[title]
Quando a realizadora e argumentista francesa Léa Domenach decidiu estrear-se nas longas-metragens com Bernadette - A Mulher do Presidente, uma fita muito ambiciosa sobre a vida de Bernadette Chirac, a viúva de Jacques Chirac, antigo Presidente da Câmara de Paris, Primeiro-Ministro e Presidente da República de França, durante os dois mandatos presidenciais do marido (1995-2007), pensou logo em Catherine Deneuve para interpretar o papel da biografada. Afinal, quem melhor do que a primeira-dama do cinema francês para dar corpo a esta antiga primeira-dama, que esteve casada com um dos mais activos, carismáticos, controversos – e também um dos mais mulherengos – políticos da história do século XX de França?
Domenach disse numa entrevista à televisão estatal francesa que a ideia que tinha de Bernadette Chirac, hoje com 91 anos, era igual à de muitas outras pessoas: uma senhora de origem aristocrática, conservadora e respeitada, que tinha estado sempre sob a enorme sombra do marido, e suportado em silêncio, estoica e passivamente, as suas muitas e públicas infidelidades. Essa imagem convencionada desfez-se depois da realizadora ter visto um documentário de 2005 intitulado Madâme, Le Film, de Jean Paul Lepers, que mostrava o lado menos conhecido da vida da viúva de Jacques Chirac. Nomeadamente a sua actividade política como autarca na região da Corrèze, o departamento eleitoral do marido, entre as décadas de 70 e 2011, durante as quais foi sucessivamente reeleita; e também a sua ligação, como fundadora ou presidente, a várias instituições culturais, associadas à juventude ou de filantropia na área do apoio aos idosos e às crianças hospitalizadas, caso da Fondation Hôpitaux de Paris-Hôpitaux de France.
Na referida entrevista, Léa Domenach referiu também que não sendo Bernadette Chirac uma feminista, ela contribuiu muito para destacar o importantíssimo papel da mulher na sociedade francesa, muitas vezes ignorado ou menosprezado. Sobretudo nas décadas de 70 e 80, quando se lançou na política autárquica na França rural, em que não havia tradição de se verem mulheres a concorrer para posições desta natureza, tendo ganho a confiança e a estima do seu eleitorado logo desde o início, e conseguido mantê-las ao longo dos anos seguintes. Como o comprovam os seus sete mandatos de conselheira regional entre 1979 e 2011. Domenach pretendeu ainda mostrar como Bernadette Chirac reagiu a ter sido posta num canto após a chegada do marido ao Eliseu, em 1995, ela que havia trabalhado incansavelmente para ajudar à sua eleição. E isto para sublinhar que Bernadette não foi só uma primeira-dama resignada e subalternizada, e uma figura discreta e decorativa, e que seria injusto que assim ficasse vista para a posteridade.
A realizadora e a sua parceira de argumento, Clémence Dargent, decidiram que Bernadette-A Mulher do Presidente teria necessariamente de ser um compósito de factos e de liberdades narrativas, e uma comédia com uma forte componente de sátira política ao invés de um drama sisudo, mas que o filme teria que se manter fiel, no essencial, à personalidade de Bernadette Chirac.

Quando Catherine Deneuve recebeu o argumento, começou por torcer o nariz ao papel e não o querer assumir. Sendo uma das razões o facto de Bernadette Chirac ainda estar viva e da actriz não a querer de alguma forma melindrar, e também por não gostar de filmes biográficos. Mas Deneuve acabou por ficar convencida e fazer o filme, por ter achado o argumento muito divertido. Ela contracena com Michel Vuillermoz no papel de Jacques Chirac, e do elenco constam ainda nomes como Denys Podalydès, Sarah Giraudeau ou Laurent Stocker.
Bernadette-A Mulher do Presidente foi nomeado ao César de Melhor Primeiro Filme e ao Prémio Lumière da mesma categoria, e Catherine Deneuve ao Prémio Lumière de Melhor Actriz. Léa Domenach preferiu não falar com ninguém da família Chirac durante toda a produção, para ficar livre de influências ou de pressões externas, preferindo ler e ver o máximo de material existente sobre os anos de Jacques Chirac e da sua mulher no Eliseu. Claude Chirac, a filha do casal, manifestou publicamente o seu desagrado pelo projecto e afirmou que se recusava a ver o filme. Não é sabido se Bernadette Chirac o viu ou não.
Nos cinemas a 24 de Abril
📲 O (novo) TOL canal. Siga-nos no Whatsapp
👀 Está sempre a voltar para aquele ex problemático? Nós também: siga-nos no X