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A próxima semana é um festival. Aliás, são três

O Tremor volta a abanar a ilha de São Miguel a partir de terça-feira, 19. Mas, em Lisboa, também há um par de festivais a acontecer: o Sónar e o novo Belém Soundcheck.

Luís Filipe Rodrigues
Editor
Sónar Lisboa
Pedro FranciscoSónar Lisboa
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Vai longe o tempo em que festivais de música e de Verão eram expressões intercambiáveis. Agora, há festivais o ano todo. Em 2024, só em Março, há três a disputarem o nosso tempo e atenção na mesma semana. O primeiro, e mais antigo, é o Tremor, co-organizado pela Lovers & Lollypops em vários pontos de São Miguel. Existe desde 2014 e está de volta à ilha açoriana a partir desta terça-feira, 19, prolongando-se até sábado, 23. Segue-se a edição inaugural do Belém Soundcheck, que entre quinta-feira, 21, e domingo, 24, mistura músicas e públicos no Centro Cultural de Belém; e o terceiro Sónar Lisboa, que calha sempre ao mesmo tempo que o Tremor e este ano dura de sexta-feira, 22, até domingo, 24. É complicado ir aos três, e algumas datas já têm a lotação esgotada, todavia há concertos a não perder em todos eles. Estamos aqui para o ajudar a navegar estes dias. 

Tremor é amor

Co-organizado desde 2014 pela Lovers & Lollypops, que na década de 2010 também fez do Milhões de Festa e de Barcelos destinos obrigatórios, este Tremor tem epicentro em Ponta Delgada, mas alastra-se por São Miguel inteira. Com concertos, trilhos musicados e outras actividades em diferentes pontos da ilha, é uma daquelas experiências que todo o mundo devia ter pelo menos uma vez na vida – e que a partir daí vai querer repetir ano após ano.

O primeiro momento do programa é a inauguração da exposição “Reinterpretando Arte Bonecreira e Presépios de Lapinha”, no Espaço Nóbrega, a partir das 18.30 de terça-feira. Segue-se, pelas 21.30, um concerto do histórico cantor e compositor Jards Macalé, que se tem cruzado e acompanhado alguns dos maiores vultos da música popular brasileira desde a década de 1960. E ainda um set do colectivo de DJs britânico All Hands On Deck.

No dia seguinte, há actuações todo-o-terreno, exposições, conversas e outras actividades a partir das nove da manhã. Mas a partir das 22.00 sobe a parada. O primeiro concerto é de Sarine, baterista da banda hardcore brasileira DEAFKIDS, no Solar da Graça. A electrónica experimental da francesa Colleen começa a ouvir-se pouco depois, às 22.15, no Teatro Micaelense; a violência pós-hardcore dos Hetta mexe com o Ateneu Comercial a partir das 22.45; e o afro-futurismo de Faizal Mostrixx preenche as Portas do Mar, a partir das 23.15.

Na quinta-feira, há mais um par de concertos todo-o-terreno de Lavoisier, entre as 09.00 e as 12.30, e das 14.00 às 17.30. Também há o noise rock de La Jungle, no Mercado da Ribeira Grande, pelas 17.00; e um espectáculo inédito da Escola de Música de Rabo de Peixe com Sam The Kid e convidados, no Porto de Pescas daquela localidade, a partir das 19.00. E a partir das 22.00, em Ponta Delgada, ouvem-se os rituais electroacústicos da russa Kate NV, no Auditório Luís de Camões; o electro-techno de Rezgate, no Ateneu Comercial; a performance electrónica e audiovisual de Nik Colk Void & Maotik, no Teatro Micaelense; ou, a partir das 22.30, a música em ebulição dos DEAFKIDS nas Portas do Mar; a excelência electrónica da norte-americana DJ Haram; cumbia psicadélica dos Romperayo, e DJ Lynce a fechar a noite. Aguenta, coração.

Ah, é verdade, os passes gerais para este Tremor esgotaram ainda no ano passado. Ups. Mas calma: por um lado, há sempre pessoas que compraram os bilhetes com a antecipação necessária e agora não podem ir, e é normal encontrar pessoas a revender bilhetes online, pelo mesmo preço por que os compraram; por outro lado, há várias actividades de entrada livre no festival, que não requerem bilhete; por fim, nesta edição e pela primeira vez, a organização está a disponibilizar passes que dão acesso aos concertos do fim-de-semana. 

E que concertos. Na sexta, Pedro Sousa e Filipe Felizardo tocam a música exploratória do EP Horizonte Entóptico, fruto de uma residência promovida pela Rádio Vaivém e a editora Marca Pistola. Apresenta-se também o projecto Estrela, nascido de outra residência da Rádio Vaivém, e composto por Bejaflor, MC Falcona e Sreya. Pela noite dentro, nas Portas do Mar, escuta-se ainda o rock marginal dos Glockenwise; o punk rock das Lambrini Girls; ou, entre outras coisas, o minimalismo electro de Marie Davidson. No sábado, as propostas são igualmente variadas, indo do rock lo-fi dos Prison Affair, ao baile punk de Deli Girls, do krautrock feito música de dança dos MДQUIИД. às canções de P.S. Lucas e o hip-hop de AZIA, ou até o forró dos Rastafogo. Há algo para todos.

Vários locais (São Miguel, Açores). 19-23 Mar (Ter-Sáb). 40€-70€

O Belém Soundcheck quer dar palco a todas as músicas

É o mais recente festival desta colheita. Foi anunciado em Novembro e, originalmente, a ideia era realizar-se de dois em dois anos em Belém. Só que entretanto mudou a direcção artística para as artes performativas do CCB e levantaram-se dúvidas sobre a sua continuidade. Ainda por cima, é provável que o novo governo volte a mexer com o organigrama da instituição, complicando ainda mais quaisquer exercícios de futurologia. 

Seja como for, a edição deste ano ninguém nos tira. Sob o leme “todas as músicas”, pretende mostrar os vários vértices da programação musical do CCB. Na quinta-feira, pelas 20.00, ouve-se o fado de Camané, que vai cantar apenas repertório de José Mário Branco. Não só os fados que um dos grandes compositores de Abril escreveu para ele, como outras canções da sua pena. No mesmo dia, às 22.00, a jazzwoman Maria João canta Songs for Shakespeare. Depois, há um DJ set de Switchdance no foyer do Grande Auditório.

Na sexta-feira, a partir das 20.00, escuta-se a música barroca de Vivaldi, entre outros compositores, interpretada pelo ensemble Il Giardino Armonico, dirigido por Giovanni Antonini, acompanhado aqui pelo violoncelista e compositor Giovanni Sollima. Duas horas depois, ouve-se mais jazz, agora embrenhado na floresta amazónica e saído das mãos do pianista e compositor afro-brasileiro Amaro Freitas. Pedro Ricardo é o DJ de serviço.

O pináculo da programação é, no entanto, a performance Correspondences, concebida pela justamente mitificada Patti Smith, em colaboração com os artistas do Soundwalk Collective, entre a música, a poesia e as artes visuais. Tem início marcado para as 19.00 de sábado. Só é pena que os bilhetes estejam esgotados desde Novembro. Para compensar, um dia antes, inaugura a exposição “Evidence”, dos mesmos autores. 

Ainda no sábado, mas pelas 21.00, toca Tirzah, compositora e intérprete britânica de canções electrónicas claustrofóbicas e doridas. Ouvi-la é ser afogado por recordações de um futuro, de vários que nunca chegaram a materializar-se. É música para um mundo em escombros, repetitiva, minimalista. Verdadeira. Segue-se um novo set dos Funkamente.

O festival termina no domingo à tarde, com um concerto da Kremerata Baltica, orquestra de jovens músicos de leste liderada pelo violinista Gidon Kremer. O programa inclui o Concerto n.º 2, The American Four Seasons, de Philip Glass, seguido após um breve intervalo por The Season’s Digest, de Alexander Raskatov, e Las Cuatro Estaciones Porteñas, de Astor Piazzolla. Sama Yax e Luísa encerram as festividades, com mais música para dançar.

Centro Cultural de Belém. 21-24 Mar (Qui-Dom). 7,50€-66€

Um Sónar apontado ao futuro da electrónica

Trinta anos depois da primeira edição, em Barcelona, o Sónar é uma referência para os apreciadores de música electrónica de vistas largas, que tanto faz bater os pés e bambolear as ancas como puxa pela cabeça e o coração. Uma verdadeira “instituição europeia”, segundo The New York Times – que ao longo das duas últimas décadas se espalhou por todo o mundo. E volta a Lisboa entre 22 e 24 de Março, com os olhos postos no futuro.

“Inicialmente tínhamos apontado para três anos, para ver se isto fazia sentido [em Lisboa]. Claramente faz”, assume Enric Palau, co-director e um dos fundadores do festival de música e arte digital catalão, que ao longo dos últimos anos tem também delineado os contornos do Sónar em Lisboa, juntamente com a equipa responsável pela edição portuguesa. “Agora não há outro prazo, estamos a trabalhar para o futuro, ano a ano.”

Concentremo-nos, por agora, nesta terceira edição lisboeta. Há meia centena de artistas confirmados, incluindo referências e valores seguros da música electrónica e de vanguarda internacional. Destacam-se Shygirl, Sevdaliza, Tommy Cash, Tiga e Hudson Mohawke, Florentino ou, entre muitos outros músicos e DJs, o duo Dresden de Ivan Smagghe e Manfredas. Mas o concerto dessa figura tutelar de uma electrónica nostálgica e ambiental, perpetuamente assombrada por fantasmas e ecos pop, que responde pelo nome de Oneohtrix Point Never, no sábado, tem tudo para ser o momento alto do festival. E do mês.

Há também muitos nomes nacionais. “Nunca foi a nossa intenção, quando começámos a trabalhar no Sónar Lisboa deste ano. Porém, de repente, tínhamos mais de 20 artistas da cena local e descobrimos, com a ajuda da equipa de Portugal, a sua variedade e riqueza”, admite Enric. “Desde a experimentação de XEXA ao r&b da [vencedora do Festival da Canção] iolanda ou as diferentes abordagens electrónicas de um Vanyfox ou um Moullinex.”

Só faltam mesmo espanhóis no cartaz. Sobretudo agora que a música cantada na língua de Cervantes bate recordes de audiências e financeiros em todo o mundo – e em Espanha, no ano passado, a cantora Bad Gyal, que esbate as fronteiras do trap, do reggaetón e do dancehall, foi uma das cabeças-de-cartaz. A organização está ciente deste ângulo morto. “Todavia, em Lisboa, temos um formato ainda muito reduzido. Consideramos muito cada artista, cada slot, para ser representativo dos diferentes estilos que queremos cobrir. É só por isso que não há artistas de Barcelona este ano. Mas queremos trabalhar para que estejam aqui. Para que haja mais ligações entre Lisboa e Barcelona. E vice-versa.”

Vários locais (Parque Eduardo VII). 22-24 Mar (Sex-Dom). 45€-245€

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