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E, de repente, passaram quase duas décadas desde o episódio final de O Sexo e a Cidade. Descontadas as duas incursões pelo cinema (a segunda ainda menos bem conseguida do que a primeira), o mais elegante grupo de amigas da TV está fora do ecrã lá de casa há tempo suficiente para a moda ter dado uma volta inteira à paleta de gostos e regressado (mais ou menos) ao ponto em que estava quando a série se tornou na coqueluche da HBO, no final dos anos 1990. Quando terminou, em 2004, a Era Dourada da Televisão estava lançadíssima. Agora, está de volta numa altura em que, apesar de o número de produções continuar em acelerado crescimento, se debate se essa época de fulgor criativo já pereceu. E um dos sintomas dessa perda de brilho talvez seja o retorno a títulos muito populares do passado, com spin-offs, reuniões, reboots, sequelas – e no entanto não param de se estrear. Só nas últimas semanas tivemos os casos de Gossip Girl e Dexter, e em breve teremos House of the Dragon (prequela de A Guerra dos Tronos) ou How I Met Your Father (sequela de How I Met Your Mother). No que toca a O Sexo e A Cidade, o que teremos semanalmente na HBO a partir de quinta-feira, 9 de Dezembro, é uma continuação da narrativa original sob uma outra designação: And Just Like That...
A série está a ser apresentada como um novo capítulo – e quase todas as personagens principais estão de volta para estes oito episódios. A gritante excepção é Samantha Jones, a desempoeirada RP interpretada por Kim Cattrall. A actriz não quis participar e chegou a sugerir que Samantha fosse reinventada como afro-americana ou hispânica, algo que não acontecerá. A equipa de produção liderada por Michael Patrick King (realizador de ambos os filmes e de vários episódios das temporadas originais) decidiu incorporar a ausência no guião de And Just Like That..., sem com isso impedir uma eventual conciliação futura. Isto é, sem mortes nem nada de definitivo quanto a Samantha Jones. O subterfúgio narrativo é simples: o tempo passa, as pessoas mudam. Para a frente é que é o caminho. Se a dinâmica entre Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker), Charlotte York (Kristin Davis) e Miranda Hobbs (Cynthia Nixon) será suficiente para fazer os fãs ultrapassarem a ausência de Samantha é o que ainda estamos para ver. Mr. Big (Chris Noth), Aidan Shaw (John Corbett) – isto é, o actual e o ex de Carrie – também estão de regresso, tal como Steve Brady (David Eigenberg), Harry Goldenblatt (Evan Handler), Anthony Marentino (Mario Cantone) e Stanford Blatch (Willie Garson, que morreu este ano). Mas o elenco estará reforçado e mais diverso com Nicole Ari Parker (Empire), Karen Pittman (The Morning Show), Sara Ramirez (Anatomia de Grey), Sarita Choudhury (Segurança Nacional).
Uma ausência mais discreta é a de Darren Star, o criador da série original (a partir das crónicas de Candace Bushnell no The New York Times), que está ocupado a escrever e produzir comédias românticas para a Netflix – a segunda temporada de Emily in Paris estreia-se no final do ano e, em 2022, sairá uma novidade protagonizada por Neil Patrick Harris, Uncoupled. De qualquer forma, And Just Like That... centrar-se-á no que sempre se centrou O Sexo e a Cidade: as relações de um grupo de mulheres a viver em Nova Iorque. Bom, não de todas as mulheres – mais das que têm a possibilidade de calçar uns Manolo Blahnik e cruzar com eles o seu walking closet recheado. A diferença é que estas mulheres – Carrie, Charlotte e Miranda – já não estão na faixa dos 30 anos. O tempo passa e a vida é diferente aos 50. Sarah Jessica Parker ainda tentou uma variação desta ideia numa outra série para a HBO, Divorce (2016-2019). Mas não há nada como a real thing – e ela aí está.
HBO. Qui (estreia T1)