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As mulheres e o trabalho: há fotografias inéditas de Maria Lamas na Gulbenkian

A exposição, com curadoria de Jorge Calado, expõe uma selecção de 67 fotografias da escritora, entre outros objectos e obras de arte. Fica patente até 28 de Maio, na Biblioteca de Arte da Gulbenkian.

Beatriz Magalhães
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Beatriz Magalhães
Jornalista
Maria Lamas
© Maria Lamas
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Maria Lamas foi jornalista, escritora, investigadora, tradutora, pedagoga e uma lutadora pelos direitos humanos e cívicos durante a ditadura. Entre todas estas coisas, foi também fotógrafa, sendo que a sua obra fotográfica nunca foi exibida em Portugal. Na Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian, “As Mulheres de Maria Lamas” expõe, pela primeira vez, um conjunto de fotografias da sua autoria. Inaugura esta sexta-feira e fica patente até 28 de Maio. 

Além de apresentar uma selecção de 67 fotografias de Maria Lamas, a mostra inclui objectos pessoais da fotógrafa, exemplares de primeiras edições de alguns dos seus livros e ainda provas da época de outros fotógrafos. O curador Jorge Calado, que já tinha exposto fotografias de Maria Lamas em duas exposições, em 2009 e em 2016, em Paris e no Dubai, respectivamente, destaca a artista como “a mulher mais notável de sempre”, durante uma visita pré-inaugural destinada à imprensa.

Maria Lamas
© Maria Lamas

A exposição está dividida em secções distintas e é complementada pela linha cronológica da vida de Maria Lamas. As fotografias que introduzem a colecção, “duas das melhores fotografias da exposição”, são provas modernas (2023) agora ampliadas. A primeira retrata uma rapariga de Covão da Ponte, região na Serra da Estrela, a peneirar centeio da colheita da sua família, a outra uma mãe de Castanheira, região localizada também na Serra da Estrela, a segurar o seu filho.  

Tal como estas, as restantes fotografias são acompanhadas das respectivas descrições, retiradas da obra Mulheres do meu país, da autoria da artista. “Ela interessava-se por todos os pormenores”, sendo que além de estudar as regiões onde fotograva, Maria Lamas também paginava os seus livros e escrevia os textos acerca de cada fotografia. 

Maria Lamas
© Maria Lamas

Antes de começarmos a percorrer a exposição, é impossível não notar no retrato de grandes dimensões de Maria Lamas, pintado a óleo por Júlio Pomar, em 1954. Este, bem como um busto em gesso esculpido por Júlio de Sousa, em 1929, servem de ponto de partida para uma secção dedicada aos mais diversos objectos pessoais da autora. Aqui, podemos encontrar retratos, recortes de jornais, exemplares de primeiras edições de livros da sua autoria, incluindo obras de literatura infantil, poesia e ficção, e objectos como o seu passaporte, a sua máquina de escrever e até um colar de âmbar.

Ainda na mesma secção, e prolongando-se pelas seguintes, há várias fotografias expostas, a maioria provas da época, de pequenas dimensões. Apesar do objecto central das obras se prender com uma ou várias mulheres, há imagens de paisagens e de casas dos locais em que esteve a artista. Entre estas, encontra-se ainda uma fotografia inédita de um rapaz com uma manada de vacas, certamente não muito longe da sua mãe ou irmã, apesar de nenhuma mulher ter sido capturada na fotografia. A propósito destas, o curador salienta a ideia de que “as obras de arte, de fotografia, resultam do artista e da máquina, o artista vê uma coisa e a máquina outra, combinando-se para criar uma fotografia. Essa é a magia da fotografia.”  

Maria Lamas
© Maria Lamas

SA exposição está dividida em duas subsecções. Numa, destaca-se o trabalho das mulheres no campo e a sua ligação laboral aos animais. Uma mulher que carrega cestas de água, ou com colheitas de batata e arroz, ou com palha; uma mulher que trabalha na construção de estradas; uma mulher montada no seu burro; uma mulher a conduzir dois bois à pastagem – todas elas são aqui representadas. Segundo Jorge Calado, Maria Lamas, que fotografou muitas mulheres individualmente, por um lado, proclamava a solidariedade entre mulheres, mas também respeitava a sua individualidade.

Na segunda subsecção, as fotografias passam a ser de grupos de mulheres, geralmente a trabalhar juntas. O destaque vai para o retrato de um grupo, apelidado pelas próprias de “gafanhotas”, que tinha como função a seca do bacalhau, na Gafanha, em Aveiro. Há ainda fotografias de famílias e de mulheres que se reuniam na praia do Furadouro, em Ovar, à espera para comprar peixe. Com estas fotografias de grupo, “a artista está a dar uma mensagem: Mulheres de Portugal, uni-vos.”

Maria Lamas
© Maria Lamas

 

A encerrar a exposição, estão incluídas na mostra seis obras, de outros fotógrafos portugueses, que representavam mulheres em diferentes contextos. São da autoria de Adelino Lyon de Castro, Artur Pastor, Alvão, Firmino Santos e Maria Trindade Mendonça. 

Nesta mostra inédita, é possível mergulhar no olhar de uma mulher que, sempre tendo dito que “não queria que se dissesse que era sufragista ou feminista”, destaca na sua obra fotográfica o que era ser mulher em Portugal no século XX. É uma colecção que sobreviveu à censura do Estado Novo e, finalmente, pode ser vista em toda a sua plenitude. 

Átrio da Biblioteca de Arte Gulbenkian. Seg-Sex 10.00-18.00. Até 28 Mai. Entrada gratuita

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