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As Bifanas do Afonso: “Abrem muitas casas novas, mas não é nada disto”

Há 50 anos que no Largo do Caldas resiste este pequeno snack-bar. Começa a servir logo cedo e não tem hora que sossegue.

Cláudia Lima Carvalho
Editora de Comer & Beber, Time Out Lisboa
As Bifanas do Afonso
Arlei Lima
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É, provavelmente, o balcão mais pequeno da cidade – quatro pessoas já é demais –, mas nem por isso o menos concorrido. À hora do almoço, a fila fala por si. Nada que assuste José Rodrigues, o homem que comanda a frigideira à janela, onde as finas fatias de carne de porco se envolvem num molho sem segredos: vinho branco, banha e alho. A arte está na facilidade com que tudo é feito, sempre a olho, sempre certeiro. Eis As Bifanas do Afonso, casa com quase 50 anos de história, na Rua da Madalena. 

As Bifanas do Afonso
Arlei Lima

O senhor Afonso, como é conhecido por ali, reformou-se e José entrou em campo, já passaram sete anos, praticamente. À semelhança de Afonso, também José é da aldeia de Covas, em Vila Nova de Cerveira – podia ser apenas um detalhe, mas é mais do que isso se nos lembrarmos que durante muito tempo, e para os clientes mais antigos, este cantinho no Largo do Caldas tinha como nome Bar Covense.

“Venho aqui desde os 15 anos, era só velhotes, a beber o seu copito. Agora é uma máquina de fazer dinheiro”, diz um cliente habitual da casa, em tom de brincadeira, enquanto espera pela sua sandes com queijo da Serra (2,50€), como já não se vê em muitos sítios. “Nada disso, é uma máquina de trabalho, isso sim”, responde José, com um olho no balcão e outro na frigideira. Passa pouco das 11.00 e já tem pedidos seguidos de bifanas (2,70€). 

As Bifanas do Afonso
Arlei Lima

É sempre assim, garante. Bifanas logo de manhã, perguntamos? “Claro, desde as 08.00.”

De manhã, a janela para o Largo do Caldas, que serve como um segundo balcão, ainda está fechada. Abre à hora do almoço, quando os turistas se amontoam. Há quem não saiba ao que vem e acabe, por exemplo, a pedir uma bifana com uma meia de leite, como vimos acontecer com umas turistas asiáticas. “Bifana com leite? Não faça isso”, não hesita em responder o empregado. Perguntam-lhe o que beber: “Cerveja!”. “No, no.” E resolvem com um sumo. A verdade, diz José, é que mesmo assim são cada vez mais aqueles que chegam com a lição estudada. “Hoje em dia, com as redes sociais, a informação passa, já sabem o que querem. É uma vantagem, de certa forma”, destaca o responsável. “Já vêm com as fotos, querem pataniscas, querem aquilo, e aqueloutro.” Mas as bifanas é que são o bestseller, quase sempre acompanhadas de uma imperial, lá está. Ajuda o destaque que alguns nomes conhecidos lhe dão, como o chef Nuno Mendes, que começou a fazer bifanas no seu restaurante de Londres, O Lisboeta, apontando sempre esta casa com uma referência. A propósito, José vai buscar uma revista: “Não é qualquer tasca que sai no Financial Times. Nós estamos aqui em destaque a reboque do Nuno Mendes.” 

As Bifanas do Afonso
Arlei LimaJosé Rodrigues

Já os locais, esses, sabem que podem sempre pedir pela porta da Rua da Madalena, havendo espaço até conseguem comer lá dentro. Até porque esses são menos. “O turismo é que é o boom do dia. Os outros são sempre mais ou menos os mesmos, mais dez, menos dez”, conta José, lamentando a falta de concorrência na zona. “É pena, abrem muitas casas novas, mas não é nada disto.”

As Bifanas do Afonso mantêm-se quase como um último reduto de uma Lisboa que vai desaparecendo no tempo. “Há alguma pressão imobiliária, mas por enquanto, vamos resistindo”, garante o responsável. “Não tem sido difícil, tem corrido bem. Tem havido uma actualização de rendas. Acho que isso é mais que justo. As coisas têm de normalizar, também não é justo rendas de 50€. Daí as coisas agora terem mudado, para nós e para outros.” Não há, porém, motivo de alarme, assegura. 

Rua da Madalena, 146 (Baixa). Seg-Sex 08.30-18.30, Sáb 09.00-13.30

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