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Num circuito artístico que muitas vezes se fecha sobre si próprio, e em que escasseia um diálogo regular e produtivo entre estruturas de diferentes dimensões, há que dar as boas-vindas à primeira edição da Gaivotas <-> Belém, uma mostra de artes performativas pensada em conjunto pelo Teatro Praga, O Espaço do Tempo e o Centro Cultural de Belém (CCB). De 8 a 13 deste mês, entre a Rua das Gaivotas 6 e o CCB, este programa gizado por Rui Horta, coreógrafo e director de O Espaço do Tempo, e por Pedro Barreiro, artista e programador da Rua das Gaivotas 6, tem como missão primordial “oferecer condições e espaços de visibilidade e de reconhecimento a artistas emergentes da cena contemporânea portuguesa”.
Bruna Carvalho, Joãozinho da Costa, Luara Raio e Silvestre Correia apresentam espectáculos em estreia, espelhando – ainda que numa pequeníssima amostra – a crescente diversidade étnica e estética do tecido de artes performativas em Portugal e os jovens criadores que o vão nutrindo, apesar dos variados obstáculos que encontram face a programações ainda demasiado conservadoras e largamente ancoradas em nomes já instituídos. Como tal, a parceria entre estes três espaços é simbólica. A Rua das Gaivotas 6, projecto do Teatro Praga, tem desempenhado um papel importante no estímulo da cena artística independente lisboeta, sobretudo no apoio, no acolhimento e na apresentação de artistas emergentes e divergentes. O Espaço do Tempo, em Montemor-o-Novo, é talvez o centro de residências mais relevante em Portugal, referência incontornável para uma série de criadores de diferentes gerações nos últimos 20 anos. E o CCB representa uma das instituições culturais de maior dimensão, projecção e com mais recursos financeiros a nível nacional.
A mostra arranca nas Gaivotas nos dias 8 e 9 com Fidjo di Tchon, de Joãozinho da Costa, actor-autor que conhecemos de colaborações com Rui Catalão e Marlene Monteiro Freitas. Num circuito em que as portas se vão abrindo, ainda que timidamente, a criadores africanos e afrodescendentes, Joãozinho da Costa lança-se com uma peça sobre a chegada a Bissau de um guineense que mora na Europa, ao mesmo tempo que constrói uma crítica acerca da acumulação de lixo nas sociedades contemporâneas e a forma como isso causa danos à vivência quotidiana dos cidadãos, particularmente aqueles que vivem em países empobrecidos. A 9 e 10 entra em cena, no CCB, Bruna Carvalho com o solo Penumbra, em que a criadora explora a luz de uma forma quase dramatúrgica, numa interacção poética e experimentalista com a coreografia e o corpo, a sonoplastia e o desenho de luz.
Uns dias depois, a 11 e 12 nas Gaivotas, Silvestre Correia apresenta Filme, um trabalho em que se procura gerar um encontro entre o dispositivo teatral e o cinema, num acto performativo que “se duplica e cujas partes jogam entre si numa constante luta pelo incerto”. O encerramento da mostra fica a cargo da coreógrafa brasileira Luara Raio, no CCB, com Apocalypso, onde performatividade, espiritualidade, ficção e feitiço se mutuam. O espectáculo é interpretado e co-criado pela artista brasileira Acauã El Bandide Sereia. No final, haverá uma conversa sobre a primeira edição da Gaivotas <-> Belém.
Rua das Gaivotas 6 e CCB. Ter 8 a dom 13. Vários horários. 7,50€-10€
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