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As primeiras "avós" — como são carinhosamente conhecidas as mulheres com mais de 60 anos que integram este projecto de intervenção social — começaram a juntar-se há cerca de oito anos. A Avó Veio Trabalhar cresceu e o seu trabalho abrange hoje quase 80 seniores em Lisboa. Semanalmente, mais de 30 juntam-se no atelier para bordar, tricotar ou costurar. Agora, a sustentabilidade financeira do projecto volta a estar comprometida. A resposta foi a campanha "Adopte uma Avó", lançada em meados de Dezembro.
"Há muito tempo que queríamos reforçar esta ligação, que já era muito próxima em alguns casos, com as pessoas que nos seguem, criando um laço mais afectivo com a Avó. Foi assim que nasceu esta ideia de adopção de uma avó, um formato que também permite que as pessoas tenham noção do custo de cada uma para o projecto", explica Ângelo Campota, um dos mentores.
Proporcionar um envelhecimento activo e promover uma agenda preenchida, mesmo depois da reforma, mantém-se até hoje como principal objectivo do projecto. Ao longo dos anos, foram várias as moradas desta oficina de labores. Actualmente, A Avó Veio Trabalhar partilha um espaço de 260 metros quadrados, na zona da Rua Morais Soares, com um atelier de cerâmica e uma companhia de teatro. O desafio é agora encontrar um espaço próprio com uma renda (e área) mais ajustada às necessidades e possibilidades destas "avós". "Estávamos muito contentes porque a Câmara Municipal de Lisboa tinha encontrado um espaço para nós. Mas mudou tudo com as eleições e isso acabou por não avançar", continua Ângelo, em declarações à Time Out Lisboa.
A menos de um mês do final da campanha, A Avó Veio Trabalhar já ultrapassou os 1500€ em donativos, cerca de 20% do objectivo final — 7560€. As modalidades variam: 3€, 15€ (com uma fotografia autografada da avó favorita), 35€ (com uma carta personalizada e escrita à mão), 70€ (um workshop à escolha) e 840€ (um tapete feito à mão, um workshop privado com a avó adoptada e um almoço).
"Também estamos em contacto directo com algumas empresas com as quais já trabalhámos para apelarmos à responsabilidade social", resume. Muitos dos donativos estão a ser feitos à margem da campanha, segundo explica o responsável, sobretudo no caso dos benfeitores que não querem deixar registo. "Também temos recebido várias mensagens de pessoas que querem contribuir de outras formas, com trabalho voluntário, por exemplo".
Os efeitos da pandemia fizeram-se notar nas contas da Fermenta, organização responsável pelo projecto A Avó Veio Trabalhar, a começar pela suspensão dos workshops. "Tivemos de nos reinventar e uma das formas foi criar kits do it yourself para distribuir pela casa das avós. A prioridade sempre foi manter a sanidade mental destas pessoas e esta rede de apoio a funcionar, para que se sentissem acompanhadas mesmo quando estavam sozinhas em casa", reforça ainda Ângelo Campota.
O trabalho com algumas marcas tem garantido a sobrevivência deste bem-sucedido caso de empreendedorismo social. O plano para replicar o modelo na ilha Terceira, nos Açores, começa agora a ganhar forma, ao passo que as avós de Lisboa já têm passagem garantida para a Design Week, em Gant, no próximo mês de Abril. Juntamente com uma organização belga congénere, a instalação a apresentar contará com 120 retratos bordados.
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