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À primeira vista, poder-se-ia dizer que estamos perante dois bares de vinhos, com pinta e onde é possível também comer alguma coisa, mas a carta denuncia. É mais do que isso. Não há pratos batidos, nem vinhos escolhidos ao acaso. Não abriram à procura de um público fácil, apesar de estarem em dois dos mais movimentados bairros de Lisboa. Seja no Bar Boca, em Alfama, com um menu completamente vegan, ou no Rosetta’s, no Bairro Alto, com uma oferta mais abrangente, o objectivo é servir e agradar a quem gosta de comer bem.
“No início tivemos dificuldade em perceber o que era. Começámos com um bar de vinhos e depois evoluímos para um restaurante porque a procura era imensa, ninguém vinha só para beber”, diz Ugne Kris, gerente dos dois sítios, vinda do restaurante SEM, explicando que tudo começou com o Bar Boca, há cerca de um ano. O chef é Elliott Jones, canadiano a viver em Lisboa, depois de algumas aventuras pelo mundo. Dos jantares privados decidiu arriscar num espaço próprio, uma aposta, até ver, ganha, já que hoje já são dois os restaurantes. Hoje, já não há dúvidas do que se tratam. “É um restaurante a 100%”, aponta Ugne.
O Rosetta’s “é o segundo bebé”. Abriu na Rua da Rosa, epicentro do Bairro Alto, há cerca de três meses. “O conceito do restaurante é literalmente tapas para partilhar para todos os que gostam de boa comida com ingredientes portugueses e um pouco de twist”, continua a gerente. Num e noutro, percebe-se a assinatura, não são desconexos, a única diferença é que no Bar Boca não entra proteína animal. Talvez por isso, a clientela seja mais estrangeira. “Acho que se calhar os portugueses não estão tão virados para a comida vegan, é algo cultural. No Boca, temos muitos alemães, por exemplo”, acrescenta Ugne, responsável também pela escolha dos vinhos quase todos biológicos e biodinâmicos, de pouca intervenção.
As garrafas estão expostas nas prateleiras com os preços à vista. Não há uma carta porque os vinhos mudam com frequência. “Senão acabamos todos a vender o mesmo”, justifica. Os preços variam 25€ e 45€ para as garrafas e os 5€ e os 9€ para o copo. “Eu gosto de descobrir coisas, eu procuro, eu provo, eu compro.” O importante é a qualidade, nos vinhos, como na comida.
Foram, aliás, os atributos dos ingredientes portugueses que mais cativaram Elliott Jones. Na carta do Rosetta’s, tem, por exemplo, porco preto com uva e sálvia (16€), atum curado com physalis e alcaparras (13€) ou alcachofras com stracciatella (11€). Já no Bar Boca, têm saído muito pratos como a beringela com ricotta de amêndoa e sálvia (9€), o tártaro de alcachofras com batatas fritas (10€) e os cogumelos ostra fritos com tangerina (12€).
“Não tinha nenhuma ideia particular sobre a cozinha portuguesa, mas queria usar ingredientes portugueses e brincar com isso. Nada daqui é português, mas tudo o que usamos sim”, contextualiza Elliott, para quem criar um menu vegan é mais divertido do que um menu onde tudo pode entrar. “É mais desafiante, mas eu até prefiro. Vegan é fixe e eu não sou vegan, mas sempre achei que a melhor comida vegan que comi foi feita por pessoas não vegan. Acho que isso tem a ver com o facto de tu saberes ao que todas as coisas sabem, não tens limitações. É divertido”, diz o chef, sem querer evangelizar ninguém. “A minha cena é pró-escolha. Eu não faço comida vegan para vegans, eu faço-o para todos. Adoro que cheguem ao pé de mim, que não sejam vegan e que adorem. Se mais chefs como eu começaram a fazer menos pratos de carne, se todos reduzirem o consumo, faz-se a diferença.” Importante, acredita, é que seja sempre bom.
Bar Boca. Rua do Vigário 44 (Alfama). Seg-Dom 18.00-00.00; Rosetta's. Rua da Rosa 39 (Bairro Alto). Seg-Sex 18.00-00.00. Sáb-Dom 12.00-16.00, 18.00-00.00.
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