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O que é que leva o museu da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a juntar a obra do pintor arménio Arshile Gorky e do português Jorge Queiroz? "Aconteceu fortuitamente. Uma vez estava a olhar para uma obra do Jorge, estava com o Gorky na cabeça e, de repente, pareceu-me que havia Gorkys dentro do Jorge", diz Ana Vasconcelos, curadora da exposição "to go to. Jorge Queiroz | Arshile Gorky", que inaugura esta sexta-feira e fica patente até 17 de Outubro.
Arshile Gorky nasceu na Arménia, em 1904, viveu nos Estados Unidos e morreu em 1948. Jorge Queiroz vive em Lisboa, cidade onde nasceu em 1966. Apesar dos contextos históricos e culturais dramaticamente distintos, os visitantes da mostra vão poder testemunhar as ligações e relações nos desenhos e pinturas de ambos os artistas, evidentes na mostra patente na Galeria de Exposições Temporárias da fundação.
Há 40 obras para descobrir, entre telas produzidas por Gorky na década de 1940, quando "atinge uma expressão própria muito forte" e alcança "a maturidade artística", e trabalhos de Queiroz, onze deles feitos propositadamente no contexto de preparação desta reunião inusitada. "[A exposição] é cronológica de certa maneira porque os artistas estão sempre a trabalhar sobre o que os outros artistas fizeram", admite a curadora à Time Out.
As paredes negras e o piso amarelo deixam brilhar as telas com cores vibrantes, que não só foram colocadas lado a lado como por vezes partilham mesmo molduras, reforçando o desejo pelo confronto com as semelhanças (e diferenças) entre os artistas e as suas obras.
No conjunto de telas expostas está aquele que se julga ser o último trabalho que Arshile Gorky realizou antes de suicidar em 1948. Trata-se de Last Painting (The Black Monk) e é um empréstimo do Museo Nacional Thyssen-Bornemisza, em Madrid – que recentemente facilitou à instituição um auto-retrato de Rembrandt. A curadora garante que o adiamento sucessivo da exposição esteve, em parte, relacionado com a espera pela cedência desta obra, criada a partir de um conto de Tchékhov, e que foi encontrada no cavalete do estúdio do artista aquando da sua morte. De acordo com Ana Vasconcelos, é a primeira vez que a pintura se mostra em Portugal.
"Esta peça tem a aura dos últimos anos dramáticos do Gorky. Ele anuncia várias vezes que se vai suicidar, estava no limite das forças e das possibilidades artísticas. Ele perde o uso do braço direito na sequência de um desastre, o estúdio tem um incêndio e perde centenas de obras, tem um cancro, o contexto não podia ser mais negro", descreve.
Os diálogos são para continuar
Na visita de imprensa, dias antes da inauguração da exposição, Benjamin Weil, director do CAM – Centro de Arte Moderna, garantiu que esta tipologia de mostra na Galeria de Exposições Temporárias será para continuar. "É um formato que queremos continuar a desenvolver no futuro", disse aos jornalistas. Para o próximo ano já está desenhada outra exposição que coloca em diálogo dois artistas, e planeia-se o mesmo para 2024. "É uma forma de actualizar o nosso olhar sobre um artista moderno, do século XX, através de um artista contemporâneo", frisou.
Fundação Calouste Gulbenkian. Galeria de exposições temporárias. 8 Jul-17 Out. Qua-Seg 10.00-18.00. 3€
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