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As revistas pareciam estar em vias de extinção. Ao longo da década passada, publicações históricas desapareceram das prateleiras para as suas redacções se focarem na informação online. Nos últimos anos, porém, algumas voltaram às prateleiras e outras saltaram da internet para as livrarias – a Pitchfork, referência maior do jornalismo musical online, tem agora uma edição física. E não param de surgir novos e interessantes projectos. Como a portuguesa Vuyazi, uma publicação feminista e bilingue que vai ser lançada este sábado, 15 de Março, na loja de streetwear Latte.
A editora-chefe e directora criativa Flora Santo sempre adorou ler e “sonhava ter a própria revista”. A viver entre Lisboa e Paris, “trabalhava para a francesa Trax, mas infelizmente a revista fechou”. Tornou-se então freelancer e, com mais tempo livre, decidiu realizar o seu sonho. “Há praticamente um ano, comecei a falar com a graphic designer, a Filipa [Mendes, que partilha algum do seu trabalho na conta de Instagram Tropical Papayas], que para mim era a primeira etapa do projecto, pois era uma parte central da revista”, recorda.
“Nos meses seguintes comecei a realizar as etapas mais administrativas, jurídicas, e a falar com pessoas que conhecia, para ver quem tinha interesse em participar”, continua a fundadora da Vuyazi, cujo nome foi retirado de uma história da escritora moçambicana Paulina Chiziane – a quem pediu autorização para o usar. “A partir de Junho ou Julho, a coisa começou a andar. Em Outubro, Novembro, os textos estavam todos escritos, e nos últimos meses temos estado focadas na parte da impressão, em aspectos mais técnicos. Depois de quase um ano de trabalho, o primeiro número vai sair finalmente este sábado”, regozija.

“O primeiro de muitos”, como se lê na breve nota da editora, ao abrir a revista. Flora ainda não sabe exactamente a regularidade de publicação, mas espera “começar a trabalhar na segunda edição daqui a pouco, talvez daqui a um mês, para talvez sair ainda no final deste ano”. Contudo, isso “vai depender da realidade financeira”, acrescenta. Num primeiro momento, a revista vai estar à venda online e em três livrarias lisboetas escolhidas a dedo: a Under the Cover, a Greta e a Well Read. Espera também começar a vender a revista em França, onde já tem vários contactos, mas também noutros países, para “mostrar ao pessoal de fora de Portugal o que é que está a acontecer aqui, em termos criativos, em termos artísticos, em termos da comunidade”. O que as pessoas têm a dizer e a mostrar. “E com as vendas deste primeiro número, espero financiar a produção do segundo.”
“O meu objectivo é conseguir pagar à equipa de uma forma justa e correcta, que seja representativa do valor do trabalho deles e delas”, admite. “Para a produção deste primeiro número, paguei a toda a gente, mas foi um valor assim muito simbólico e a minha ideia não é continuar assim. Por isso, eu acredito que, mesmo com as vendas do primeiro número, vamos ter que encontrar fundos externos. Estou à procura de bolsas públicas – europeias ou nacionais – e talvez privadas. Vamos ver… Financiar uma revista impressa é um desafio.”
Amplificar as vozes emergentes
Não é fácil categorizar a Vuyazi, mas Flora tenta fazê-lo. “É uma revista artística que fala de cultura emergente e questões sociais”, define. “Tem um lado visual, artístico, para dar um palco aos fotógrafos, às fotógrafas, às estilistas, make-up artists, todo o pessoal que tem coisas bonitas para mostrar. E depois tem um lado de reflexão sobre temas de sociedade e cultura”, desenvolve. A equipa é diversa e não exclui ninguém pelo seu género, etnia ou sexualidade, desde que o trabalho seja feminista, anti-racista, anti-clássica e pró-LGBT+. “Quero amplificar as vozes emergentes de Portugal”, declara. “E de outros país lusófonos, mas isso é algo que quero desenvolver mais nos próximos números.”

Na primeira edição, entre outras coisas, o jornalista Ricardo Farinha [também da Time Out Portugal] escreve sobre a discoteca Outra Cena; a DJ e activista Luísa Cativo partilha memórias e fotografias tiradas ao longo dos anos, nas trincheiras do clubbin português, incluindo uma ou outra publicada anteriormente na Vic; o DJ e artista ALLiAN, do colectivo Arcana, escreve sobre Teatro Contemporâneo Portuense e partilha um poema; há uma produção de moda de Enzo Sinai, que também fotografou a capa, no Cais do Sodré; influencers como Kiko Is Hot, Bruna Magalhães e Mia Fernandes (do podcast Más Influências) desfilam pelas páginas; a rapper Lil Mami Barbz é entrevistada. Fala-se de amor, radicalização, habitação, identidade.
O que junta os ensaios, entrevistas, contos, ilustrações e produções de moda é um tema, que será sempre diferente. O primeiro é a amizade. “É algo que me tem interessado bastante a nível jornalístico”, confessa. E que é pouco trabalho. “A amizade é algo que toda a gente experiencia de uma forma ou de outra. E tem um aspecto político muito importante. O número e o tipo de amigos que uma pessoa tem é político. O lugar que uma pessoa dá à amizade na sua vida é político. Porque é que damos tanto espaço ao amor romântico, quando amizades muitas vezes são um lugar menos violento?” É a esta pergunta que a primeira Vuyazi tenta responder.
É, também, para fomentar este sentido de comunidade que o lançamento vai ocorrer em ambiente de festa, no coração do Chiado, das 16.00 às 20.00 de sábado, 15. “Estou a organizar este evento com a One House Only, uma agência muito interessante. Vai haver revistas à venda, vai haver bebidas grátis, fornecidas pela Jameson, e vai haver bolo, da Cracked”, promete a directora. “No fundo, vai ser um momento fixe para descobrir a revista. Como sabes, a Latte tem sofás, então podes só ver a revista, ver se gostas e queres levá-la contigo ou não, comer um bocadinho de bolo, beber e conhecer pessoas novas, incluindo o pessoal da revista, porque vai estar lá quem contribuiu para esta primeira edição, as pessoas que escreveram, os fotógrafos, as fotógrafas. Toda a gente.”
Latte (Chiado). 15 Mar (Sáb). 16.00-20.00. Entrada livre
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