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Em 2015, o realizador Asif Kapadia, autor do excelente Senna, sobre Ayrton Senna, assinou Amy, um documentário sobre a vida e a carreira de Amy Winehouse, para o qual fez mais de 100 entrevistas com familiares, amigos e colaboradores da cantora, morta de intoxicação alcoólica em 2011, aos 27 anos, e contou com a colaboração da sua família. Kapadia conseguiu também recolher variadas imagens de arquivo nunca vistas de Amy Winehouse, quer de situações privadas, como durante um período de férias em Espanha na companhia da sua melhor amiga, quer durante gravações em estúdio e actuações com público, ao longo da sua breve vida.
Muito bem recebido pela crítica e pelo público, Amy foi-o menos pelo pai da cantora, Mitch Winehouse, que é mostrado sob uma luz muito pouco favorável. Winehouse acusou Kapadia de mentir e de ter uma agenda escondida para o transformar no vilão do filme, solicitando ainda, sob ameaça de acção legal, que Amy fosse remontado para não dar uma tão má imagem dele (o que foi recusado pelo realizador e pela equipa de produção da fita). Entre os vários prémios ganhos por Amy, contam-se o Óscar de Melhor Documentário de Longa-Metragem em 2016, o BAFTA e o Prémio do Cinema Europeu na mesma categoria, ou ainda o Prémio de Melhor Filme Musical nos Grammys. (Em 2021, houve também um documentário da BBC sobre a cantora, Reclaiming Amy.)
Assim que foi anunciado que a realizadora Sam Taylor-Johnson, autora de Para Lá da Música (2009), sobre a adolescência de John Lennon, ia rodar uma fita biográfica sobre a cantora, intitulada Back to Black, o título do seu segundo, derradeiro e mais célebre álbum, os fãs de Amy Winehouse começaram a movimentar-se nas redes sociais e nos media, em geral expressando o seu cepticismo – mas também a sua indignação – quanto aos motivos e à necessidade de se fazer um tal filme, tendo em conta a existência e a qualidade do documentário de Asif Kapadia, que foi complementado com o da estação estatal britânica. Houve quem dissesse que Back to Black vinha cedo demais, e quem acusasse os responsáveis pela fita de quererem apenas explorar comercialmente a memória da cantora e investir num retrato sensacionalista dela e da sua vida.
Quando, no ano passado, a produção do filme revelou uma imagem do filme com a actriz Marisa Abela vestida e maquilhada como Amy Winehouse, a contestação e a indignação aumentaram ainda mais. Ecoando as preocupações, bem como a ira, dos admiradores da cantora, a jornalista Roisin O’Connor escreveu no The Independent: “Tendo em conta a eficiência típica de abutres com que a sua vida foi escrutinada e esmiuçada, é quase impossível pensar num motivo sincero para se fazer um filme sobre a vida de Amy Winehouse – pelo menos um que não seja guiado pela ganância.” Por seu lado, no The Guardian, Shaad D’Souza notava: “Back to Black ameaça não honrar o legado musical [de Amy Winehouse], mas sim reviver todo o ruído lamentável que o obscureceu.”
Defendendo o seu projecto, Sam Taylor-Johnson, citada pela The Rolling Stone, disse que seguiu de muito perto a carreira de Amy Winehouse quando frequentava a zona londrina de Camden, onde a artista nasceu, foi criada e morreu, desde os seus dias na universidade, e que a viu ao vivo “num espectáculo de novos talentos no Clube de Jazz Ronnie Scott no Soho, sendo imediatamente óbvio para mim que ela não tinha apenas ‘talento’… era genial”. A verdade é que desde pouco depois da morte de Amy Winehouse, em 2011, que houve tentativas de fazer um filme biográfico sobre ela, o que quase foi conseguido em 2015, com Noomi Rapace no papel de Winehouse. Até que em 2022 Back to Black foi oficialmente anunciado, contando com a autorização e a colaboração dos herdeiros da cantora, bem como da fundação com o seu nome.
A pouco conhecida Marisa Abela (vista num pequeno papel em Barbie, e nas séries Industry e COBRA) surge a interpretar Amy Winehouse. A jovem actriz não quis ser dobrada e interpreta todas as canções, tendo também estudado aturadamente toda a gestualidade, o comportamento e o modo de estar daquela, para que a sua interpretação seja o mais verista e convincente possível. Jack O’Connell personifica o marido de Winehouse, Blake Fielder-Civil, Eddie Marsan é Mitch, o pai da cantora, e Lesley Manville a sua adorada avó, Cynthia. A banda sonora ficou a cargo de Nick Cave (que escreveu um tema especialmente para o filme, Song for Amy) e Warren Ellis. Back to Black estreia-se esta semana, veremos se justificando ou não todo o barulho que se levantou à sua volta.
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