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Em 1942, durante a II Guerra Mundial, o Japão invadiu Timor-Leste, na altura território português, mesmo depois de Portugal ter decidido adoptar uma posição neutral no conflito. Mas o regime de Salazar abandonou à sua sorte os portugueses e timorenses que tentaram fazer frente às forças invasoras (alinhadas com Hitler). Contando com a ajuda de australianos que ali se encontravam para estancar o avanço nipónico, lutaram, fugiram, esconderam-se e dezenas de milhares de pessoas morreram até à declaração de vitória por parte dos Aliados, três anos depois. Mas houve um homem que se destacou: o tenente Manuel de Jesus Pires, administrador da vila de Baucau, figura que será a peça central de Abandonados, que estreia na RTP1 e RTP Play a 21 de Dezembro. A realização é de Francisco Manso e, além de Marco Delgado vestir a pele do protagonista, o elenco está recheado de talento, com papéis interpretados por António Pedro Cerdeira, Elmano Sancho, Francisco Froes, Joaquim Nicolau, Jorge Pinto, José de Abreu, Luís Esparteiro, Marques D'Arede, Maya Booth, Sabri Lucas, Soraia Tavares, Virgílio Castelo, Vítor Norte, Rodrigo Santos, André Albuquerque, Paulo Calatré e pelo actor brasileiro Chico Diaz.
Baseada no livro Timor na Segunda Guerra Mundial, O Diário do Tenente Pires (2007), do historiador António Monteiro Cardoso (1950-2016), Abandonados pretende, ao longo de sete episódios, resgatar do esquecimento a história de um homem que se sacrificou para salvar o máximo número de pessoas possível durante a invasão japonesa. Ao mesmo tempo, a produção transporta para a actualidade mais um capítulo trágico da história timorense. Esta estreia acontece no ano em que se assinalam os 80 anos do acontecimento que agora resulta na série da RTP, assim como com os 20 anos do reconhecimento internacional da independência de Timor-Leste. “Esta história é pouco ou nada conhecida, diria eu. A forma como o Francisco [Manso] conseguiu trabalhá-la manifesta um rigor muito grande”, defendeu José Fragoso durante a apresentação deste projecto no Cinema São Jorge, no passado dia 12 de Dezembro. O director de programas da RTP sublinhou ainda que esta é uma série se insere nos princípios estratégicos que a estação pública tem vindo a definir para a área de ficção, ao levar histórias da realidade nacional para a televisão.
Inicialmente, as filmagens de Abandonados estavam planeadas acontecer em Timor-Leste, onde a equipa chegou a fazer um exaustivo levantamento fotográfico. E foi em Baucau que foram vistas as primeiras imagens desta produção, já que o realizador criou uma versão da série em longa-metragem, para ser apresentada em primeira mão aos timorenses que, posteriormente, também poderão ver a série na televisão. A verdade é que Abandonados acabou por ser integralmente filmada na Madeira, como explicou Francisco Manso, que também marcou presença na apresentação, assim como boa parte do elenco. “Foi pena não se ter conseguido fazer lá [Timor-Leste]. Mas não era fácil, porque era muito longe e era muito complicado os actores conseguirem todos. São muito requisitados e ainda bem. Optámos pela Madeira, que teve uma enorme vantagem, porque a Laurissilva é uma floresta endémica, que mantém as suas características. O que queríamos era a floresta virgem”, disse o realizador. Fragoso acrescentou: “Foi uma boa solução. Julgo que os timorenses vão perceber que não é em Timor [Leste], mas as geografias são muito semelhantes”.
Numa "nota de intenções" enviada por Francisco Manso à imprensa, este escreve: "Contar estes acontecimentos é falar de uma história intencionalmente esquecida, de uma tragédia ocultada pelo governo de Salazar e do abandono de que foram vítimas os portugueses e os timorenses. Recordar esse período da nossa história (e de Timor-Leste) é dar a conhecer, sobretudo aos jovens, a coragem de alguns poucos contra o poder brutal do agressor, que actuava com o maior desprezo e sem complacência pelos mais elementares direitos das populações.”
Marco Delgado, que veste a pele do tenente Pires e conhecia a história “superficialmente”, partilhou com a Time Out o que o levou a aceitar este papel: “O mais importante de tudo, para mim, quando aceitei este personagem, era dar a conhecer ao público este grande herói da história portuguesa e prestar-lhe a devida homenagem. Foi o pensamento que me acompanhou durante toda a gravação da série. Ele salva 80 e tal pessoas do conflito. Os civis que não têm nada a ver com estes conflitos e que se vêm envolvidos nestes conflitos trágicos”.
Estreia a 21 de Dezembro às 21.00 na RTP1 e às 12.00 na RTP Play