muito escultórica, com a questão do efeito 3D e das sombras que criam esta ilusão de objectos quando na verdade são superfícies planas", continua.
Quanto à viagem proposta (e que dá título à exposição), esta reflecte por cores e palavras os mais constantes e cíclicos processos de mudança humanos. As marcas em vinil colocadas no chão indicam o caminho, as peças reforçam-no por si. "São as mudanças que acontecem ao longo da vida que motivam este sentido de descoberta. Quando perdemos um trabalho, decidimos ter um filho, mudamos de cidade – batalhamos, conseguimos e quando lá chegamos volta a surgir uma insatisfação e uma necessidade de procurar algo mais. Isso acontece quando se dá uma revolução social, política ou cultural. As ideias começam a surgir, partimos para uma fase de inquietação. Depois o clímax, o cume da montanha, quando vemos os frutos daquele processo. Até que tudo assenta, cria alicerces", explica.
A cor começa por aparecer dissimulada, "num segundo plano", segundo o artista. "É na fase da inquietação que encontramos as peças mais diferentes." "Dream" ou "Feel Free" surgem numa fase aspiracional, enquanto "Seek", "Emerge" ou "Resist" remetem para acção, à medida que cor, luz e tridimensionalidade se vão intensificando.
Além da exposição, patente até 18 de Março, o Halfstudio trabalhou numa serigrafia de edição limitada, à venda na loja da galeria. No dia 28 de Fevereiro, a dupla inaugura também uma instalação na fachada de um edifício em construção, na zona de Moscavide. Em vez de tentar esconder os trabalhos em curso, o artista explica que as peças vão enaltecer o processo e dialogar com o prédio em construção, além de terem contado com a participação da comunidade local. "As pessoas tiveram oportunidade de expressar as suas frustrações, os seus desejos, as suas ambições, de contar aquilo que foi Moscavide e que ambicionam que seja no futuro. Tentámos transformar o que foi dito no workshop numa instalação, de forma a que se sentissem representados também", remata Emanuel Barreira, que perspectiva um 2023 essencialmente dedicado à arte pública.
Em simultâneo, a Underdogs recebe uma segunda exposição no seu espaço Cápsula. A expor em Portugal pela primeira vez, o suíço Tobias Gutmann apresenta "I can do that too!". A estrela é Sai Bot, um robot de inteligência artificial que produz retratos abstractos em tempo real, a partir de milhares de desenhos que o artista tem criado desde 2012. Os visitantes podem sentar-se em frente ao robot "pintor" e esperar que a "arte" aconteça.
Rua Fernando Palha, 56 (Braço de Prata). 21 868 0462. Ter-Sáb 14.00-19.00. Até 18 Mar. Entrada livre
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