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“Está (per)feito. Camané, estamos todos arrepiados com isto, pá. Isto está uma grande gravação, pá. Isto está uma grande interpretação”, diz José Mário Branco, na abertura de Camané Ao Vivo no CCB – Homenagem a José Mário Branco. Oficialmente, é um dos dois momentos do álbum, gravado a 21 de Março deste ano no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém e editado na sexta-feira, 29 de Novembro, em que ouvimos o “professor”, como lhe chama Camané. O fadista discorda. “Ele ouve-se no disco todo”.
O concerto, inserido no festival Belém Soundcheck, era algo que Camané ainda não tinha feito, mas já andava com vontade de fazer: 90 minutos dedicados à música de José Mário Branco. A maior parte tinha sido feita à medida para ele, todavia algumas tinham sido cantadas pelo próprio José Mário, e ouvidas pelo fadista, muito antes de se conhecerem.
O cantor não sabe precisar quando foi apresentado pela primeira vez ao homem que viria a dedicar-lhe mais de duas décadas da sua carreira, mas lembra-se que “estavam ele e o Carlos do Carmo, no Bairro Alto”. Camané devia estar a sair de O Faia, a casa fundada por Lucília do Carmo, onde ele cantava e a companheira de José Mário Branco, Manuela de Freitas, “ia muitas vezes, com umas amigas”. Mais tarde, em 1994, voltou a encontrar o casal “numas sessões de fados n’A Comuna”. Foi aí que começaram a “falar um pouco mais” e Camané o convidou para produzir o seu primeiro álbum. “Não sabia se ia aceitar”, confessa.
Não só aceitou como foi o começo de uma parceria que se prolongou por mais de duas décadas. Durante esses anos, Manuela Maria de Freitas compôs poemas e o companheiro escreveu dezenas de músicas para ele, além de lhe ter produzido todos os discos. E alguns dos temas que o professor fez para Camané, já estão “registados como fados tradicionais”, gaba. “O José Mário Branco adorava fado. Lembro-me de ficarmos horas a fio no carro, a ouvirmos fado. O Alfredo Marceneiro, a Maria Teresa de Noronha, o Fernando Maurício…”
O fado de Camané também é o fado de José Mário Branco
Desde o lançamento de Uma Noite de Fados, em 1995, que Camané conta como o primeiro álbum, até ao arrepiante Camané Canta Marceneiro, de 2018, todos os seus discos foram produzidos por José Mário Branco. Aliás, foi mais do que um produtor: escolhia fados, poemas e músicos, dizia-lhe que palavras enfatizar quando a canção estava pronta; às vezes, Camané achava que um take não tinha ficado perfeito, no entanto José Mário Branco convencia-o de que “estava feito”, que era aquela interpretação que tinha de entrar, conta.
A relação entre ambos ficou documentada em Fado Camané (2014). Há uma década, a longa-metragem de Bruno Almeida acompanhou-os em estúdio, e as faixas que abrem e encerram Camané Ao Vivo no CCB – Homenagem a José Mário Branco foram tiradas dessas sessões. Nelas, ouvimos a voz de José Mário Branco – é a primeira coisa que se ouve no disco; a penúltima. José Mário Branco pergunta: “Arriscamos?” Camané responde: “Arriscamos”. E acaba.
Pelo meio, ouvem-se fados tradicionais e compostos por José Mário Branco, muitas vezes com poemas de Manuela de Freitas; mas também marchas que fez para Camané e umas quantas que o próprio cantou. Há ainda canções icónicas de José Mário, como “Emigrantes da quarta dimensão (carta a J.C)”, “Inquietação” ou “Queixa das Almas Jovens Censuradas”. A acompanhá-lo estão Carlos Manuel Proença (viola de fado), José Manuel Neto (guitarra portuguesa), Alexandre Frazão (bateria), Mário Laginha (piano), Paulo Paz (contrabaixo), Ana Filipa Serrão (violino), Joana Cipriano (viola) e Martin Henneken (violoncelo), António Quintino e Tó Trips (guitarras eléctricas).
E José Mário Branco. “Foi um grande professor”, reconhece. “Aprendi muito com ele, e ainda hoje o transporto comigo. Sempre que canto, está lá, estão lá as canções dele”, reforça. “O José Mário Branco ouve-se em tudo o que faço.” Vai ouvir-se sempre.
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