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Ao fim de 40 anos, o Zé Varunca mudou de casa. Tudo o resto continua igual

Os dois restaurantes que existiam até agora, no Bairro Alto e em Santo Amaro de Oeiras, fecharam, mas o Zé Varunca continua a contar a sua história e a homenagear o Alentejo, agora num espaço maior em Paço de Arcos.

Cláudia Lima Carvalho
Editora de Comer & Beber, Time Out Lisboa
Zé Varunca
Ricardo Lopes
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Há restaurantes que (quase) nunca nos falham. Sabemos que estão sempre lá, por mais tempo que possamos passar sem aparecer ou mesmo que até possam mudar de morada uma e outra vez. O Zé Varunca, típico alentejano, é disso exemplo. Quarenta anos depois de tudo ter começado, o restaurante reinventa-se novamente, sem nunca mexer no que melhor sabe fazer: o receituário alentejano. 

De duas casas, uma no Bairro Alto e outra em Santo Amaro de Oeiras, o Zé Varunca passou a ter apenas uma morada, em Paço de Arcos, um espaço maior e mais moderno, que em breve pode até vir a ganhar uma esplanada. Poder-se-ia pensar que a pandemia teria alguma responsabilidade na mudança, como tem acontecido em grande parte do sector da restauração, mas João Sousa, filho mais novo de José Varunca de Sousa – o Zé Varunca –, garante que não. “Já antes da Covid tínhamos a ideia de só ter uma casa, uma casa maior, e juntarmos a família toda só num espaço, também para termos um bocado mais de vida”, começa por contar o responsável, que a par do irmão, Rúben Sousa, é hoje a cara de todos os dias no restaurante. O pai também anda por lá, mas já não todos os dias, dividindo-se entre Estremoz e Oeiras. Na cozinha está a mãe, Teresa Sousa. “Os meus pais já estão a começar a ficar com uma idade em que se querem reformar e um dos pilares é a nossa mãe, que ainda hoje está na cozinha. Estando o núcleo todo junto será mais fácil a formação de novas pessoas”, explica. 

Zé Varunca
Ricardo LopesEnsopado de borrego

O restaurante do Bairro Alto foi o primeiro a fechar. “Havia uma pessoa interessada e o negócio até estava morto, então pensámos que era o momento. Na mesma altura tínhamos já este restaurante em vista”, continua João. Já em Santo Amaro de Oeiras, o problema era outro. “Estávamos ali há 18 anos e era preciso actualizar algumas coisas. Por exemplo, as casas de banho e a cozinha, mas como a casa não era nossa, não nos estavam a permitir avançar.”

No sítio onde agora estão, uma zona residencial, onde fica também a Escola Superior Náutica Infante D. Henrique, não muito longe da praia de Paço de Arcos, conseguiram modernizar-se sem perder o ar de típica casa alentejana. “Isto já era um restaurante, só precisamos de fazer obras para melhorar o espaço e termos condições de receber aqui os nossos clientes.”

Entre as novidades, está uma garrafeira climatizada e uma pequena zona de espera. Tudo o resto é Zé Varunca. Os pratos pendurados na parede, a recriação do que será uma casa alentejana, as ferramentas de trabalho no campo aqui e ali, as toalhas coloridas e floridas, as cadeiras e a louça. “Fizemos a casa a nosso gosto. Temos coisas novas, mas aproveitámos as decorações dos dois restaurantes para aqui”, aponta João. 

Zé Varunca
Ricardo Lopes

À hora do almoço de um dia de semana, o restaurante está cheio e grande parte das mesas é feita de clientes de sempre. Não foi preciso comunicar muito para que as pessoas se mudassem para ali naturalmente, conta João. “Às vezes quando nos ligam para fazer alguma reserva avisamos que mudámos de morada e dizem-nos quase sempre: ‘Já sei’.”

Zé Varunca
Ricardo LopesSaladinhas diversas

E se Janeiro não é habitualmente um mês fácil, especialmente este ano com o crescimento exponencial de casos Covid, por aqui não se tem sentido essa quebra. “Tem sido muito positivo. Isto faz-nos pensar que, quando isto [a nova vaga de infecções] acabar, só vai melhorar. Se agora é assim”, comenta João. “Ao jantar durante a semana baixa um bocadinho, mas durante a semana está sempre cheia. Temos 70 lugares, dava para mais um bocadinho, mas não quisemos apertar muito.” Se tudo correr como planeado, o Zé Varunca pode ter pela primeira vez na sua história uma esplanada, ganhando mais uma dezena de lugares. 

Zé Varunca
Ricardo LopesMigas à alentejana com entrecosto no cacete

Entre tantas novidades, há algo que não mexeu: a comida. Nem podia, garante o filho de Zé Varunca. É pela tábua enorme de entradas com várias saladinhas típicas como grão com bacalhau ou orelha de porco (3,50€) que os clientes aqui chegam. Pela sopa de cação (10,50€), pelo cozido de grão à alentejana (12,50€), pelo ensopado de borrego à alentejana (15€), pela sopa de tomate com chouriço e toucinho frito (7,50€) ou pelas migas à alentejana com entrecosto no cacete (12€) – tudo sempre servido em doses generosas. Os pratos variam conforme os dias, precisamente para garantir que são sempre feitos na hora com os ingredientes frescos. “Talvez os mais procurados passem para a lista que é fixa”, diz João. Lista essa que inclui, por exemplo, açorda de gambas (15,50€) e perna de borreguinho assada no forno (15€).

Nas sobremesas, continua lá tudo, das farófias (4€) ao doce da casa (4€), feito com amêndoa, pão, canela e ovos. 

Zé Varunca
Ricardo LopesFarófias e doce da casa

Prontos para mais 40 anos? “Para muito tempo sim, mais 40 não sei porque é muito exigente. Passamos muitas horas nisto e por isso é que nos juntámos. Como o restaurante é muito tradicional, o próprio cliente quer muito saber a origem, se somos alentejanos. Temos de estar presentes.”

Av. Eng. Bonneville Franco 22, Paço de Arcos (Oeiras). 21 441 1839. Seg-Sáb 12.00-15.00, 19.30-22.30

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