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Quem passar pelo número 15 da rua Coronel Ferreira do Amaral, sem o ouvido atento, pode deixar escapar o novo espaço cultural que abriu no início deste ano. É ao fundo de umas escadas, em frente à Escola Artística António Arroio, que cinco artistas se juntam quase diariamente para ensaiar, compor, gravar e transformar elementos em arte. Pedro Melo Alves, Leonor Cunha, José Soares, Mariana Dionísio e Yedo Gibson formam a equipa de artistas residentes do Água Ardente. Todos os meses, o pequeno atelier de artes abre portas ao público com concertos de jazz, música improvisada, experimental ou electrónica.
“A natureza disto continua a ser um espaço privado, mas abre ocasionalmente para programação ao público”, começa por explicar Pedro Melo Alves, baterista e responsável pelo espaço. Esta dupla modalidade já tinha sido testada na associação Ermo do Caos, um espaço cultural no Porto, onde começou a experiência de Pedro na programação. “Eu e a Leonor somos do Porto e viemos viver para Lisboa. Lá já tinha começado um projecto cultural e quisemos abrir aqui uma venue semelhante”, diz. A este casal juntaram-se José, saxofonista, Mariana, cantora, e Yedo, saxofonista e reparador de saxofones. Cada um ocupa uma das salas individuais de trabalho do Água Ardente. A sala comum serve de espaço de trabalho, partilha entre os músicos e, quase semanalmente, de palco para novos artistas. Leonor Cunha, com o nome artístico de Elleonor, é a responsável por toda a imagem gráfica da associação.
Música improvisada, experimental, electrónica, contemporânea, erudita ou jazz são só alguns dos géneros que passam por este espaço cultural. “A ideia é criar pontes”, aponta Pedro. “Estamos em contacto com circuitos internacionais, maioritariamente europeus, mas também queremos criar uma ponte entre Lisboa e o Porto, por exemplo”. Mais do que um espaço de concertos, a Água Ardente pretende ser um espaço de experimentação para os artistas. “Aqui é mais fácil desafiar músicos a fazer coisas que nunca fizeram porque é uma zona segura de experimentação. Esta programação mais laboratorial, onde se pode arriscar mais, é muito importante para a vitalidade de um circuito cultural”. Inserida no circuito underground independente, a Água Ardente não demorou a encontrar o seu público apenas com divulgação através das redes sociais e do passa-palavra. Apesar do espaço dos concertos, que inclui um pequeno bar com vinho e cerveja, não receber muito mais que 30 pessoas, o responsável partilha que “desde o início tivemos sempre casa cheia”.
A programação é da responsabilidade de Pedro Melo Alves, mas os cinco artistas participam no alinhamento dos músicos que visitam a Água Ardente. “Fiz uma programação base até Julho com três eventos por mês, o resto são sugestões dos outros membros”. Para Junho, estão confirmadas cinco datas. A próxima está marcada para quarta-feira, 15, com o trio composto por José Lencastre, Samuel Gapp e João Lencastre. No domingo, 19, o espaço recebe Raquel Reis e André Carvalho. Na mesma semana, a 22, é a vez do solo de Filipe Fernandes. O mês termina com Carla Santana e Inês Malheiro, a 26. Também Julho já tem o calendário bem recheado. Os Apophenia descem até ao espaço da Água Ardente no dia 6. Redemma Trio são o grupo convidado para o dia 12. Para 17, está marcado o solo de João Miguel Braga Simões e, a 24, a actuação de Elsa Nilssen.
Todos os concertos acontecem às 19.00, maioritariamente às terças, quartas e domingos, e têm o valor de entrada de 6€. O calendário é anunciado no Instagram. Nos próximos meses, a associação quer expandir a programação e incluir masterclasses e cursos intensivos ou a longo-prazo.
Coronel Ferreira do Amaral, 15 (Olaias). agua.ardente.lx@gmail.com
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