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Bem-vindos ao Chippendales, um trágico sonho americano

A Disney+ está cada vez mais crescida e, depois de ‘Pam & Tommy’, Robert Siegel assina mais uma produção para o serviço de streaming, também destinada a adultos. Desta vez, o foco é Chippendales, um clube de striptease masculino fundado na Los Angeles dos anos 70.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Welcome to Chippendales
© Lara SolankiBem-vindos ao Chippendales: Clube da Sedução
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Há muito que a ficção se despiu de preconceitos e nos ofereceu produções onde o striptease masculino é o núcleo narrativo de uma história. Como no filme Ou Tudo ou Nada (1997), em que um grupo de homens desempregados decide começar a tirar a roupa de forma mais amadora, mesmo que não sejam o arquétipo ideal para ficar em tanga. Ou os incontornáveis filmes Magic Mike (2012-...), popular saga em torno deste tema, liderada por Channing Tatum. Mas, antes da ficção, aconteceu a realidade.

Em finais dos anos 70, abria em Los Angeles o primeiro clube norte-americano de striptease masculino destinado a mulheres. Até aqui, só notas positivas, mas esta é uma história trágica que já resultou em filmes e documentários e chega agora ao formato minissérie, com oito episódios e estreia marcada para 11 de Janeiro. Bem-vindos ao Chippendales: Clube da Sedução é o (longo) nome em português da produção que recupera o percurso do imigrante indiano Somen “Steve” Banerjee, que culminou com a fundação do Chippendales. Um clube que deu que falar na viragem dos anos 70 para os 80, pelas melhores e também pelas piores razões. Inspirada em factos reais, a série, que por cá estreia no Disney+, arrancou lá na América a 22 Novembro, no Hulu. No entanto, já que a história não é tão popular em Portugal como no país de origem, vamos ter algum cuidado para quem não quer fazer uma visita rápida ao Google antes de carregar no play.

Welcome to Chippendales
©Erin SimkinBem-vindos ao Chippendales

Em Bem-vindos ao Chippendales: Clube da Sedução (no original Welcome to Chippendales) começamos por conhecer Somen Banerjee (interpretado por Kumail Nanjiani) como um competente gerente de uma estação de serviço que recusa uma promoção para abrir o seu próprio negócio, com o dinheiro que foi amealhando. O sonho? Um clube de gamão para cavalheiros chamado Destiny II (o primeiro episódio revela porque não é Destiny I). A ideia do gamão não resultou, mas pelo caminho Banerjee conheceu Paul Snider (Dan Stevens), um promotor de espaços nocturnos com veia de charlatão e marido da famosa coelhinha da Playboy Dorothy Stratten (Nicola Peltz Beckham). Snyder entra no negócio e juntos começam a tentar produzir ideias que possam aumentar o número de clientes, desde lutas na lama a concursos para ver quem consegue ingerir um maior número de ostras. Mas o segredo escondia-se num bar gay, onde a parelha tropeçou num espectáculo de striptease masculino, uma ideia que transportaram para o ainda Destiny II, mas a piscar o olho ao público feminino. Rebaptizado de Chippendales, o clube começou a despertar bastante interesse, numa altura em que as coreografias eram ainda um pouco atabalhoadas. Quem deu corpo ao espectáculo acabou por ser Nick De Noia (Murray Bartlett), reputado coreógrafo norte-americano que remodelou o corpo de dançarinos do Chippendales, tornando-o mais sofisticado e menos rústico e caótico – o que, muito provavelmente, influenciou o modus operandi do striptease masculino até aos dias de hoje. Aliás, ainda sobrevive uma trupe de dançarinos Chippendales, com um espectáculo em permanência em Las Vegas.

Esta é uma história sobre striptease, mas também sobre crime e o sonho americano. E não é a primeira vez que é adaptada à ficção. Para a televisão, e sobre o mesmo tema, já foram produzidos os filmes Strippers (2000), de Eric Bross, ou Just Can't Get Enough (2002), de Dave Payne, assim como as séries documentais Curse of the Chippendales (2021), Secrets of the Chippendales Murders (2022) ou o documentário Chippendales Off the Cuff (2019). É um tema um pouco batido, no entanto, esta é a primeira minissérie de ficção sobre o Chippendales, apesar de inicialmente ter sido pensada como longa-metragem pelo criador Robert Siegel, o mesmo nome por detrás da recente minissérie Pam & Tommy (2022), igualmente disponível no Disney+ e que também parte de uma história verídica. Inicialmente, a série iria chamar-se The Immigrant (O Emigrante), até que o argumento tomou um novo rumo. “Eu pensei nisto como um estudo de personagem com um único ponto de vista, a jornada de um imigrante – mas depois a escrita superou o título”, explicou Siegel à revista digital Emmy.

Quem também superou, mas o medo, foi o protagonista Kumail Nanjiani (Silicon Valley), que começou por recusar o papel. O actor – nomeado para um Óscar (em parceria com Emily V. Gordon) pelo argumento de Amor de Improviso (2017), onde também assumiu o papel principal – não queria arriscar interpretar um papel que caía mais na categoria vilão, abandonando, ainda que temporariamente, a sua queda para a comédia, género em que se sente mais confortável. Acabou por aceitar, tornando-se também produtor executivo. “Eu estava intimidado e com medo. O personagem tinha um lado tão sombrio e ficou ainda mais sombrio à medida que a história avançava”, confessou Nanjiani à Emmy. O actor americano-paquistanês encabeça um elenco de luxo, partilhando o ecrã com Murray Bartlett, vencedor de um Emmy pela sua interpretação em The White Lotus, aqui a interpretar Nick De Noia; Juliette Lewis na pele de Denise Coughlan, figurinista que inventa as famosas calças com tiras de velcro que saem só com um puxão; Annaleigh Ashford (Masters of Sex, American Crime Story) como Irene Banerjee, a mulher de Steve e a contabilista do negócio; ou Dan Stevens (Downton Abbey, Gaslit) a encarnar Paul Snider.

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