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A 5 de Março, morreu António-Pedro Vasconcelos, mas a sua obra vive. Não apenas a que ficou para trás, mas a que ainda está por vir. É o caso da série documental A Conspiração, uma produção que acompanha todo o percurso conspirativo dos militares que ficaram para a história como os Capitães de Abril. Uma rebelião que teve como gatilho a publicação de um decreto-lei, em Junho de 1973, que alterava as regras de acesso ao quadro permanente de oficiais. A Conspiração acompanha um ano de reuniões clandestinas e todos os meandros de uma organização militar que culminou na Revolução do 25 de Abril de 1974, numa série documental composta por nove episódios. O primeiro estreia a 24 de Abril, às 21.30, na RTP1.
A antestreia de A Conspiração aconteceu sexta-feira passada no CCB, marcada pela presença de antigos capitães e também do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que integra a estrutura da Comissão Comemorativa 50 anos do 25 de Abril, tutelada pelo Ministério da Cultura, uma das entidades que apoiou esta produção. E que, por isso, acompanhou o desenrolar deste processo iniciado em 2019. Uma “aventura” que se transformou numa “peça única”, segundo o Presidente da República, pelo “rigor, capacidade narrativa, na observação da realidade, na conjugação dos dados” e, “ao mesmo tempo, no distanciamento e no envolvimento”. “Esta obra, para ele, era, à sua maneira, uma obra de vida como cidadão. Era um contributo que dava para a celebração dos 50 anos do 25 de Abril e por isso se bateu até ao fim pela obra. Por isso quis estar vivo até ao fim pela obra”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.
Também presente na antestreia, o produtor Paulo Jorge Ferreira recordou que este trabalho “teve uma série de peripécias”. Inicialmente, por exemplo, estavam previstas cerca de 15 entrevistas, mas no fim acabaram por fazer quase 90. “Tivemos uma série de entrevistas brilhantes que nos apontaram caminhos diversos. Imensos detalhes, imensos pormenores interessantes e que valia a pena explorar”, defende, embora esta imersão na história fosse sempre adiando a noção de quando poderiam terminar o projecto de uma história que culminaria no “dia mais feliz da vida” de António-Pedro Vasconcelos, também conhecido pelas siglas APV. “Ele tinha que acabar este projecto, tinha o dever para com os senhores militares que aqui estão, que proporcionaram esse dia mais feliz, a ele e a todos nós, e a liberdade que usufruímos hoje”.
"No dia que morrer, ainda vou trabalhar de manhã"
Patrícia Vasconcelos, filha de APV e conhecida directora de casting, subiu ao palco do CCB para ler um comunicado redigido pela família, que entretanto partilhou nas redes sociais. “Dizias sempre, ‘no dia que morrer, ainda vou trabalhar de manhã’, e assim foi”, lembra, sublinhando que nos últimos anos APV se dedicou “em absoluto a esta série”, pontuada por algumas tragédias, da pandemia à “partida de alguns dos protagonistas”. A seu lado, no palco, estava o jornalista Adelino Gomes, hoje com 79 anos, que foi uma das vozes da rádio no dia da revolução e que é a voz da narração desta série documental. Como lembra Paulo Jorge Ferreira, “cruzou-se com o António-Pedro no Largo do Carmo, no dia 25 de Abril, onde o Adelino estava a fazer a narração para a rádio, e o António-Pedro estava na rua com milhares de outros portugueses”.
RTP1. Estreia a 24 de Abril, às 21.30
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