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Atenção, atenção: o Pavilhão do Conhecimento quer levar-nos ao espaço

Na nova exposição do Pavilhão do Conhecimento, podemos ser astronautas por um dia e embarcar a bordo de uma estação espacial.

Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa
Missão Espaço
© Francisco Romão Pereira / Time OutMissão Espaço, no Pavilhão do Conhecimento
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Alguma vez sonhou em viajar a bordo da Estação Espacial Internacional, pisar a Lua ou até planear uma visita a Marte? Bem sabemos que não é para qualquer um – em 2021, pela primeira vez nos últimos 11 anos, a Agência Espacial Europeia abriu um processo para contratar novos astronautas e, entre mais de 22.500 candidaturas, apenas cinco pessoas foram seleccionadas –, mas temos boas notícias. Não só ninguém nos impede de começar a treinar, como é precisamente esse o desafio lançado pela nova exposição do Pavilhão do Conhecimento. Em “Missão Espaço”, temos oportunidade de aprender a viver a bordo de uma estação espacial, cheirar um cometa, tocar num fragmento lunar ou ver, a menos de um palmo do nosso nariz, um meteorito encontrado em Portugal.

Missão Espaço
© Francisco Romão Pereira / Time OutMissão Espaço, no Pavilhão do Conhecimento

Criada em consórcio com o Centro Universum, em Bremen, na Alemanha, e o Museu do Ar e do Espaço, em Le Bourget, em França, esta nova exposição – patente até 7 de Abril – resulta de um acordo celebrado entre o Pavilhão do Conhecimento e a Fundação “la Caixa”, para impulsionar a colaboração em projectos e acções conjuntas que promovam a cultura científica e tecnológica na Península Ibérica. “É a primeira das três exposições que vamos receber no âmbito desta colaboração”, adianta Sofia Lourenço, responsável pelo departamento expositivo. “É muito interactiva, mas também conta com um conjunto de peças museográficas, cedidas por várias entidades europeias, que permitem fazer o enquadramento do passado e do presente da exploração espacial. Demorou mais de um ano a montar e envolveu muitas outras equipas para além da nossa.”

Missão Espaço
© Francisco Romão Pereira / Time OutPôr à prova o equilíbrio faz parte do treino espacial no Pavilhão do Conhecimento

Ao todo, são seis as áreas que compõem a “Missão Espaço”, há propostas para todas as idades e tudo começa, claro, com um treino espacial. Não se preocupe que não é tão exigente como na vida real. Um astronauta a sério, para além de formação académica em áreas específicas – como ciências naturais, engenharia, matemática ou medicina –, tem de treinar durante mais quatro anos, no Centro Europeu de Astronautas, em Colónia, na Alemanha, e em agências parceiras da Estação Espacial Internacional (ISS), em países como os EUA, a Rússia, o Cazaquistão, o Canadá ou o Japão. Mas neste centro improvisado não temos de aprender russo nem ter aulas de sobrevivência. Ainda assim, prepare-se: além de quizzes para pôr à prova a sua capacidade de resposta, consciência intercultural ou aptidão linguística, há testes de equilíbrio e resistência. Enquanto os mais novos  tentam não cair de uma placa de balanço ou pedalam na bicicleta e descobrem quantos batimentos cardíacos têm por minuto, os mais crescidos podem aproveitar para ler ou ouvir curiosidades sobre o sector espacial.

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© Francisco Romão Pereira / Time Out

Sabia, por exemplo, que a Agência Espacial Portuguesa, criada pelo governo em 2019, tem um programa, o Zero-G Portugal, que todos os anos oferece a 30 estudantes, entre os 14 e os 18 anos, a oportunidade de experimentarem condições de microgravidade semelhantes às de um voo parabólico no espaço? Ainda não sabemos a data da próxima edição, mas já está marcada para 2024. Até lá, o Pavilhão do Conhecimento é o sítio para se estar. “Temos um papel mesmo muito relevante, até porque a ESERO, a equipa educativa da Agência Espacial Europeia, está sediada aqui. Portanto, o espaço é um tema a que todos os anos damos atenção. Se não é através de uma exposição, é através de outras iniciativas.” Como conversas, oficinas ou o programa da Escola Ciência Viva, com actividades pensadas para crianças a partir dos oito anos.

3, 2, 1: Lançamento!

Treino completo, está na hora de descolar. Para isso, há um simulador onde nos podemos deitar em família (cabem pelo menos três pessoas). A ideia é que, tal como aconteceria se fossemos astronautas na Soyuz, sintamos o corpo a ser empurrado para baixo à medida que o foguetão acelera. Claro que, neste caso, a viagem da Terra até à ISS não demora seis horas. “Se olharmos para cima numa noite limpa, muitas vezes é possível ver passar a Estação Espacial, que está a 400 quilómetros.” Em órbita à volta da Terra, é composta por vários módulos, inclusive o Columbus, o centro científico da Europa no espaço, que nos últimos dez anos foi utilizado por astronautas para cultivar plantas, desenvolver novos metais e até realizar experiências em si mesmos. “Temos uma réplica no exterior do Pavilhão, que foi feita por estudantes do Colégio dos Salesianos de Lisboa.”

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© Francisco Romão Pereira / Time OutMissão Espaço, no Pavilhão do Conhecimento

Há, claro, muitos outros instrumentos e tecnologias necessárias para explorar o espaço com sucesso. É o caso do Ariane 5, o principal foguete da Agência Espacial Europeia (ESA) durante mais de um quarto de século. A última vez que voou foi em Julho deste ano e há um modelo à escala 1:10 para ver no Pavilhão. Igualmente fascinante é o Motor Viking 5, que pesa 826 quilos e também está em exposição. Trata-se de um original, mas nunca foi usado no espaço, tal como o rover YEMO, cedido pelo DFKI, um centro alemão de investigação em robótica e inteligência artificial, que poderá ser a resposta para futuras missões à Lua e a Marte. “Imaginar alguém em Marte soa quase como ficção científica, mas em breve poderá ser possível”, sugere Sofia, que se confessa fascinada pela “capacidade constante de inovação, de procurarmos novos destinos a explorar, de desenvolvermos tecnologias que nos permitam chegar lá”.

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© Francisco Romão Pereira/ Time Out LisboaEste Motor Viking 5 pesa 826 quilogramas

Cá em baixo, na Terra, há realmente muitas coisas extraordinárias que nos passam ao lado. Se nos perguntarem como é “o lado negro da lua”, a que é que cheira um cometa (spoiler alert: a ovo podre, amoníaco e formaldeído) e o que vemos quando observamos um meteorito ao microscópio, o mais provável é abrirmos a boca e, ups, não sair nada. Pelo menos até agora. É que são mesmo muitas as curiosidades à nossa espera na “Missão Espaço”, como um fragmento lunar, que foi catapultado da Lua depois do impacto de um meteorito e no qual podemos tocar (podemos mesmo, está lá à mão de semear), ou um exemplar do Meteorito de São Julião de Moreira, que foi encontrado por um lavrador em 1877, perto de Ponte de Lima, a cerca de 1,2 quilómetros de profundidade. “Pesava 162 quilos e foi dividido em várias amostras, que se encontram em museus de todo o mundo. O exemplar que temos faz parte da colecção do Museu Alfredo Bensaúde, do Instituto Superior Técnico.”

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© Francisco Romão Pereira / Time OutNa Missão Espaço, é possível cheirar um cometa

Beber de um saco, dormir numa parede

Já no espaço – que é disso que estava à espera –, podemos conduzir um rover de exploração lunar (no dia em que visitámos a exposição, um rapazinho com ar de ter seis anos conseguiu a proeza de virar ao contrário o veículo telecomandado), simular uma caminhada na Lua (vista roupa confortável, porque vai ter de enfiar um arnês, como acontece naqueles trampolins das feiras que os miúdos adoram) e experienciar o dia-a-dia dentro da estação espacial. Aí, entre os muitos objectos em exposição, destacam-se desde as réplicas de diferentes fatos espaciais até ao exemplar francês de Cinco Semanas em Balão, de Júlio Verne, que o astronauta Thomas Pesquet, da ESA, levou consigo para a ISS. 

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© Francisco Romão Pereira / Time OutUma sanita espacial

Atenção, nem tudo é divertido. Além de dormirem na vertical, dentro de um saco-cama, e tomarem banho “à gato”, com recurso a um pano húmido e ensaboado, os astronautas alimentam-se de líquidos e têm de usar um funil de sucção para urinar. No futuro, talvez seja diferente, mas por enquanto a falta de gravidade influencia quase tudo o que se faz na ISS. 

“O espaço é mesmo muito desafiante”, avisa-nos Sofia, antes de reforçar o impacto que a exploração espacial tem tido também no nosso dia-a-dia. É que muitas das tecnologias desenvolvidas pelas agências espaciais são hoje produtos ou serviços comerciais usados em todos os cantos do mundo. Os chamados spin-offs incluem desde óculos de sol com protecção UV e alimentos liofilizados – desidratados e embalados a vácuo –, até aspiradores sem fios e lentes anti-risco. “Na mesma zona de exposição [onde podemos ver alguns spin-offs], reunimos também vídeos com testemunhos de vários investigadores e jovens portugueses, que ou trabalham ou querem seguir esta vertente da exploração e da pesquisa espacial.” E que valem a pena ouvir, porque “o que é nacional também é espacial”.

Pavilhão do Conhecimento. Ter-Sex 10.00-18.00, Sáb-Dom e feriados 10.00-19.00. 8€-14€ (grátis até aos três anos)

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