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No princípio era Rembrandt. Um quadro do mestre holandês foi a escolha para o arranque de uma série de obras pertencentes a grandes colecções mundiais que o Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa, vai acolher de forma temporária nas suas galerias.
A partir desta sexta-feira, 29 de Abril, a Galeria de Pintura do Séc. XVII mostra O Autorretrato com Boina e Duas Correntes, obra da colecção Thyssen-Bornemisza. O autorretrato de Rembrandt, cedido pelo museu madrileno, está ao lado de duas outras pinturas de Rembrandt, Figura de Ancião e Palas Atenas, estas últimas pertencentes à colecção Gulbenkian. "Não há mais nenhum Rembrandt na colecção Gulbenkian nem há mais nenhum Rembrandt em Portugal", garante à Time Out Luísa Sampaio, comissária da exposição e conservadora de pintura do Museu.
É a primeira vez que Portugal mostra a obra, que se julga ter sido pintada nos anos quarenta do século XVII, quando Rembrand estava a trabalhar na Ronda da Noite, um dos mais conhecidos trabalhos do holandês (que inspirou, em Portugal, o último romance da escritora Agustina Bessa-Luís, A Ronda da Noite). Os autorretratos representam mais de 10% da obra deste pintor, que "deixou um dos mais poderosos legados artísticos da arte ocidental, tendo produzido, ao longo da sua vida, mais de 300 pinturas, das quais cerca de 40 são autorretratos", lê-se na nota de imprensa.
Sobre O Autorretrato com Boina e Duas Correntes, Luísa Sampaio escreve no catálogo que acompanha a exposição: "Nesta composição o artista representa-se de preto, com gibão rematado por pele e duas correntes de ouro, sob fundo neutro. O traje, cuja importância para a interpretação do autorretrato é extremamente relevante, utilizando igualmente em Autorretrato, The National Gallery, Londres, de 1669, é idêntico ao envergado por Dirk Bouts e Rogier van der Weyden em duas gravuras de Hieronymus Cock (c. 1517/1518-1570) editadas em 1572 e poderá indicar um tributo aos artistas flamengos do século XV".
Esta é apenas a primeira de muitas obras que passarão pelo Museu Gulbenkian nos próximos tempos. "Achámos que tínhamos de começar pela pintura e Rembrandt é um nome incontornável", diz António Filipe Pimentel, diretor do Museu, à Time Out. No total, serão três obras por ano que vão instalar-se de forma temporária nas galerias do museu lisboeta, para poderem ser vistas durante cerca de três meses e meio.
A obra de Rembrandt fica na Gulbenkian até 12 de Setembro. A 27 do mesmo mês chega a próxima obra visitante, desta vez uma tapeçaria do século XVI que também se juntará a outras da coleção da Gulbenkian. Trata-se da tapeçaria Jogos de Criança, de Giulio Romano, um empréstimo do Museo Poldi Pezzoli, em Milão, Itália.
"Espero que [a iniciativa] dure para sempre. Era um programa que fazia falta no museu", admite o diretor, que defende com afinco que o museu deve ser "um ponto de retorno". "É para isso que serve, é um espaço onde nós vamos sempre encontrar novos detalhes, novas formas de olhar, etc. E o próprio museu não é estático, está sempre em mutação", acrescenta.
Na Gulbenkian, as mutações estão à vista. Tanto no exterior, com as obras de expansão do Centro de Arte Moderna (CAM) a decorrer, como no interior, já que a galeria dedicada ao séc. XVIII está fechada para obras – o espaço, a poucos passos dos três Rembrandt, deverá reabrir em Junho.
Fundação Calouste Gulbenkian. Edifício Sede – Galeria Principal. 29 Abr-12 Set. Qua-Seg 10.00-18.00. 5€
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