[title]
Na madrugada de domingo, 31 de Março, os relógios voltam a adiantar uma hora, marcando o início do regime de Verão. Por isso, não se esqueça que, em Portugal continental e na Região Autónoma da Madeira, à 01.00 da manhã os ponteiros avançam para as 02.00 – nos Açores, a mesma mudança ocorre quando for meia-noite, passando para a 01.00. Perde uma hora de sono, mas ganha muito mais. É que, parecendo que não, faz muita diferença, a começar pela conta da luz. Basta abrir as janelas e deixar o sol entrar.
O actual regime de mudança da hora – que prevê que todos os anos os relógios sejam, respectivamente, adiantados e atrasados uma hora no último domingo de Março e no último domingo de Outubro – é regulado por uma directiva europeia de 2000, segundo a qual todos os anos ocorre a mudança de hora bianual. Em 2018, a Comissão Europeia propôs a sua revisão, na sequência de uma consulta pública realizada durante o Verão e na qual 84% dos inquiridos afirmaram estar a favor de se acabar com as mudanças de hora sazonais. Mas a posição do governo português quanto à possível abolição do horário bianual tem sido sempre a de manter o regime ainda em vigor.
Quem é que se lembrou de mudar de hora? Para que serve?
Aplicada em plena Primeira Guerra Mundial, para economizar energia e combustível, a ideia de adiantar o relógio uma hora no Verão para aproveitar a luz natural remonta a 1784. O denominado Daylight Saving Time foi sugerido pela primeira vez por Benjamin Franklin, numa carta publicada no The Journal of Paris, em que defendeu a rentabilização da hora solar com recurso a cálculos sobre a quantidade de velas que seriam poupadas se todos fossem mais madrugadores.
Anos mais tarde, em 1905, o construtor britânico William Willet voltou a sugerir o adiantamento dos relógios, mas foi na Alemanha – e não em Inglaterra – que o horário de Verão foi adoptado pela primeira vez, a 30 de Abril de 1916. Portugal começou a respeitar a mudança de hora nesse mesmo ano, embora tenha interrompido a prática inúmeras vezes.
Actualmente, a alegada poupança energética está a ser posta em causa pelos peritos que subscreveram a Declaração de Barcelona sobre Políticas de Tempo, assinada em Outubro de 2021 por mais de 70 instituições internacionais, como a Aliança Internacional para uma Hora Natural, a Sociedade Europeia de Ritmos Biológicos e a Associação Médica Europeia.
A ideia é que todos os países da União Europeia acabem com a mudança de hora na Primavera (a chamada hora de Verão, UTC+1, em que os ponteiros são adiantados 60 minutos) e continuem com a hora de Inverno (UTC+0). Os países cujo fuso horário recomendado é a sua hora padrão actual não teriam de fazer alterações. Numa segunda fase, os países cujo fuso horário continua sem corresponder à hora padrão, como Portugal, Espanha, Bélgica, França, Grécia, Irlanda, Luxemburgo e Países Baixos, teriam de atrasar uma última vez os ponteiros do relógio no outono (UTC-1), para poderem adoptar o fuso horário recomendado.
A mudança de hora faz sentido?
Segundo o Observatório Astronómico de Lisboa, a quem foi pedido um parecer em 2018, manter apenas a hora de Inverno significava ter “o sol a nascer perto das 05.00 na altura do Verão, ou seja, uma madrugada de sol desaproveitada seguida de um final de tarde com menos uma hora de sol, factores que não são positivos nas actividades da população”. Em contrapartida, mantendo a hora de Verão todo o ano, “o sol nasceria entre as 08.00 e as 09.00 durante quatro meses do ano, no Inverno, com impactos negativos”, nomeadamente nas deslocações para o trabalho e para a escola, que seriam feitas com pouca luz.
Por oposição, a Associação Portuguesa do Sono (APS), por exemplo, defende a abolição da mudança de hora e a permanência no regime de Inverno. “Tendo em conta os estudos científicos existentes e pesando vantagens e inconvenientes, a APS considera que a permanência no horário padrão [horário de Inverno] tem efeitos benéficos para a saúde física e psicológica, com eventual repercussão sócio-económica positiva”, lê-se numa notícia publicada no site da associação, onde apontam “diversos problemas a curto prazo” relacionados com a mudança para o horário de Verão”, como um sono mais curto, maior frequência de acidentes de viação e pior desempenho profissional e escolar.