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Os empreendedores mais ambiciosos dirão que metros quadrados no Chiado nunca são demais. A Burel Factory concorda e aproveitou a familiaridade com o bairro (até com a rua) para inaugurar uma segunda loja, pensada para fazer brilhar a matéria-prima nas suas 82 cores. "A história e o conhecimento aliados à inovação e à criatividade", como resume Isabel Costa, uma das fundadoras da marca.
Nas montras, a primeira pista do que podemos encontrar lá dentro — esta é uma loja dedicada à decoração e ao design de interiores, uma manifestação do crescimento desta marca criada em 2010, aquando da aquisição e recuperação da velha fábrica da Lanifícios Império, em Manteigas, por parte de Isabel Costa e João Tomás. O burel, esse material bandeira da Serra da Estrela, está presente nas mais variadas formas, das peças de tecido dobradas para criar a imagem de uma escala cromática, aos complexos pontos e recortes na origem de estofos, almofadas, biombos, cortinas e painéis.
A técnica centenária (de cozer a lã para obter um tecido denso e rígido) tem estado aliada à investigação. Em conjunto com a Universidade de Coimbra e o Itecons (Instituto de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico para a Construção, Energia, Ambiente e Sustentabilidade), a Burel Factory testou os limites deste material — força, resistência, durabilidade — e o seu potencial enquanto solução acústica.
"É uma loja desenhada de forma muito minimal, para realçar o produto", introduz Rui Tomás, a quem coube projectar o novo espaço. Desde Setembro do ano passado que assumiu a direcção criativa da Burel Factory, o que lhe permitiu explorar a versatilidade deste material, actualmente usado também como material de construção. Para o designer, as opções são quase infindáveis e incluem aplicações técnicas, potencial de reciclagem — já são feitas peças em burel a partir de desperdícios de tecido —, além de soluções de decoração que há muito vingaram no mercado.
Mas a nova loja guarda outros segredos, nomeadamente vestígios da história de uma região que já viveu do burel. Numa das paredes, vêem-se imagens da fábrica da Lanifícios Império na altura em que foi comprada. Hoje, são as máquinas, muitas delas antigas, a marcar o ritmo. Mas é na mesa vitrine colocada à entrada que jazem as grandes relíquias, incluindo um livro de debuxo de 1942, receitas de vários tipos de fio e ferramentas que chegam a ter 120 anos.
A história da produção do burel é algo de inalienável, mesmo numa marca jovem como esta. A cada colecção, desvendam-se padrões vindos directamente dos arquivos. Isabel aponta para uma das mantas em lã merino com uma derivação de um padrão de 1956. Ao mesmo tempo, antigos trabalhadores, já reformados, continuam a fazer parte do quotidiano da fábrica de Manteigas, segundo conta.
Na porta ao lado, está a primeira loja da Burel Factory em Lisboa, aberta há cerca de uma década. Em Setembro, com o lançamento de uma nova colecção de moda — um reforçar da aposta neste segmento, após múltiplas colaborações com designers ao longos dos últimos anos —, o espaço vai ganhar um novo fôlego, também ele sob a direcção de Rui Tomás. O burel passa a estar presente no Chiado em dose dupla. Tripla, aliás. A marca também já abriu um showroom — Burel Architecture — destinado a profissionais umas ruas mais abaixo.
Rua Serpa Pinto, 17A (Chiado). 962 428 418. Seg-Sáb 10.00-20.00 e Dom 11.00-19.00.