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“Bairro aberto às artes” está a ser projectado junto ao Hub Criativo de Beato

Ala Norte da Manutenção Militar pode receber residências de estudantes, habitação e pólo sociocultural. Mas grande plano de urbanização previsto para Marvila pode ser obstáculo.

Rute Barbedo
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Rute Barbedo
Jornalista
Praça do Hub Criativo do Beato, no Verão
DRPraça do Hub Criativo do Beato, no Verão
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Em Novembro, o Governo atribuiu ao grupo de projecto da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), liderado por José Sá Fernandes, a missão de recuperar as antigas instalações da Manutenção Militar Norte (onde funcionou a sede da JMJ), no Beato. O Governo definiu, então, em Diário da República, que a área deveria destinar-se "à habitação, ao alojamento estudantil, ao alojamento urgente temporário, nomeadamente para pessoas em situação de vulnerabilidade, vítimas de violência doméstica e de tráfico de seres humanos e beneficiários de protecção internacional, à pequena agricultura e à criação de espaços de fruição cultural". E esta semana soube-se que ali poderá crescer mais do que isso. 

Os planos para estes sete hectares incluem a criação de habitação acessível (200 fogos) e de um pólo sociocultural, com estúdios, salas de ensaio e de produção artística, oficinas, ateliers e espaços multiusos, residências para estudantes, espaços de coworking, a Casa da Ilustração, salas de exposição, um cine-teatro, o Centro do Azeite e do Vinho, a nova sede da Junta de Freguesia do Beato e alojamento temporário para pessoas em situação vulnerável. Como explicou José Sá Fernandes ao jornal Público, “a ideia é ter aqui um bairro aberto às artes, acolhendo criadores, ser ponto de encontro de toda a gente”. O investimento previsto é de 50 milhões de euros para os próximos quatro anos

No entanto, o antigo vereador na Câmara Municipal de Lisboa entre 2005 e 2021 diz ter sido apanhado de surpresa ao conhecer o que estava previsto para os terrenos vizinhos Unidade de Execução de Marvila –, acreditando que o projecto pode comprometer a ideia do novo "bairro das artes" na Manutenção Militar Norte. "Isto apanhou-nos completamente de surpresa. Ninguém falou connosco sobre o que se estava a preparar aqui para o lado. Trata-se de algo completamente desenquadrado e que vai promover a especulação imobiliária. Estamos a falar de algo que visa, sobretudo, os interesses dos privados. E que vai enviesar o ordenamento do território”, avaliou Sá Fernandes, em declarações ao mesmo jornal. Em causa está o mega-projecto para Marvila, que engloba 1500 fogos, um parque verde e a transformação de uma área total de 28 hectares. Para Sá Fernandes, "uma unidade de execução tem que ter em conta a envolvente" e isso não estará a acontecer.

Projecto era para ser autárquico, critica Moedas

A intervir-se em toda esta zona da cidade, a expectativa é de uma intensa transformação do território. De um lado, na Ala Sul da Manutenção Militar, já está o Hub Criativo do Beato e a ele juntar-se-iam, então, dois grandes pólos: um dedicado a habitação e espaços verdes, em parte da Manutenção Militar na Quinta de Lafões, e o projecto que se segue à actividade de coordenação da JMJ, na Ala Norte da Manutenção Militar. Chegou a pensar-se, no entanto, que seria a Câmara a gerir este último espaço. Em Novembro, depois de o Governo ter nomeado a coordenação da JMJ para gerir o local, Carlos Moedas, presidente da CML, criticou o Governo por não ter cumprido a sua promessa feita durante o mandato de Fernando Medina. "Toda essa ala Norte agora vai para um projecto diferente. O projecto que eu tinha para lá seria dedicado a pessoas em situação de sem-abrigo e projectos dedicados à reinserção social", disse então o autarca.

No dia 1 de Março, o executivo lisboeta confirmou que na Ala Norte do Complexo da Manutenção Militar, na Rua do Grilo, vai funcionar o novo centro de acolhimento em situação de sem-abrigo, na sequência da retirada de utentes do Quartel de Santa Bárbara (que dará, por sua vez, lugar a um complexo habitacional). A estrutura "será alvo de obras profundas de intervenção e adaptação", devendo "estar operacional até ao final do presente ano", por um período mínimo de 20 anos, que pode ser prorrogado até 50 anos, lê-se no comunicado enviado pela autarquia. Para este local, Moedas previa também a criação de um núcleo de empreendedorismo, bem como espaço para serviços de restauração, lazer e cultura.

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