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Não se espante se em vez de queijos e presuntos, encontrar uma obra geométrica na montra da Manteigaria Silva, ou se em vez de livros, der de caras com pinturas na montra d’O Mundo do Livro. A arte funde-se com a tradição no novo roteiro pelas lojas históricas da cidade, uma ‘Coleção Primavera/Verão – 10 artistas plásticos, 10 Lojas com História’, que junta a EGEAC e a Câmara Municipal de Lisboa, à boleia do programa Abril em Lisboa.
“Começámos a pensar de que forma poderíamos criar um projecto que aliasse a cultura com esta zona da Baixa e, ao mesmo tempo, fazer um encontro entre comércio local e artistas plásticos”, explica Joana Gomes Cardoso, presidente da EGEAC. Daí surgiu esta colaboração entre Lojas com História e artistas portugueses que levaram a sua arte até às montras destas casas centenárias – em alguns casos com obras já desenvolvidas, noutros com instalações feitas de raiz com produtos da loja. O resultado já está em exibição e pode ser visto até dia 15 de Maio.
Miguel Januário, conhecido como ±MaisMenos±, é um dos nomes que salta à vista no programa e cuja obra pode ser vista na montra da Casa Buttuller, na Rua Barros Queirós. Ao longe lê-se a frase “o estado a que isto chegou” sob um painel vermelho, mas à medida que nos vamos aproximando vemos cada letra transformar-se em pequenos pins, emblemas e até pequenas frases dentro das próprias letras. “Tentei trazer para a montra não só os produtos que a loja vende, mas também um grito de liberdade lembrando a famosa frase de Salgueiro Maia”, esclarece Miguel.
Muitos artistas pensaram as suas obras de acordo com a ligação emocional que têm com o local – é o caso de João Queiroz que trouxe uma nova imagem à montra da Drogaria Central, na Rua da Prata, através de materiais que costumava ir lá comprar em miúdo. Outras obras destacam-se pela estranheza que causam tanto aos clientes, como aos proprietários. Foi o caso da peça de Fernanda Fragateiro, que surpreendeu o senhor José Branco, dono da Manteigaria Silva, na Rua Dom Antão De Almada: “Ao princípio custou-me perceber a arte que aquilo tem, hoje já vejo outras coisas. Estou a aprender”.
Expectativas? “Tudo o que vier é bom”
Para a organização e para os artistas esta iniciativa pretende atrair mais consumidores às lojas centenárias, mas nem todos os proprietários carregam a mesma esperança. Ainda assim, não é por isso que deixam de sair satisfeitos com o resultado final. “Tudo quanto seja privilegiar a Baixa de Lisboa e estas casas históricas é sempre bom”, diz José Branco. Já Conceição Lampreia, proprietária da Casa Buttuller, mostra-se mais positiva: “Esperamos que venham ver, muitos já conhecem a casa, e sempre levam um pin, um emblema, uma bandeira”.
Mesmo sem ilusões, estes proprietários mostram-se sempre disponíveis para projectos que lembrem o valor histórico e cultural destas casas. Tanto que a EGEAC está a planear fazer uma edição Outono-Inverno da iniciativa, já em Setembro deste ano.
Além da Casa Buttuller, da Drogaria Central e da Manteigaria Silva, também fazem parte deste projecto a Livraria Ferin, a Chapelaria Azevedo Rua, a Sapataria A Deusa, O Mundo do Livro, a Au Petit Peintre, a Joalharia Ferreira Marques e a Casa Macário. Pode visitá-las (e às suas montras) seguindo o percurso sugerido pela EGEAC, disponível em culturanarua.pt, ou fazendo as suas próprias paragens. Só não vale ficar à porta.