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As crianças vão aprender que “tudo vem dos mitos, até os super-heróis”

Escrito por
Miguel Branco
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A nova criação do Teatro da Cidade, que se estreia esta quarta-feira no Museu da Marioneta, é um espectáculo infantil sobre figuras mitológicas da Grécia Antiga. Narciso é uma delas. Em Agora, que o carro do sol já passou convém ter cuidado com o reflexo.

Para chegar até aqui, o Teatro da Cidade enterrou-se. Isto é: nas “Noites Curtas” – festival de peças de teatro curtas que decorreu em Montemor-o-Novo em Julho – cobriram-se de terra, deixando apenas a boca de fora para dizer o primeiro de dezasseis livros de Metamorfoses, de Ovídio, com o propósito de “decifrar uma obra que tem uma linguagem altamente complexa, poética e distante de nós”, explica Guilherme Gomes. No fundo, meter por palavras deles. Depois leram os três volumes que se seguiam, escolherem quais os mitos que mais lhes interessavam e esta quarta-feira, numa co-produção com o Museu da Marioneta, estreiam Agora, que o carro do sol já passou, um espectáculo dedicado ao público infantil. A encenação, desta vez, é de Nídia Roque e o texto de Guilherme Gomes.

Situemos a cena: há uma árvore com máscaras penduradas – feitas, convém dizer, por turmas de 3.º e 4.º anos de uma escola lisboeta – uma escada infinita, até ao céu, um pano preto com leds ao fundo, um charco, e dois lençóis que se prendem a um estendal improvisado e servem projecções ilustrativas. Dito isto, a coisa começa com um homem com uma cabeça de urso polar. Que à segunda passagem já não a tem, já é Narciso, o tal rapaz da história universal, que se apaixona pelo seu reflexo na água. Narciso parece perdido, olha em redor, tenta perceber onde está, o que se passa, que universo distinto é este aonde veio parar. Parece haver uns guardadores deste local, alguém que sempre esteve aqui e que toma a coisa quase como um trabalho. Agora, que o carro do sol já passou é muito isso: a dedicação mágica destes guardadores – que às tantas também desaguam noutras personagens míticas – para com Narciso, projectando-lhe um mundo que o faça pensar, que o faça largar o seu reflexo. “Isto tudo acaba por ser para o Narciso aprender algo e não repetir. É como se como se todos os dias pudessem aparecer novos mitos e personagens que possam gerar alguma coisa nova, alguma aprendizagem”, esclarece Nídia Roque.

Este é o primeiro espectáculo para crianças do Teatro da Cidade e surge para combater essa ideia condescendente de que os mais jovens não entendem. “Os espectáculos infantis são sempre marginalizados. É um dos públicos mais essenciais, são aqueles que estão a ser cativados para ir ao teatro. Porque não pegar na literatura clássica para fazer um espectáculo para crianças? Tudo vem dos mitos, até os super-heróis”, avisa Nídia Roque. Frase à qual Guilherme Gomes ainda acrescenta: “Fazer espectáculos infantis é precisamente não fazer espectáculos infantis”.

Texto Guilherme Gomes. Encenação Nídia Roque. Com Bernardo Souto, Fernão Biu, Guilherme Gomes, João Reixa e Rita Cabaço.

Museu da Marioneta. Qua-Sex 10.30 (escolas). Sáb 16.00. Dom 11.30. 3-5€.

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