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Desde Maio que há mais um motivo para rumar à pacata João XXI – ao troço que separa a Avenida de Roma do Areeiro, para sermos precisos. À distância de meia dúzia de degraus, há uma barbearia que até se pode confundir com sala de estar, mas onde o aroma a café pode perfeitamente embalar uma mudança de visual. A Baioque é ambivalente e foi buscar o nome a um tema de Chico Buarque, numa casa onde a música está sempre presente.
"Há muito tempo que existe esta ligação das barbearias à cerveja, até mesmo a bebidas espirituosas, mas essa não era a associação que queríamos", começa por explicar Catarina Craveiro, proprietária do espaço juntamente com Fábio Oliveira, a costela brasileira desta sociedade, que também tem romance à mistura. A história é fácil de contar: conheceram-se do outro lado do Atlântico, em São Paulo, e na hora de escolherem um hemisfério para se fixarem, o de cá prevaleceu. E mais do que pentes, lâminas e tesouras, foi mesmo a paixão pelo café a promover a sintonia.
Do lado de Fábio, o gosto por barbearias clássicas assentou que nem uma luva nesta zona da cidade. Na Baioque – tema de 2005 onde Buarque mistura dois registos sonoros antagónicos, o rock e o baião –, todo o mobiliário que vemos foi repescado em lojas de segunda mão, à excepção das cadeiras reservadas aos fregueses, de estética retro mas novinhas em folha. O conforto é a prioridade, mas o impacto visual vem logo a seguir. Há dandies e sereias, evocações de ícones como Ayrton Senna e Muhammed Ali.
Quanto ao serviço propriamente dito, está por estes dias nas mãos de Fátima Silva e Tati Garcia, duas barbeiras num universo dominado por homens. Entre os serviços rápidos e a clientela que não se importa de demorar entre toalhas quentes – e quem sabe uma bebida –, são elas que se chegam à frente. Fazer a barba à navalha custa 20€, o corte de cabelo sai por 24€. O combo dos dois serviços fica por 40€. Também aqui o estilo é clássico. O corte à tesoura é a especialidade da casa e caso entre alguém a querer um look à James Dean, também se faz.
Mas antes de chegar a vias de facto nestas poltronas, há que passar pelo café, sempre devidamente musicado pelo gira-discos de serviço. É aí que se serve o tão apregoado café, preparado com grãos vindos do Brasil, claro, mas também do Perú, da Colômbia e da Papua Nova Guiné. Há também cerveja artesanal da Dois Corvos e as garrafas da Aquela Kombucha, vindas directamente do Porto. Para comer, o menu apresenta aquilo a que os proprietários chamam "cozinha afectiva". Pode sempre contar com bolos caseiros, pão de queijo no capricho e ainda com outros êxitos de pastelaria outonal, como os rolos de canela ou cardamomo.
Está visto que a barba e o cabelo não são os únicos motivos para fazer uma visita à Baioque. A barbearia pode ser o prato principal, mas ninguém o vai impedir de saltar directamente para a sobremesa.
Avenida João XXI, 20 (Areeiro). 93 322 6350. Ter-Sex 10.00-19.00, Sáb 10.00-17.00 (barbearia); Ter-Sex 09.00-18.00, Sáb 09.00-17.00 (cafetaria)
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