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Alfama volta a ser uma caixinha de fado em Setembro

O festival Caixa Alfama, que se realiza entre 27 e 28 de Setembro, voltou a ter o nome por que foi conhecido de 2013 a 2017. Mas não foi só isso que recuperou.

Luís Filipe Rodrigues
Editor
Música, Fado, Fadista, Camané
©Mariana Valle LimaCamané
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O Caixa Alfama entrou a pés juntos pelo outrora castiço, então já gentrificado e hoje apenas turístico bairro, em 2013. Na altura, aplaudimos a iniciativa e o arrojo da Música no Coração. A ideia de largar quase meia centena de artistas ou grupos num bairro não era nova – e a promotora já o fazia desde o tempo do Super Bock em Stock, na Avenida da Liberdade. Todavia, reproduzir o formato só com fadistas não ia ser fácil. E garantir o interesse do público, sem cair na monotonia, nem repetir sempre os mesmos artistas, de ano para ano, ainda mais difícil ia ser. No entanto, a organização conseguiu fazê-lo. Passados 11 anos, à beira da 12.ª edição, agendada para 27 e 28 de Setembro, o festival é uma referência da cidade.

Ao longo da última década houve, no entanto, vários nomes repetidos. E algumas edições mais murchas. A dada altura, até o patrocinador original abandonou o projecto. Mas agora está de volta. E, além do nome original, o Caixa Alfama parece ter recuperado algum fulgor.

Parte do mérito pertence a Camané. Dias antes da primeira edição, que o tinha no topo do cartaz, o jornalista e crítico musical Gonçalo Frota escrevia nestas páginas que ele era “a peça essencial deste festival”. Porque, continuava, “quando o fado era coisa de velhos para velhos, quando cheirava a memória longínqua (conservada artificialmente) dos tempos da telefonia, entre a museologia etnográfica, o chamariz para turistas e algum charme semi-clandestino, foi Camané quem se lhe entregou trazendo uma renovada pureza longe de ‘marialvismos’ em desuso”. Agora, volta a encabeçar o alinhamento.

O nome de Camané não é o único que se lia em 2013 e volta a ler-se agora. Passa-se o mesmo com António Zambujo, com Ricardo Ribeiro, com Marco Rodrigues – e não só. Estes quatro são, basicamente, os mais populares intérpretes masculinos da actualidade e estão todos no mesmo cartaz. Carminho é outra fadista de topo com presença confirmada. Os seus cinco nomes, no mesmo cartaz, são suficientes para garantir a atenção do público.

Sob os signos de Amália e Fernando Maurício

O Caixa Alfama não se foca apenas no presente. É verdade que Camané é o último a subir ao palco principal, no Terminal de Cruzeiros de Lisboa, na sexta-feira, 27 de Setembro, e que o popular Buba Espinho vai ser o primeiro. E que o álbum Marco Rodrigues canta Carlos do Carmo, deste ano, vai ser apresentado no Palco Ermelinda Freitas, localizado no rooftop do terminal. E que o iconoclasta Paulo Bragança actua no Grupo Sportivo Adicense. Mas o momento mais especial do primeiro dia vai ser a homenagem a Fernando Maurício, O Rei Sem Coroa do fado, como lhe chamou o realizador e produtor Diogo Varela Silva num documentário de 2011. O seu repertório vai ser cantado pelo compositor e fadista Jorge Fernando, que o conheceu de perto, e mais convidados. Destaca-se ainda a celebração dos 50 anos de carreira de António Pinto Basto, no Centro Cultural Dr. Magalhães Lima.

A celebração da vida e obra do rei continua no segundo dia do festival, no Palco Ermelinda Freitas, que acolhe o espectáculo Fernando Maurício pelas novas gerações, com as participações de Francisco Moreira, Miguel Moura e Rodrigo Lourenço. Não obstante, é o nome de Amália que se destaca no cartaz. O Terminal de Cruzeiros de Lisboa vai receber uma edição ao vivo do programa Em Casa d’Amália, conduzido pelo também fadista José Gonçalez na RTP1. Nesta noite de fados e conversas, o apresentador vai estar acompanhado por dois dos mais populares fadistas e cantores portugueses da actualidade, António Zambujo e Carminho – além de André Dias, Flávio Cardoso Jr e Tiago Maia.

Os outros grandes destaques do programa de dia 28 são as actuações, no palco principal, da actriz Marina Mota, que já tinha cantado na edição de 2017 do Caixa Alfama; e do incomparável Ricardo Ribeiro, que editou no ano passado o álbum Terra que Vale o Céu, em que o seu fado continua a ser banhado pelo Mediterrâneo. Há também um concerto do cantor Nuno Guerreiro, da Ala dos Namorados, no Centro Cultural Dr. Magalhães Lima. Estes são apenas os nomes mais sonantes, porém. Entre sexta-feira, 27, e sábado, 28, o festival volta a dar música a muitos outros pontos do bairro, do auditório da Abreu Advogados ao Memmo Alfama Hotel, passando pelo Largo do Chafariz de Dentro e o Largo de São Miguel, pelas igrejas de Santo Estevão e de São Miguel, ou a Sociedade Boa União. E o Museu do Fado, claro.

Vários locais (Alfama). 27-28 Set (Sex-Sáb). 25€-45€

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