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Acabou o pára-arranca. Depois de uma abertura intermitente, é de vez que, este fim-de-semana, as Carpintarias de São Lázaro são devolvidas à cidade, agora enquanto pólo de criação multidisciplinar e contemporâneo. São uns valentes 1600 metros quadrados, repartidos por três pisos, que vão passar a albergar projectos de áreas como as artes visuais, a música, o teatro, a dança, o cinema e a gastronomia.
Demorou até fazer renascer das cinzas esta antiga carpintaria, junto ao Martim Moniz, onde a matéria-prima deixou de ser a madeira, para dar lugar à criatividade. Foi em 2014 que, por meio de um concurso público, a Câmara Municipal de Lisboa entregou a gestão do espaço à Associação Cultural e Recreativa das Carpintarias de São Lázaro. A partir daí “foi meter mãos à obra”, conta-nos Fernando Belo, um dos directores do projecto, ainda no meio dos últimos retoques no edifício. “Tivemos de perceber o que podíamos fazer aqui – tanto ao nível da arquitectura como ao nível da programação.”
O primeiro contacto com o público foi em 2017, a propósito da instalação Show Room, dos artistas cubanos Los Carpinteros, inserida na Lisboa – Capital Ibero-Americana. “Foi um primeiro contacto importante, para as pessoas perceberem que isto ia mesmo ser um espaço para a cultura, não era nenhum hotel”, explica. Voltaram a fechar portas para obras – uma cronologia que se revelou mais longa do que o suposto. “Agora que estamos prontos, queremos que este seja um espaço polivalente, permeável a todas as formas de arte contemporânea. E há dois aspectos fundamentais aqui: a transversalidade e a versatilidade, para conseguirmos transformar um só espaço em múltiplos”, afirma Alda Galsterer, também coordenadora da Associação.
A ideia é que haja uma contaminação de umas áreas para as outras – se houver uma performance programada e, na sala ao lado, estiver patente uma exposição, os espectadores acabam por ver ambas. “Estamos a criar um caldo de cultura em desenvolvimento com este cruzamento”, refere Fernando, assegurando que querem “ser complementares à oferta cultural que a cidade já oferece.” As Carpintarias de São Lázaro arrancam com programação própria e, futuramente, juntam-lhe projectos de terceiros, “que muitas vezes não têm espaço expositivo – portanto será um local de oportunidades”, afirma Alda. “Nao temos uma perspectiva nada elitista, queremos chegar a todos os públicos – desde o especializado às famílias, aos turistas, às comunidades à nossa volta.”
A soma de todas as partes
A intervenção no espaço não foi drástica. O betão continua a ser o elemento predominante, com apontamentos modernos que saltam à vista – é o caso da escadaria branca em caracol que nos leva ao 2.º piso (que serve também de uma espécie de segundo balcão) e ao terraço que oferece vistas deslumbrantes para as colinas da Graça e do Castelo – no Verão haverá cinema ao ar livre por estas bandas.
Descendo ao piso principal, este está preparado para receber um palco, quer para concertos, quer para peças, que juntamente com cortinas amovíveis vão permitir a criação de um auditório acolhedor. O piso inferior será também ele um misto de espaços: uma sala de ensaio mais dedicada à arte performativa; um estúdio de gravação para acolher bandas; os camarins e balneários de apoio aos espectáculos; e, apesar de já ter o ateliê para acolher as residências artísticas, o plano é que nasça ali um pequeno apartamento para o mesmo efeito – Miriam Simum é a primeira residente das Carpintarias.
A partir da festa de reabertura, a ideia é que o espaço abra de quinta-feira a domingo, haverá um valor de entrada, ainda a definir. A programação será divulgada a seu tempo, porque “cada projecto requer a sua atenção própria”. Até lá, os próximos fins-de-semana são de festa e nós dizemos-lhe porquê.
Programa das festas:
Sexta-feira, 25
A grande reabertura começa às 19.00, com a inauguração da exposição “Jeu de 54 cartes”, de Jorge Molder, com o artista a inspirar-se no baralho de cartas francês, constituído por quatro naipes de 13 cartas cada, para apresentar uma série de fotografias: 52 imagens repartidas por quatro naipes: Caras, Mãos, Bocados, Espectros. Pode ver a exposição até 30 de Março, assim que o espaço abrir regularmente. Às 22.00, assista à performance Oumuamua, do artista Jonas Runa, que veste um fato de luz criado em colaboração com a designer Alexandra Moura.
Sábado, 26
A Cozinha Popular da Mouraria anda à volta com os tachos no sábado e domingo (Sáb 12.00-23.00; Dom 12.00-15.00) para servir refeições aos visitantes no âmbito do projecto A Cozinha dos Vizinhos, uma forma de envolver a comunidade local. Mais à noite, às 21.30, o projecto A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria celebra o seu 8.º aniversário com uma performance-vídeo – o realizador Tiago Pereira e o músico Sílvio Rosado apresentam um filme montado em tempo real, onde se vê uma Lisboa de bairros e culturas.
Domingo, 27
No domingo é apresentada a primeira residência artística das Carpintarias – um projecto com apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. A artista em residência, Miriam Simum, apresenta um projecto de vídeo-arte durante um Open Studio (12.00-20.00), onde abre as portas ao seu trabalho na área do desenho, vídeo e performance.
Dias 2 e 3 de Fevereiro
Depois de entregues os galardões do concurso gastronómico Lisboa à Prova – avaliados em um, dois e três Garfos – é hora de provar algumas das especialidades de restaurantes vencedores, como é o caso do Faz Figura, Zazah, Epur, Clube Lisboeta ou Bastardo. As Carpintarias recebem nestes dois dias (12.00-23.00; 5€) a Mostra dos Premiados, sendo que cada entrada inclui uma degustação e uma prova de vinhos.