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Durante a II Guerra Mundial, Portugal optou por manter uma posição neutra no conflito. No entanto, essa opção política acabou por ser terreno fértil para a criação, por cá, de vários ninhos de espiões subordinados aos dois lados do conflito. É esse o pano de fundo da série A Espia, uma produção da Ukbar Filmes que foi emitida pela RTP1 entre Abril e Maio de 2020 e que este ano estará de regresso para uma segunda temporada. A data de estreia não está confirmada, mas assistimos a um dia de gravações na Figueira da Foz.
“Verão de 1942, um mês após a morte de Rose e o fim da rede Shell. Jorge regressa de Timor e reclama o seu lugar na família Mascarenhas, ameaçando as acções de espionagem de Maria João, sua mulher, e Nicolau, do MI6. Mas a dupla conta com novos aliados: os americanos e a resistência francesa.” É esta a sinopse divulgada para a segunda temporada de A Espia. O resto do enredo está envolto em mistério. Ainda assim, a Time Out foi convidada a espiar algumas cenas deste regresso, numa rodagem dividida entre o centro da Figueira da Foz, nas proximidades do casino, onde falámos com Daniela Ruah; e o Paço dos Viscondes de Maiorca, outrora residência de uma família nobre e hoje propriedade do município. E que, na segunda temporada de A Espia (alerta spoiler para quem não viu a primeira temporada) se transforma na casa da personagem Rose Lawson, interpretada por Maria João Bastos, que afinal… não morreu. Foi aí que nos sentámos a falar com a actriz e também com um dos novos grandes nomes do elenco: Gabriela Barros.
Além da protagonista de Pôr do Sol, esta temporada de A Espia também conta com as estreias de Madalena Almeida, Ana Vilela da Costa e Kelly Bailey, e o regresso de Lúcia Moniz, cuja personagem terá mais tempo de antena. José Pimentão, Adriano Carvalho, Luís Eusébio, André Leitão, Cristóvão Campos, Adriano Luz e Diogo Morgado são alguns dos homens do elenco. São muitas as espias da nova produção, uma opção clara da Ukbar, que também apostou na realizadora Laura Seixas (Contado por Mulheres) para dividir a função com João Maia.
“No fundo, também tem a ver com esta história de a Ukbar pensar que séries com mais de seis episódios têm de ter uma realizadora mulher. É um trabalho de uma grande parceria e dá um enorme gozo poder ver estas realizadoras que saíram do Contado por Mulheres começarem abraçar os projectos”, explica Pandora da Cunha Telles, co-fundadora da Ukbar, que também acompanhava a rodagem. E explica a aposta no género feminino neste elenco: “Houve uma série de espiões homens, como o Popov ou o Pujol, que esteve em Portugal durante a II Guerra Mundial. E o que vamos fazer é mudar o género desses espiões, que transformámos em espias mulheres. É obviamente livremente inspirado na realidade. É como os projectos de séries que pensam em realidades alternativas. A nossa também é assim”.
Daniela Ruah, que também realizou um dos telefilmes do projecto Contado por Mulheres, volta a vestir a pele de Maria João Mascarenhas, antes de regressar aos EUA para voltar a trabalhar atrás das câmaras, para realizar dois episódios de Investigação Criminal e Investigação Criminal: Hawaii. “Fico super orgulhosa por andarmos a produzir séries muito boas, como A Espia e também como Glória ou Rabo de Peixe, séries que começam a ter alguma atenção internacional, porque têm uma qualidade brutal. E claro, agora também com as plataformas de streaming temos acesso ao mundo e o mundo tem um acesso a nós muito diferente daquilo que tinha antigamente. E acho que isso faz ter vontade de igualar o nível internacional e a expectativa daquilo que se quer ver já é muito mais alta”, defende Ruah, entre cenas da rodagem na Rua Bernardo Lopes, perto do Casino da Figueira da Foz.
A pouco mais de dez quilómetros de distância, no Paço dos Viscondes de Maiorca, Maria João Bastos sentia-se em casa. Rose vive e, para a actriz, “tinha de voltar”. “A Rose era enfim, uma vilã na história, mas foi muito bem recebida pelo público e, portanto, isso a mim também me mostra que o público quer voltar a vê-la e tem que voltar no seu máximo Rose. Obviamente que há aqui um trabalho novo, um novo guião, uma nova história, um novo caminho. E a Rose tem mudanças. Enfim, não vou entrar em muitos detalhes, mas coisas que ela passou na vida dela e que lhe trouxeram um peso diferente não lhe tiraram a alegria, mas trouxeram-lhe uma carga diferente que está nesta temporada. Uma mágoa diferente. Como ela diz, a guerra transforma as pessoas e elas às vezes mostram-se no seu pior lado, mas não é o único. Há outros lados na mesma pessoa e ela mantém sempre esse lado de alegria, de divertida”, descreve Maria João Bastos, feliz por voltar a calçar estes sapatos. “Gosto muito desta época. Sinto-me confortável com tantas realidades desta época, que é um universo muito confortável por onde eu vagueio com esta personagem. Depois, porque acho a Rose maravilhosa, é uma personagem que me inspira muito. Passando por tantas dificuldades, quer na primeira temporada, quer na segunda pelo período da história que atravessam”.
Na mesma casa, também nos cruzámos com Gabriela Barros que chega a A Espia na pele de Ema Delmont, uma espia dupla. “Eu vou estar a trabalhar do lado dos ingleses, mas inicialmente eu começo a série do lado dos alemães. É tentar jogar com os dois lados e dar-me bem com Deus e o Diabo. Então é interessante jogar com isso”, revela a actriz no que foi o seu primeiro dia de gravações, sempre na incerteza de que pode estar a falar demais. “Tem sido uma experiência engraçada, adoro brincar às épocas. Se bem que nesta temporada a ideia não é estilizar tanto a mulher, sobretudo num lugar em que as mulheres se encontravam nesta altura, nos anos 40. E tentar dar-lhe uma liberdade um bocadinho diferente. Tanto fisicamente, como de postura e tudo mais”.
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