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A rebelião no cinema de Taiwan viaja até Lisboa

Junho é mês de cinema taiwanês na Cinemateca, com o ciclo Revisitar o Cinema Novo de Taiwan. Dizemos-lhe o que não pode perder.

Escrito por
Eurico de Barros
Guang yin de gu shi
DRNo Nosso Tempo
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A década de 80 do século passado assistiu ao fenómeno que ficou conhecido como o Cinema Novo de Taiwan, em que uma nova e talentosíssima geração de cineastas daquele país surgiram a realizar filmes que rompiam, em absolutamente todos os aspectos, com as produções anteriores da cinematografia nacional. Esta, além de estar submetida a uma censura severa, era caracterizada por obras de carácter propagandístico ou então muito comercial, sem nomes que se destacassem quer internamente, quer em termos internacionais. Como escreveu um crítico taiwanês, “foi uma época em que não houve em Taiwan cineastas ou títulos que merecessem particular distinção”.

Um ano depois de ter apresentado um ciclo de filmes Wuxia (artes marciais, históricos e de aventuras de época), com destaque para os de King Hu, um dos expoentes absolutos deste popular género, a Cinemateca propõe neste mês de Junho o ciclo Revisitar o Cinema Novo de Taiwan. É composto por um conjunto de fitas menos conhecidas deste movimento que marcou um renascimento da cinematografia do país e a sua projecção quer na Ásia, quer no plano mundial, bem como da autoria de realizadores que rapidamente ganharam reputação internacional, como é o caso do malogrado Edward Yang ou de Hou Hsiao-Hsien. E que se distinguem pelo retrato realista da história recente do país, da sua sociedade e das vidas quotidianas, das relações íntimas e colectivas, e dos problemas e anseios dos taiwaneses comuns.

A propósito do Cinema Novo de Taiwan, escreveu num ensaio de 1998, New Taiwan Cinema in the 80s, o académico e crítico americano Douglas Kellner: “Este cinema é ‘novo’ no sentido em que representa uma rebelião contra o cinema de género anterior a ele (o de Taiwan e o de Hollywood) e procura produzir um ciclo de filmes socialmente críticos e esteticamente inovadores, que retratam a sociedade taiwanesa contemporânea (…). Para Kellner, os filmes deste movimento formam “um conjunto interligado de interrogações da história, da sociedade e da identidade de Taiwan, que exploram os conflitos entre tradição e modernidade e os problemas do momento presente”.

Entre os filmes do Cinema Novo de Taiwan que a Cinemateca mostra desta quarta-feira, dia 5, até ao próximo dia 21 de Junho, refiram-se Poeira no Vento, de Hou Hsiao-Hsien (1986), sobre um casal de namorados que se muda do campo onde nasceram para Taipé, a capital, procurando uma vida melhor, e têm que enfrentar toda uma série de dificuldades, para além de sentirem cada vez mais saudades das suas famílias; Nós os Dois, de Lee You-Ning (1986), em que uma família feliz e que vive com conforto e desafogo, tem que enfrentar a falência do negócio familiar e a separação do pai e da mãe, que marca profundamente o filho de sete anos; a fita antológica em quatro episódios No Nosso Tempo, de Edward Yang, Yin Chang, I-Chen Ko e Te-Chen Tao (1982), que conta outras tantas histórias sobre inícios de vida, desde a de uma criança numa família negligente que cria um mundo de fantasia para se evadir, até à de um casal recém-casado que entra em conflito, e que é considerada a obra que lançou o Cinema Novo de Taiwan; Espantalho, de Toon Wang (1987), uma comédia passada durante a II Guerra Mundial, quando Taiwan estava ocupada pelo Japão, e que é o primeiro de três filmes em que este realizador conta a história do seu país desde os anos 40 à década de 80; ou ainda A Minha Estação Preferida, de Chen Kun-Hou (1985), cuja heroína, uma rapariga solteira e ciosa da sua independência, fica grávida do homem casado com a qual andava, e procura um homem que aceite viver um casamento de fachada com ela até o bebé nascer e depois divorciarem-se. Todos os filmes deste ciclo que documenta uma faceta da “década de ouro” do cinema de Taiwan serão exibidos em cópias digitais restauradas. 

A programação completa pode ser consultada aqui.

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