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Mulheres num cabeleireiro, combates de boxe, leituras nos transportes públicos, festas, galgos afegãos no banco traseiro de um Pontiac. O mundo foi fonte inesgotável de estímulos para as fotografias de Stanley Kubrick (1928-1998), muito antes de este deixar o nome inscrito na história do cinema. A partir do dia 25 de Fevereiro e até 22 de Maio, no Centro Cultural de Cascais, o público pode descobrir “Through a Different Lens – Stanley Kubrick Photographs”, uma exposição sobre a obra fotográfica do cineasta norte-americano.
"Não é só essa ideia genérica de cinema que podemos descortinar nas fotografias, não, é também aquilo que diz respeito às preocupações, às inquietações, que naquela altura Kubrick sentia e que se vieram a refletir sobretudo nessa primeira fase da produção cinematográfica”, desvenda Salvato Teles de Menezes, presidente da Fundação D. Luís I, que tem a seu cargo a programação cultural do Centro Cultural de Cascais.
A mostra, com curadoria de Sean Corcoran e Donald Albrecht, nasce a partir dos arquivos do Museum of the City of New York, e inclui 130 fotografias, muitas delas nunca publicadas, bem como como reportagens do cineasta enquanto jovem fotógrafo na revista Look, uma publicação em que o realizador de Laranja Mecânica (1971) e The Shining (1980) começou a trabalhar com apenas 17 anos. Antes de chegar a Cascais, a exposição passou por Trieste, Itália.
Os curiosos pelo legado fotográfico de Kubrick poderão descobri-lo em três salas distintas no primeiro piso do Centro Cultural de Cascais. Além das imagens estáticas, um dos espaços é dedicado à projecção do primeiro filme do realizador. “É um documentário chamado Fight Night, que é sobre o mundo do boxe, que sempre interessou a Kubrick, não só como fotógrafo, mas também enquanto cineasta”, explica o responsável.
“Esse primeiro filme está na sequência directa das fotografias e percebe-se, por um lado, que as fotografias antecipam a ideia de cinema de Kubrick. Por outro lado, esse filme antecipa, embora seja um documentário, um filme de ficção que Kubrick fez depois”, adianta Salvato Teles de Menezes. Mas pese embora as referências à cinematografia de Kubrick existam – assim como uma secção inteiramente dedicada à passagem “de fotógrafo a cineasta” – o objectivo é revelar a faceta menos conhecida do realizador.
“Houve um crítico que uma vez disse que na primeira parte da obra de Kubrick a instância ideológica era muito forte, e que depois se foi diluindo e evoluindo para outras preocupações. Aqui, na fotografia, não é por acaso que há um dos temas da exposição que se chama Inquietações. O que vemos aqui são os temas que mais inquietam Kubrick quando ele fotografava”, sugere o presidente da Fundação, elencando algumas características visíveis na mostra: “o interesse pelas pessoas, pelos indivíduos, pelos seres humanos” e “a preocupação de apreender as várias dimensões que cada pessoa tem”.
A exposição da obra fotográfica de Kubrick surge pouco depois de uma grande mostra dedicada à fotógrafa norte-americana Vivian Maier. Também o trabalho de Herb Ritts já passou pelo Centro Cultural de Cascais, que reafirma assim o compromisso de fazer da fotografia um foco da programação. “Foi uma opção que tomámos. A aposta principal é a fotografia”, assume o presidente da Fundação D. Luís I, antecipando a próxima mostra, planeada ainda para 2022: “É de uma outra grande fotógrafa que é muito pouco conhecida em Portugal e na Europa chamada Margaret Watkins, e que vai ser seguramente outro grande êxito.”
Centro Cultural de Cascais. 26 Fev-22 Mai. Ter-Dom. 10.00-13.00 14.00-18.00. 5€
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