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Apesar de bem distintos, os dois novos restaurantes de Vítor Matos em Lisboa, no hotel Torel Palace Lisbon, partilham mais do que se possa imaginar, a começar desde logo pelo chef residente, Francisco Quintas. Os dois querem ser descontraídos, mas o menu e o serviço não podiam ser mais diferentes. Se o Black Pavilion pode ser um restaurante para todas as horas, o 2 Monkeys é especial – abre apenas cinco vezes por semana, ao jantar, com um menu de degustação que não se anuncia. Aponta para as estrelas Michelin, mas Vítor Matos, que já tem uma no Antiqvvm, no Porto, não tem pressa, nem quer essa pressão, pelo menos por agora.
“Se gostávamos de ganhar a estrela este ano? Gostávamos. Mas que é impossível, é. Este ano não vamos pensar nisso. Pensamos no próximo ano. Abrimos agora, não temos tempo suficiente”, diz-nos a meio de um jantar que se prolongou no tempo. O facto de estar a apresentar o 2 Monkeys a jornalistas contribui, obviamente, para que a refeição demore, mas não é só isso. Vítor Matos quer receber os clientes como quem recebe amigos em casa. Não por acaso, o restaurante, que nasceu no lugar da Cave 23, tem apenas 14 lugares, distribuídos por um grande balcão que contorna a cozinha. “É um projecto pequeno com uma interacção com o cliente muito grande. Todo o empratamento, a montagem, a explicação, é feito à vossa frente. É um projecto super diferente. É alta cozinha descomprometida”, define Vítor Matos. “Acima de tudo queremos divertir-nos e queremos que o cliente se divirta.”
Para o chef, também à frente do Blind, restaurante de fine dining do Torel Palace Porto, o descomprometimento não é nunca com o trabalho ou o cliente. É antes uma forma de tirar o peso habitual inerente a este tipo de restaurantes, quase sempre muito regrados. “Nada no prato é descomprometido, o que queremos é que seja divertido e descomprometido para quem vem, isso é que nos importa. Acima de tudo queremos que deixem aquela ideia de estar à mesa. Não, estão na nossa cozinha.”
E, à semelhança de quem nos recebe em casa, no 2 Monkeys não há menu à porta. Tem um preço fixo (150€/250€ com harmonização de vinhos) e um número de momentos definido (14). Como é prática habitual, pergunta-se, com antecedência, as restrições alimentares, mas deixa-se claro que não há menus alternativos. A partir daí, os pratos sucedem-se, nunca se sabendo se são criação de Vítor Matos ou de Francisco Quintas, que apesar de ter apenas 24 anos soma já alguma experiência em restaurantes Michelin, o último dos quais foi a Casa da Calçada, em Amarante, ao lado de Tiago Bonito, entretanto saído. Poder-se-ia dizer, em alusão ao nome, que são dois macacos no mesmo galho.
“Há um choque geracional, mas é uma coisa boa. Eu não sou pai dele, mas ele é o comboio de alta velocidade e eu sou o travão. Ponho o pé no travão sempre que é necessário”, aponta Vítor Matos, que nesta noite deixou que fosse Francisco a chefiar o serviço, até porque será ele a cara de todos os dias. “A ideia para o 2 Monkeys sempre foi a de ter alguém comigo, queria um projecto onde não estivesse sozinho. Eu estou no Porto, venho a Lisboa algumas vezes”, acrescenta ainda o chef, defendendo mais do que uma vez que este não é um restaurante seu, mas dos dois. “É um projecto a quatro mãos. Somos os chefs e há aqui ideias dos dois. É importante para nós o conjunto. O Francisco tem algumas influências muito distintas das minhas e isto é engraçado, é essa mistura que distingue o projecto.”
No menu, que começou por ter 25 pratos e acabou reduzido a 14, tanto se serve uma gamba roxa do Algarve com leiteilho, mirin, funcho e limão confit, como um foie gras com ruibarbo, ginja e balsâmico de Modena, uma raia salgada de Aveiro com pil-pil, bivalves e plancton ou um pombo royal de Anjou com salsa, cogumelos morilles e mostarda. Mesmo assim Vítor Matos garante que o 2 Monkeys não é “um fine dining de ostentação”, apesar de não se dispensar nem o caviar, aqui servido numa waffle com creme fraîche e cebolinho. “O produto é muito importante. As pessoas perguntam às vezes: ‘Porque não fazes uma boa sardinha?’ Eu não sei cozinhar sardinhas, sei cozinhar matéria-prima boa. Acho que a cozinha é um bocado isso. Claro que há chefs que têm mais tendência para fazer uma cozinha na mesma de aspecto nobre com produto mais barato, mas para mim o sabor do lagostim, o sabor do linguado, o sabor de um salmonete, o sabor de um caviar, é o que eu gosto. Quando cheguei a este projecto, inicialmente, disse: vamos fazer uma cozinha divertida, mas mais acessível. Não consigo fazer isso”, admite, sem rodeios.
A mesma atenção ao produto é dada no Black Pavilion, o restaurante ainda mais descontraído, com vista para Lisboa, num bonito jardim de Inverno. “A carta é mais simples, descomplicada, com um bocadinho menos técnica do que no restaurante de baixo”, aponta Franciso Quintas, ainda tímido nas palavras, mostrando-se apaixonado pelo novo desafio.
Nas entradas, destacam-se a tosta de sapateira e guacamole (19€), o tártaro de novilho e trufa (21€) e a fresca burrata servida com tomate, manjericão, pinhões e molho pesto. Há pratos mais fiéis à cozinha tradicional, como o arroz de tamboril e camarão (25,50€) ou o bacalhau pil-pil e grão-de-bico (22€), mas a aposta vai para o bife do lombo (20€/125gr ou 29€/200gr), que acompanha com batata frita e um de quatro molhos à escolha (5€) – pimentas, mostarda antiga, cervejeiro e morilles. As sobremesas não são de se descartar, do brioche no tacho com gelado de baunilha (9,50€) ao leite creme com azeite de baunilha e gelado de maracujá (9,50€). De segunda a sexta-feira, das 12.30 às 15.00, há um menu executivo por 29,5€. “O que nós queremos é ter clientes felizes, estarmos felizes a servirmos o que servimos. É o que me move para trabalhar”, conclui Francisco Quintas.
Torel Palace Lisbon, Rua Câmara Pestana, 23 (Campo Mártires da Pátria). 218 099 132. Black Pavilion Seg-Dom 11.00-23.30. 2 Monkeys Ter-Sáb 19.00-23.00
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