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21 obras do pintor italiano serão apresentadas na Igreja de São Roque em forma de Quadros Vivos. Parámos para ver.
É muito raro ter a oportunidade de ver uma obra de Caravaggio, o apelido adoptado por Michelangelo Merisi (1571- 1610) em homenagem à terra natal da sua família. Em todo o mundo existe cerca de uma centena de obras originais, grande parte em Itália e o restante em colecções espalhadas pelo globo. A maior colecção do mundo tem apenas seis quadros e pode ser vista na Galleria Borghese (e a pedido), em Roma. Portanto, enquanto não acontecer um empréstimo a um museu português, vai ter mesmo de esperar para ver.
O pintor italiano, um dos precursores da pintura barroca, chegou a ser criticado no seu tempo por escolher prostitutas e mendigos como modelos, com todos os seus defeitos e particularidades, para retratar temas e personagens bíblicos. Uma forma de emprestar um realismo mais evidente aos seus quadros, na sua maioria representações do Antigo e Novo Testamento. A rudeza destas representações era também acentuada através da técnica, com intensos contrastes de luz e zonas escurecidas que emprestam ainda mais realismo aos óleos sobre tela, uma tendência que ficou conhecida como tenebrismo. Este é o curso intensivo de Caravaggio, porque o espectáculo segue nas próximas linhas.
O encenador Ricardo Barceló inspirou-se no trabalho de quadros vivos da companhia romana Ludovica Rambelli (que em Abril passou por Aveiro, Fundão e Santarém) para levar à Igreja de São Roque 21 obras de Caravaggio, mas sem tintas. São quadros vivos, traduzido do francês “tableaux vivants”, um género que esteve muito em voga entre 1830 e 1920. Performances compostas por um elenco de personagens que representava, em palco, cenas da arte, literatura, da história ou da vida quotidiana. Quando o pano subia, ficavam estáticos e em silêncio durante cerca de 30 segundos para deixar viver a encenação, a pose, o traje, a maquilhagem, a iluminação e, muito importante, a expressão facial dos modelos. Também era costume a encenação ser acompanhada de uma música ou de um poema.
Na Igreja de São Roque é com tudo isto que pode contar. A dramatização de Barceló recria em palco uma sequência de obras de Caravaggio que se vão construindo e desconstruindo ao som do famoso Requiem de Mozart. E tal como nos quadros do pintor italiano, a luz terá um papel principal de forma a emular os efeitos luminosos característicos da sua obra. Madonna di Loreto (original na Igreja de Sant’Agostino, Roma), A Anunciação (Museu de Belas Artes, Nancy) e a Flagelação de Cristo (Museu de Capodimonte, Nápoles) são apenas três das cenas que serão representadas na Igreja de São Roque em oito datas.
O primeiro espectáculo está marcado para este domingo às 21.30 e seguem-se os dias 8, 9, 10,11,12, 24 e 25 de Maio, sempre à mesma hora, com excepção dos dias 11 e 25 deste mês quando as portas abrem também às 19.00. A entrada custa 15€ e inclui um catálogo das obras dramatizadas. O elenco é composto por Ana Cris, Bárbara Cordeiro, Daniela Serra, Jan Gomes e Óscar Silva e cada performance tem uma duração de 60 minutos.
Igreja de São Roque. Largo Trindade Coelho. Dom 21.30