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Mariana Teixeira de Carvalho, rodeada de jornalistas no antigo escritório do avô, não consegue esconder o orgulho: não só a Albuquerque Foundation, a que preside, está prestes a abrir as portas ao público – a inauguração está marcada para este sábado, dia 22 de Fevereiro –, como Renato Albuquerque, seu avô, vai ser ser condecorado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
O engenheiro civil brasileiro, dono de um dos maiores acervos do mundo de porcelana chinesa de exportação, dinastias Ming e Quing e porcelana imperial, transformou a sua casa de férias no Linhó, Sintra, num novo museu, onde a cerâmica é e será sempre a protagonista. A colecção tem mais de 2500 peças, mas na exposição de abertura, “Conexões”, só se mostra cerca de 20 por cento. “A ideia é haver rotatividade de exposições, sempre com diferentes curadores, que vão trazer novos olhares e perspectivas sobre a colecção”, promete Mariana.
Ao atravessar os portões da quinta, os visitantes vão encontrar não só a casa de traça tradicional onde a família Albuquerque passava férias – acolhe agora a loja do museu, o restaurante, a biblioteca e três suites para residências artísticas de investigação –, mas também dois surpreendentes edifícios contemporâneos.
O primeiro, em vidro, com uma enorme pala em madeira e uma escadaria em caracol para um piso meio-subterrâneo (com entrada de luz natural através do jardim) é onde o público poderá visitar as exposições da colecção do engenheiro que construiu a Quinta Patiño, com peças que vão do século XX aC ao século XVIII dC. O segundo, ao fundo do jardim, dedica-se à arte contemporânea e recebe, na abertura, a exposição “A mão sempre presente” do norte-americano Theaster Gates – ceramista, arquivista e músico. Na inauguração, o artista fará uma performance pelas 13.00 com a sua banda Black Monks.
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Conexões
Com curadoria da norte-americana Becky MacGuire, especialista e entusiasta da porcelana de exportação, a exposição inaugural da colecção Albuquerque é “muito acessível” e “fantástica para leigos”, diz Mariana Teixeira de Carvalho. “Conexões” não está organizada de forma cronológica, mas temática – e começa onde tudo começou: na China, o país mais sofisticado do mundo a trabalhar e exportar cerâmica. Inclui peças como um jarro de vinho em forma de mulher que dança (China, Dinastia Ming, final do século XVI) ou uma terrina em forma de caranguejo (China, Dinastia Qing, 1770).
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“[A exposição] chama-se ‘Conexões’ porque mostra as ligações que foram criadas na época e as semelhanças entre o estilo de vida de duas regiões do mundo tão distintas: Oriente e Ocidente”, explica a presidente da fundação, dando como exemplo "as xícaras que os europeus encomendavam e que os chineses faziam mas não entendiam que eram para tomar chá".
A mostra está dividida em três pólos: Vida no Oriente e Ocidente, Encontros e O Reino Espiritual. Ficará patente até 30 de Agosto de 2026.
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A mão sempre presente
A exposição que encontramos no complexo contemporâneo pode parecer muito distante da colecção Albuquerque – afinal, séculos separam as peças clássicas que Renato Albuquerque começou a comprar quando andava na casa dos 30 e as que o norte-americano Theaster Gates desenvolve a partir de Tokoname, no Japão, cidade onde estudou olaria em 2004 e à qual regressa anualmente.
A instalação mais impressionante de "A mão sempre presente" é o piso. Leu bem: o chão que os visitantes pisam na mostra que pode ser vista até 1 de Junho, em azulejo de cerâmica preta, representa um contraste com a porcelana clássica chinesa, cuja pureza estava associada à cor branca, explica Jacopo Crivelli Visconti, director do novo museu. "Era conhecida como white gold."
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Gates faz uma abordagem crítica de questões económicas, políticas e raciais através da sua obra – e juntou às peças de assinatura uma selecção de objectos da colecção Albuquerque: exemplo do prato chinês exportado para o Japão cuja história ninguém conhece ao certo. Uns pensam que é defeituoso, outros acreditam que a imperfeição é propositada. Pouco importa. Em "A mão sempre presente" representa essa cicatriz que dialoga directamente com a história e o acervo da Albuquerque Foundation.
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Mariana Teixeira de Carvalho resume: "A obra dele [Theaster Gates] coloca questões que nos queríamos colocar. O que estava a acontecer no mundo quando estas peças foram criadas? O que estava acontecer em Portugal quando encomendou estas obras à China? Esse contexto tem de ser mostrado. A partir das imperfeições do passado, sabemos o que não podemos repetir."
Albuquerque Foundation, Rua António dos Reis 189, Linho (Sintra). Abertura: Sáb, 22 Fev, 10.00-18.00. Ter-Domingo 10.00-18.00. 10€.
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