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Desde 2018 que o Maxime é um hotel. Mas o espaço de restauração no piso térreo manteve-se e tem estado de porta aberta para todos os que apreciam uma refeição acompanhada por espectáculos de cabaret. Os artistas da casa, liderados pela anfitriã Vanity Redfire, dedicam-se todos os meses a um tema específico, sempre acompanhado por histórias dos últimos 75 anos – a idade deste espaço que já teve várias vidas. Por exemplo, no passado mês de Maio, o tema foi Secrets e os clientes eram desafiados a partilhar, anonimamente, íntimos segredos que colocavam por escrito numa cartola. Este mês de Junho, piscando o olho aos santos populares, o tema é Saints & Sinners. Em bom português, santos e pecadores, embora os espectáculos sejam inclusivos e falados tanto em português, como em inglês.
Todas as sextas-feiras de Junho, os Saints & Sinners estarão em cena, sempre a partir das 20.30. Primeiro, a 7 de Junho, com os artistas Vanity Redfire (anfitriã de cabaret e cantora), Kina Karvel (performer drag inspirada em contos de fadas) e Mizz Kat Tigerfell (performer de burlesco); depois, a 14, com Vanity Redfire, Véronique Divine (performer de burlesco e dança oriental) e Belle Dommage (performer drag multidisciplinar); e por fim, no dia 21, com Vanity Redfire, Patty Lime (ginasta e bailarina) e Véronique Divine.
Os jantares com espectáculo de burlesco têm o lema “good girls go to heaven, bad girls go to Maxime” (as boas raparigas vão para o céu, as más raparigas vão para Maxime) e um menu especial. Para entrada há tártaro de bacalhau fresco, salada algarvia e torricado de pão alentejano; o prato principal é vitela em massa tenra, couve macerada e jus de vinho do Porto; e para sobremesa uma fartura com gel de ginjinha e gelado de trouxa de ovos.
“A nossa história é uma continuidade de outra vida do Maxime”
À boleia dos 75 anos de Maxime, estivemos à conversa por telefone com Lúcia Marques, directora geral desde finais de 2019. Foi ela que assumiu as rédeas de um espaço que, apesar de mais moderno, não quer perder a ligação com o passado. “Estamos a falar de uma casa que existe desde 1949. E, portanto, a história deste espaço é única e é só nossa. [...] O Maxime teve várias fases, várias vidas – do cabaret de luxo, quando abriu, a ter decaído, 20 anos depois da abertura, chegando até a ser, segundo consta, um bar de alterne. Depois passou para as mãos do Manuel João Vieira como um bar de noite, com uma programação e uma abordagem muito própria. A nossa história, no fundo, é uma continuidade de outra vida do Maxime. E há um elemento que foi sempre comum a todas estas vidas tão distintas: foi nunca se deixar que a alma do cabaret morresse”, descreve Lúcia Marques.
Hoje, o Maxime é essencialmente um hotel, que prolonga a alma do burlesco andares acima. “O cabaret subiu para todo o hotel. E essa é uma diferenciação que queremos que fique cada vez mais cunhada, mais ainda agora com a celebração dos 75 anos. É mais importante do que nunca não deixarmos que o nosso ADN morra”, defende a directora-geral.
O que também sobrevive é um conjunto de artistas que nunca desistiu do cabaret, como Vanity Redfire (nome artístico de Jaya Girão), produtora e curadora, e dos artistas do colectivo Voix de Ville que vão subindo ao palco. “Nós consideramos que é nosso dever e até consideramos como nossa obrigação este apoio a um projecto cultural que é de nicho, mas que também é distinto em Portugal”, diz Lúcia Marques, que também recorda um pouco da história da chegada do cabaret a Lisboa. “As actuações com este registo começaram no início do século XX com a chegada dos clubes nocturnos em Lisboa – o Bristol, o Maxim’s, que é o actual Palácio Foz, a Casa do Alentejo, o Fontória, o Ritz, outros clubes nocturnos que surgiram e tiveram o seu primeiro grande expoente nos anos 20, após a Primeira Guerra Mundial, e que tinham muitas actuações de cabaret”.
Voltando ao mês de Junho, um mês que celebra um santo católico mas que também é tão boémio, perguntamos a Lúcia Marques se este equilíbrio entre o bem e o mal – que vai também marcar a agenda no restaurante do Maxime – é um casamento improvável, mas perfeito. “Os Santos Populares têm uma característica muito própria. As pessoas muitas vezes ligam às actividades religiosas, mas socialmente é a capacidade de juntar todas as classes sociais. A questão dos bairros se afirmarem permite uma mescla social bastante grande. E o cabaret também tem isso, não tem um perfil exacto de cliente. Na realidade toda a gente gosta ver aquilo que supostamente é proibido ou diferente”.
Pelo menos até ao final do ano, todos os meses continuarão a apresentar uma temática diferente, que “remeterá para uma época, ou para um episódio, ou para o universo do cabaret, do Maxime, e mesmo de Lisboa, de tudo o que se vivia em Lisboa à época”.
Maxime. Praça da Alegria, 58. 21 871 6600 Sex 20.30. Saints & Sinners: 48€