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A par de um trabalho mais autoral, a artista visual Sandra Lourenço desenvolveu também uma linha de peças artesanais. Tanto num caso como noutro, a fotografia é de onde tudo parte. Depois, a artista vai seguindo os caminhos que os materiais revelam.
“Saí da escuridão, agora vim para a luz”, comenta com uma gargalhada descontraída Sandra Lourenço, referindo-se ao seu percurso autoral, predominantemente ambientado na noite e na floresta, com projectos com nomes tão sintomáticos como No Breu ou Nocturnes, por contraponto com as peças artesanais mais recentes, de estética mais luminosa. “Gosto muito de fotografar à noite e tenho uma estética bem dark, e de repente tive que lidar com o contrário e trabalhar numa patine muito mais luminosa, para as caixas de luz.” Faz questão de separar as águas: as caixas de luz são assinadas por Zandlou (@zandlou), enquanto os projectos autorais, que podem ser vistos em sandralourenço.com, são assinados em nome próprio.
Sandra estudou Fotografia no Ar.Co e licenciou-se em Publicidade no IADE. Depois, em 1997, foi viver para Barcelona, onde fez um mestrado em Comunicação Audiovisual, na Universidad Autónoma de Barcelona. Foi aí que começou a expor, em mostras individuais e colectivas, à medida que explorava técnicas de transferência de imagem, estampagem e impressão directa em diferentes suportes. Em 2011 regressou a Lisboa e tem sido o trabalho de transferência de imagem em madeira o seu maior foco. Uma escolha natural, já que o seu discurso autoral é predominantemente ambientado na floresta e as árvores são um dos seus grandes temas. Mais recentemente anda também a explorar o formato vídeo e a colaborar em projectos transdisciplinares.
Primeiro, ainda no Ar.Co, imprimia em tecido, com emulsões, depois fez umas experiências de transferência de imagem de fotos suas para t-shirts. Daí começou a pensar noutros suportes, apareceu a transferência de imagem para madeira e para cerâmica. “É uma necessidade imensa de fundir a fotografia com outros materiais, o tempo todo a levar a fotografia para uma dimensão mais plástica. Trabalhar com a luz é como trabalhar com a madeira, ou o tecido ou a cerâmica, é mais um suporte, é andar à procura.”
Um dia comprou material de caixas de luz (Duratrans, aquela tela dos múpis) e começou a fazer experiências. “Eu não pregava um prego na parede, e comecei a fazer estes candeeiros totalmente à mão, até montava os casquilhos.” Os candeeiros a que se refere são de 2018, uns cilindros em Duratrans onde as fotografias são impressas, encaixados num suporte de madeira que ela própria fazia, casquilho, lâmpada led, fio e interruptor – os mesmos materiais das actuais caixas de luz. Foi assim que começou a trabalhar a madeira, e a sua oficina ganhou novos habitantes: escopros, formões, torno, tico-tico, o Dremel (um pequeno berbequim multiusos – “mágico!”).
Dos cilindros passou para as caixas de madeira retro-iluminadas, uma fórmula vencedora inteiramente desenhada por ela. As caixas são executadas por um amigo marceneiro e é ela que as monta. Parece simples, mas fio, casquilho e lâmpada não estão no mesmo sítio em todas as caixas – depende da fotografia que iluminam. Tudo tem de ser pensado. Actualmente são três os formatos para venda: 20x30 cm (70€), 25x40 cm (90€) e 20x70 cm (180€), com preços a que acresce IVA.
“Fazia as retro-iluminações, mas estava a aborrecer-me. Um dia quando estava a montar as peças, comecei a ver ali uns teatrinhos. Isto não tem de ser retro-iluminado! É ao mexer no material que percebes que podes fazer de outra maneira.” Começou a pôr a foto no fundo e a construir as molduras, deixando aquele espaço de profundidade, dentro do qual o ponto de luz está algures dissimulado. Mais tarde começou a pôr também a foto em redondo e a criar um outro efeito.
“Foi a técnica que levou à estética, à medida que trabalho um material vão aparecendo mais ideias”, explica. "Aesthetic positions could be reached also with technical positions", diz o Instagram de Zandlou, citando Gottfried Jäger.
Não há dois iguais. Estes “pequenos cenários, teatrinhos”, como Sandra lhes chama, são únicos em tudo. Na fotografia, na moldura, na iluminação, na dimensão. Sandra acha que as pessoas têm mais gosto em ter peças únicas, e para ela “é muito mais divertido do que fazer chapa quatro”. Estas peças têm preços que começam nos 90€ (+IVA) e podem ser encomendadas e feitas à medida.
Nestas peças “parece tudo muito óbvio, mas não é nada”, diz Sandra. Não só é difícil encontrar boas imagens, como iluminá-las naquele espaço tão limitado do interior da moldura muitas vezes é um quebra-cabeças: “Se for teatrinho, tem que se ter cuidado com os reflexos, se for retro, facilmente pode rebentar com a imagem. A luz dá um trabalhão.”
“O que é bonito é ficarem imagens mágicas, não é? Mas não é fácil.”
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